sábado, 25 de dezembro de 2010

Armstrong e o Pai Natal

As palavras dos outros...

POEMA DE NATAL
Hoje é dia de Natal.
O jornal fala dos pobres
em letras grandes e pretas,
traz versos e historietas
e desenhos bonitinhos,
e traz retratos também
dos bodos, bodos e bodos,
em casa de gente bem.
Hoje é dia de Natal.
- Mas quando será de todos?
Sidónio Muralha
E, a propósito de pobres, bem como do aproveitamento político que destes se faz, convido à leitura de Pobres é o que está a dar, de Manuel António Pina: aqui.




sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Velhas técnicas... renovados encantos...

É velha a notícia, sim, e mais velha ainda a técnica japonesa de contar histórias da tradição oral: kamishibai.
Vejam como este contador de histórias se dedicou a renovar a velhinha tradição e como, por esse processo, consegue despertar o entusiasmo de todo um vasto auditório...  


terça-feira, 30 de novembro de 2010

Língua Portuguesa e Fernando Pessoa...

«A minha pátria é a língua portuguesa» é afirmação, sobejamente conhecida, de Fernando Pessoa; descontextualizada, obviamente.
Estive há dias no II Congresso da Língua Portuguesa, realizado ao longo de dois intensos dias, no Instituto Piaget de Almada
Vindos dos quatro cantos do Mundo da Lusofonia, escritores, jornalistas, sociólogos, cientistas, professores, políticos, economistas... integraram os diversos painéis em que se debateu a diversidade e universalismo da língua, a sua difusão nos media e no ciberespaço, o seu uso nos grandes espaços linguísticos e económicos, especificando-se o seu valor económico, o seu peso na Ciência e na Literatura, os seus poetas, o seu ensino... venturas e desventuras. E o acordo ortográfico foi repetidamente citado, a talho de foice, ora contra ora a favor, evidenciando-se que este se vai tornando mais consensual. 

Eis o texto de Fernando Pessoa de onde foi extraída aquela citação (com referência ao Padre António Vieira), tal como Pessoa o escreveu, respeitando as regras ortográficas do seu tempo - diferenças que não afectam a nossa compreensão.
(Faz hoje 75 anos sobre a sua morte.) 
"Não chóro por nada que a vida traga ou leve. Há porém paginas de prosa que me teem feito chorar. Lembro-me, como do que estou vendo, da noute em que, ainda creança, li pela primeira vez numa selecta, o passo celebre de Vieira sobre o Rei Salomão, "Fabricou Salomão um palacio..." E fui lendo, até ao fim, tremulo, confuso; depois rompi em lagrimas felizes, como nenhuma felicidade real me fará chorar, como nenhuma tristeza da vida me fará imitar. Aquelle movimento hieratico da nossa clara lingua majestosa, aquelle exprimir das idéas nas palavras inevitaveis, correr de agua porque ha declive, aquelle assombro vocalico em que os sons são cores ideaes - tudo isso me toldou de instincto como uma grande emoção politica. E, disse, chorei; hoje, relembrando, ainda chóro. Não é - não - a saudade da infancia, de que não tenho saudades: é a saudade da emoção d'aquelle momento, a magua de não poder já ler pela primeira vez aquella grande certeza symphonica.
Não tenho sentimento nenhum politico ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriotico. Minha patria é a lingua portuguesa. Nada me pesaria que invadissem ou tomassem Portugal, desde que não me incommodassem pessoalmente. Mas odeio, com odio verdadeiro, com o unico odio que sinto, não quem escreve mal portuguez, não quem não sabe syntaxe, não quem escreve em orthographia simplificada, mas a pagina mal escripta, como pessoa própria, a syntaxe errada, como gente em que se bata, a orthographia sem ípsilon, como escarro directo que me enoja independentemente de quem o cuspisse.
Sim, porque a orthographia também é gente. A palavra é completa vista e ouvida. E a gala da transliteração greco-romana veste-m'a do seu vero manto régio, pelo qual é senhora e rainha."

O iPad da Apple chegou até nós





É hoje notícia: a Fnac e a Worten começaram a vender o iPad da Apple.
Sabe-se que permite escutar rádio e aceder à Internet, bastando escolher o modelo pretendido. 
Contam que já fez diminuir a venda de portáteis, por ser pequeno e leve. Noticiam que os preços variam entre €499,00 e €799,00 e que não se registam filas, nos pontos de venda. Anunciam que os meios de comunicação social preparam conteúdos (pagos) para o iPad e que esperam aumentar, assim, o número dos seus leitores.
Não há que temer o fim dos livros ou dos jornais. Todos os suportes, afinal, concorrem para um mesmo objectivo: acesso a informação, promoção da leitura. 
Segundo os editores, um e-book tem um custo de produção menor do que o livro em papel, excepto quando inclui conteúdos e actividades que implicam o trabalho de uma equipa multidisciplinar - uma tendência que se expande. 
Acrescidos aliciantes para captar jovens leitores... 

A notícia está aqui.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Música e poesia

Fui revisitar a voz de um conhecido cantor do país vizinho: Paco Ibañez. Vi-o por segundos no documentário José e Pilar e ficou-me a vontade de o ouvir mais longamente... 
Lúcido e irreverente, cada canção sua é um poema de intervenção. Mais de quarenta anos a cantar... e só a idade mudou...
 



quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Cinema: José e Pilar

O filme José e Pilar abriu o DocLisboa 2010, teve uma ante-estreia a 16 de Novembro, no dia do 88º aniversário de nascimento de José Saramago e está desde então em cartaz, em diversas salas de cinema nacionais. 
Vi-o há dois dias, sem um desvio do olhar... 
Senti-me emocionada pela ilusão de penetrar no quotidiano do casal; pela simplicidade com que nos é relatado o seu ritmo intenso de vida; pela dimensão humana de cada um, Homem e Mulher..; pelo amor que ressalta daquela união, finda mas infinita... Pela viagem a Lanzarote e a A Casa...; pela beleza da fotografia e da música do vento... Pela tenacidade com que José concluiu A viagem do Elefante e com que Pilar terminou a respectiva tradução, no mesmo dia... Por me identificar com todo aquele desejo de viver a vida, aproveitar todo o tempo disponível..., repousar e prosseguir, sem cessar... Por concordar com tantas das posições ali assumidas e defendidas...
Saí com desejo de rever o filme... e, sobretudo, de conhecer melhor a obra do nosso Nobel de Literatura
José Gonçalves Mendes conviveu com José Saramago e Pilar del Rio durante quatro anos e a gravação de 240h deu lugar a este documentário com um décimo de duração - realista, poético, sóbrio, imperdível.

domingo, 21 de novembro de 2010

Arte...

Matisse, pintor francês (1869-1954) - visto por Philip Scott Johnson, através da sua arte digital.


quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Com vários livros debaixo de olho...

Foi ontem, em Sesimbra. A Comunidade de Leitores adolescentes reuniu-se pela primeira vez.
Pela manhã, só havia notícia de três inscrições: metade do mínimo previsto!.. Mesmo assim, fui. E à hora marcada, dez jovens se apresentaram no local combinado: uma aluna de 7º ano e nove do 8º, de três turmas diferentes. Por acaso, cinco rapazes e cinco raparigas.
Vejam bem se eu tivesse desanimado e desistido!...
Calculem como fui apanhada de surpresa!...
Começámos pelas apresentações. Pelos objectivos desta actividade. E pelo perfil de leitor de cada um...
Um grupo muuuuuuuito heterogéneo...
Há os que gostam de aventuras, de Banda Desenhada e humor; os apaixonados pelo romance fantástico e os que optam por biografias e textos realistas, nomeadamente o romance histórico; há mesmo quem eleja os autores clássicos... e os amantes da poesia. E lêem!...  Livros e autores que souberam nomear: O planeta branco, de Miguel Sousa Tavares; a História de uma alma, de Álvaro Magalhães; os 7 volumes de Harry Potter...; O Diário de um banana ou livros de José Rodrigues dos Santos...; há mesmo quem esteja a ler o Dom Quixote de Cervantes!...
Com a apreensão de quem já não sabia se fizera uma boa escolha, apresentei-lhes então os livros cuja leitura eu lhes iria propor... e, para meu alívio, senti que a motivação foi crescendo...
Nova surpresa: três quartos de hora depois, tivemos de acabar a sessão que duraria 90 minutos. O que me impediu de concluir o trabalho: a votação dos livros preferidos..., a decisão do 1º livro a lermos...
Solução de recurso: cada um concluir a sua leitura em curso e divulgar esse livro na próxima sessão.
Uns correram para a camioneta; outros para o Clube de Teatro ou para o Clube de Vólei... Quem não tinha pressa correu para a mesa dos meus livros, folheou-os, apontou títulos... Querem ir à Biblioteca Escolar ou à Biblioteca Municipal requisitá-los... (A Professora Bibliotecária já recebeu pedidos, esta manhã.)
Jovens activos, empenhados...
Um simpático grupo que promete...
Um horário a rever...
Vim satisfeita!




terça-feira, 16 de novembro de 2010

Mar...

Cresci junto ao mar, vivo perto do mar, o meu nome mergulha no mar (Maria... e-por-aí-fora...) O mar evoca em mim sensações, recordações... Fascina-me.
Ora o mar representa muito mais, sabemo-lo: é memória de epopeia histórica, lazer, vida, sustento, energia... por isso mesmo lhe foi dedicado um dia: 16 de Novembro. 
É hoje o Dia Nacional do Mar.
Comemoro-o com este e outros instantes fotográficos... que podem ser vistos aqui e ali...


E comemoro-o com poesia:
Atlântico
Mar,
Metade da minha alma é feita de maresia.
Sophia, Poesia, Caminho, 2007, 6ª edição, p.12


domingo, 7 de novembro de 2010

Gosto de ler...

...como dizem ali ao lado, nuestros hermanos...

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Um livro debaixo de olho...

Trata-se de um novo projecto. Pensado para "gente crescida" do 3º Ciclo.
Primeiro, sonhado...  
Depois, longamente planeado... 
Em seguida, bem acolhido pelos professores responsáveis, tanto na EB 2.3 António da Costa (Almada) como na EB 2.3 Navegador Rodrigues Soromenho (Sesimbra).
Alcançou agora a fase crucial: a divulgação aos seus destinatários.
Uma tertúlia mensal à roda de um dos livros que desperte a atenção e fique debaixo de olho...
Haverá jovens interessados? A motivação será tal que ousem inscrever-se?...
Um grupo de seis: tanto basta para que valha a pena começar. Seis a doze, não mais.
Por enquanto, paira apenas a minha expectativa. E o desejo de fazer parte desta Comunidade de Leitores
Pelos jovens. Para os jovens. 
Claro que estou pronta para o que der e vier... Talvez sim, talvez não... Tudo é possível!
Enfim, um novo desafio em ebulição. 

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Prémio Hans Christian Andersen

No passado dia 19, teve lugar a 1ª edição do prémio Hans Christian Andersen, em Odense, cidade natal do conhecido escritor dinamarquês. 


A vencedora do prémio de Literatura foi J.K. Rowling, a bem sucedida autora britânica dos livros de Harry Potter. Um prémio honroso e de valor pecuniário avultado.


Li os sete volumes da saga deste aprendiz de feiticeiro, à medida que foram sendo publicados. Lia-os pela noite dentro, com um entusiasmo à prova de sono e de cansaço... 
Galgando sofregamente milhares de páginas, vivi aventuras e desventuras, amizades e inimizades, derrotas e vitórias que me tornaram firme aliada de Harry Potter. 


Foram os meus alunos de então que se encarregaram da mediação da  leitura. Deixei-me contagiar. (E o vírus propagou-se...)
A eles agradeço ter enriquecido com Harry Potter a minha galeria de heróis. Entender o papel de J. K. Rowling na promoção da leitura entre os jovens. E a atribuição do prémio.
Admitindo, contudo, que os Contos Imortais de Andersen sobreviverão aos demais... 

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Recomeçar...

Como é bom fruir do sol meigo de Setembro, junto ao mar, sem multidões nem filas!... Como é bom viver alheio à escravatura dos ponteiros do relógio, deixando fluir o tempo ao ritmo da vida...
Como é bom ter tempo para tudo: repouso, tarefas rotineiras, pequenos prazeres de férias e... para a preparação daquele novo projecto em gestação... 
E como é extraordinário, por fim, recomeçar!...

Foi ontem. 
De novo, o Ler a meias...

A excitação dos meninos (agora no 4º ano) foi visível na pequena multidão apinhada junto ao portão da escola, àquela hora, e nas entusiásticas exclamações de alegria ao avistarem-me... 
O portão abriu-se de par em par, ainda eu estava do lado oposto da rua, como se tivesse gritado de longe: 
-Abre-te Sésamo!... 
Mal o transpus, as crianças desabaram sobre mim entre abraços e beijos. Foi difícil alcançar a biblioteca. Quanta saudade!...

Íamos começar daí a instantes. Foram os meninos que abriram a sessão correndo a entregar-me, espontânea e simpaticamente, as suas mensagens: desenhos, uma carta, um postal, um marcador de livros... 
«Bem-vinda!»
Também eu lhes levava uma surpresa: pela 1ª vez, o computador entrou pela biblioteca dentro...
Uma conversa breve, a abrir...

E em seguida, através das imagens de "Eu espero" e do poema de Patrícia Joyce, "Era uma vez um menino", seguimos o fio da vida, com tudo o que a compõe, alegrias e tristezas... e reflectimos sobre a felicidade - que em parte está nas nossas mãos.

Assim ficaram apresentadas as temáticas para este ano lectivo.
...Um início cheio de emoção.

Como é bom recomeçar!...


sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Evocando John Lennon


Evocar John Lennon é recuar aos anos 60, é lembrar os Beatles... No meu imaginário, um momento tão marcante quanto a ida do Homem à Lua ou a Revolução dos Cravos, no nosso país...


John Lennon foi um dos mais criativos músicos britânicos do pop rock. Nasceu a 9 de Outubro de 1940 e foi assassinado a 8 de Dezembro de 1980, em Nova Iorque. Celebrizou-se nos Beatles e fez depois carreira a solo. Foi um activista pelos direitos humanos e pela paz. 
As letras das suas canções continuam pertinentes e actuais. Acabam de ser reeditados os seus êxitos no álbum 

Gimme some truth (Dêem-me alguma verdade - em tradução literal).





Mother


Mother, you had me, but I never had you
I wanted you, you didn't want me
So I, I just go to tell you
Goodbye, goodbye



Father, you left me, but I never left you
I needed you, you didn't need me
So I, I just go to tell you
Goodbye, goodbye

Children, don't do what I have done
I couldn't walk and I tried to run
So I, I just go to tell you
Goodbye, goodbye

Mamma, don't go
Daddy, come home

(repeat 9 more times)




«A criança,
Toda a criança,
Seja de que raça for,
Seja negra, branca, vermelha, amarela, 
Seja rapariga ou rapaz.
Fale que língua falar,
Acredite no que acreditar,
Pense o que pensar,
Tenha nascido seja onde for,
Ela tem direito...
(...)
Depois da hora radial do parto, 
A criança deverá receber
Amor,
Alimentação,
Casa,
Cuidados médicos,
O amor sereno de mãe e pai.
(...)»
Matilde Rosa Araújo, Os direitos da criança



domingo, 3 de outubro de 2010

A República em Almada, um dia antes...

A 4 de Outubro, em Almada, foi proclamada a República. Faz 100 anos.
(Aliás, Almada foi, em várias datas assinaladas pela História de Portugal, "a terra do dia anterior". Por exemplo, também no dia 23 de Julho, na Cova da Piedade, a vitória das tropas liberais sobre as absolutistas ocorreu na véspera da vitória final alcançada em Lisboa, a 24 de Julho de 1833...)


Em jeito de homenagem à República, divulgo este apontamento histórico, objectivo e sintético - um powerpoint sacado da NET:


domingo, 26 de setembro de 2010

A propósito de leituras... e de um novo projecto...

Vivi permanentemente rodeada de livros e sempre li, li... Mas confesso que, anos a fio, li sobretudo muitas prosas bárbaras de crianças e jovens. Li principalmente muitas histórias com vista a escolher as que queria dar a ler aos meus alunos e muitas outras com o objectivo de seleccionar alguma para elaborar um determinado teste ou uma ficha de trabalho… Em suma, privilegiei a literatura para a infância e juventude. E fiz também leituras para minha informação e estudo. Ou leituras de clássicos e modernos, a meu bel-prazer. Apesar disso, estou muito longe de ter lido tudo o que gostaria de ler.

Reconheço que nunca fui o que vulgarmente se chama uma leitora compulsiva. Esta designação é geralmente associada a auto-elogio, mas tudo o que seja compulsivo me parece dependência. E, pelo contrário, sinto orgulho por considerar não ser dependente de coisa alguma. E por crer que sempre soube partilhar o meu tempo entre obrigações e devoções (embora umas vezes melhor do que outras), incluindo-se, entre estas, a leitura.


Quereria ter lido muito mais, já disse. Mas não esgotei o meu tempo e continuo afincadamente nesse propósito. Para mais, gosto de ler de um fôlego, quase sem interrupções, o que exige que dedique à leitura um tempo prolongado e seguido, o que nem sempre é fácil, mas tenho tentado agora. Ou não fossem férias! 

Enfim, tempo de preparação de um novo ano… e também de um novo projecto: “Um livro debaixo de olho...”, isto é, uma comunidade de leitores para jovens do 3º ciclo (7º e 8º anos, para começar).
Um projecto que me mantém ultimamente retirada do mundo…, junto ao mar.

Uma experiência para começar em breve, neste novo ano que há pouco se iniciou…
(Depois conto!)

Os meninos vão para a escola...

“Os meninos vão para a escola”- assim lhes chamam.
Claro, este não é o seu nome erudito, em latim, nem sei mesmo se a designação será usada em todo o país… Segundo consta, elas florescem por esta altura quando, findo o Verão, os meninos retornam à escola. E o povo, atento à natureza, é hábil a nomear tudo aquilo que nos rodeia, não se preocupando muito com pormenores tais como recorrer a uma frase para denominar flores, em vez de usar um único nome-substantivo, como é habitual…
Esta associação, a meu ver, é clara: o reino cor-de-rosa de meninas e meninos não se faz só de tempo de lazer; engloba o tempo da sua educação: trabalhar, aprender; cumprir regras e horários ao ir/voltar para a escola. Aquela flor rosada, singela, que por coincidência floresce por esta altura e em seguida adormece para reflorir um ano mais tarde, ganhou o nome da grande marcha dos meninos nesta estação. Ganhou esse simbolismo.
Inicia-se mais um ano. Lectivo. Meses em que serão vividas inseguranças e confortáveis rotinas, entusiasmos e cansaços, descobertas e emoções, tristezas e alegrias, facilidades e dificuldades, aprendizagens dos currículos (sem esquecer o currículo oculto)…
Chegou o tempo de aprender a conviver. Aprender a aprender. Descobrir. Saber.
Enfim, tempo de crescer.
Que os meninos que vão para a escola possam crescer, aprendendo a vencer desafios; aprendendo a ser felizes!

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Citação

Henri Cartier Bresson afirmou, certa vez: 


"Fotografar é prender a respiração quando todas as faculdades convergem para a realidade fugaz. É neste instante que apoderar-se de uma imagem se torna um prazer físico e intelectual.”


Fotógrafo: Joaquim Chaves

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Voltam a andar as Palavras Andarilhas

Aí estão elas de novo, as Palavras Andarilhas, na Cidade dos Contos (em Beja), a 16, 17 e 18 de Setembro...
Já há programa (ainda que provisório). 
As inscrições poderão ser feitas até 13 de Setembro.


Um excelente ponto de encontro!
Para saber mais, anda até aqui.

Aqui vou eu de novo até ao mar...



Here I go out to sea again
The sunshine fills my hair
And dreams hang in the air
Gulls in the sky and in my blue eyes
You know it feels unfair
There's magic everywhere
Look at me standing
Here on my own again
Up straight in the sunshine

No need to run and hide
It's a wonderful, wonderful life
No need to laugh or cry
It's a wonderful, wonderful life

The sun is in your eyes
The heat is in your hair
They seem to hate you
Because you're there
And I need a friend, 
oh I need a friend
To make me happy
Not stand here on my own
Look at me standing here on my own again
Up straight in the sunshine


No need to run and hide
It's a wonderful, wonderful life
No need to laugh or cry
It's a wonderful, wonderful life

I need a friend, oh I need a friend
To make me happy, not so aloooooone
Look at me standing, here on my own again
Up straight in the sunshine

No need to run and hide
It's a wonderful, wonderful life
No need to laugh or cry
It's a wonderful, wonderful life.

Wonderful life
Wondeful life...

Para mãos habilidosas...

Técnica origami: uma folha de papel, dobras bem vincadas e medidas rigorosas... e a obra vai crescendo...
A prática leva à perfeição.
Uma exigência: paciência.


Assim nasce um mini-livro origami, passo a passo.


domingo, 25 de julho de 2010

Brasil: vários olhares, uma voz...

Julho trouxe festa... 
Impossível é estar aqui e ali, ao mesmo tempo..., e muito difícil é optar!
Findo o Festival de Teatro, em Almada decorreu a V Mostra de Cinema Brasileiro. Meia dúzia de filmes de géneros diversos: dramas e comédias; ficção baseada em factos reais  e documentários - depoimentos de gente que sobrevive e resiste. A custo. 
Uma realidade crua: habitar um imenso prédio superlotado e claustrofóbico, a um quarteirão da praia de Copacabana; nascer pobre e crescer num internato público desumanizado... e alcançar êxito...; vivenciar o crime e a violência na rua...  
Filmes tais como Edifício Master, 2002; O contador de histórias, 2009; Contra todos, 2004...


No vídeo de Diana Krall, a cantora evoca o "rapaz de Ipanema". A excelente fotografia revela-nos um Rio de Janeiro cheio de belezas naturais e de prazeres, particularmente vividos na praia de Ipanema, bem como o  património construído de uma grande metrópole. Na outra margem, Niterói exibe orgulhosamente o seu Museu de Arte Contemporânea, obra do arquitecto Oscar Niemeyer, hoje com 102 anos.
Um Brasil desenvolvido; um apetecido postal turístico...
Um quotidiano a que queremos ter direito.


Diana Krall passou hoje por Cascais... Podemos ainda imaginar a sua voz quente e sensual ecoando na Cidadela...


sábado, 24 de julho de 2010

Entrevista a Alberto Manguel

Alberto Manguel é ensaísta, escritor, tradutor… e, sobretudo, leitor. Quando era adolescente, foi anagnosta: leu em voz alta para Jorge Luis Borges, que cegara. E fê-lo durante 17 anos, experiência esta que relatou na sua biografia Con Borges (2004).
Nasceu em 1948, em Buenos Aires. Tem dupla nacionalidade: argentino e canadiano, por opção. Vive actualmente em França, onde tem uma vasta biblioteca pessoal de cerca de 30.000 títulos, num antigo mosteiro.
Recentemente, de passagem por Lisboa, deu uma entrevista ao Público, de que destaco algumas passagens, relacionadas com os leitores e o acto de ler, os livros e os ebooks… Estas que se seguem:

A sua obra está praticamente toda ela dedicada ao lado maravilhoso da leitura, do acto de ler. A sua paixão pela leitura vem de onde? Nasce-se leitor ou uma pessoa torna-se leitora?
Penso que somos animais leitores. Vimos ao mundo com uma certa consciência de nós próprios e do que nos rodeia e temos a impressão de que tudo nos conta histórias: a paisagem, o rosto dos outros, o céu; em tudo encontramos linguagem. Tentamos desentranhá-la, tentamos lê-la. Nesse sentido, não podemos existir enquanto seres humanos sem a leitura. Inventámos a linguagem escrita, a linguagem oral, para tentarmos comunicar essa experiência do mundo, para nos contarmos histórias e através delas, falar dessa experiência.
No meu caso, o conhecimento do mundo passou sempre pelos livros. Tive uma infância um pouco particular: o facto de o meu pai pertencer ao corpo diplomático fez com que viajássemos muito e que eu não tivesse nenhum sítio onde me sentisse em casa. A minha casa estava nos livros. Regressar à noite aos livros que conhecia, abri-los e constatar com imenso alívio que o mesmo conto continuava na mesma página, com a mesma ilustração, dava-me uma certa segurança e um certo sentido do lar.


Mas nem toda a gente é leitora...
Nem toda a gente é leitora, mas acho que, no fundo, é porque as circunstâncias fazem que não sejamos todos leitores. A possibilidade está em todos nós. O que quero dizer é que suponho que há pessoas que nunca se apaixonam, suponho que há pessoas que nunca viajam, suponho que há pessoas que não têm uma certa experiência do mundo. E da mesma maneira, existem muitas pessoas que não são leitoras. Mas a possibilidade está dentro de nós.
A proporção de leitores numa dada sociedade nunca foi muito grande – seja na Idade Média, seja no Renascimento ou no século XX. Os leitores nunca foram a maioria. Se, por exemplo, todos os espectadores de um único jogo de futebol comprassem um livro, uma tarde, esse livro passaria a ser o best-seller mais espectacular da História da literatura.  
(…)

Estamos a ler de forma diferente?
Penso que o que está a acontecer, como acontece em tempos de crise, não é o facto de termos passado a ler de forma diferente, mas de estarmos a tornar-nos mais conscientes do que significa ler, ser leitor, do que é a literatura. Estamos a interrogar-nos sobre essa actividade simplesmente porque ela está ameaçada. Antes de o urso polar entrar na lista das espécies em perigo, ninguém falava dos ursos polares – não era um tema de conversa corrente [ri-se]. Surgiu porque os ursos polares estão em perigo. É porque os leitores sentem um perigo que começaram a reflectir sobre o que significa o acto de ler.

(…) O que perdemos quando passamos do livro em papel para o ebook?
(…) Se eu tivesse de passar seis meses no Pólo Norte, dava-me muito jeito levar um livro electrónico – se houvesse baterias que durassem seis meses. O problema não está na invenção de novos suportes para a leitura. Surge quando esses suportes são promovidos por razões puramente económicas e nos tentam convencer a substituirmos tudo por esse único suporte. 
A indústria faz constantemente isso e é o que está a acontecer com os livros. Existe actualmente nos Estados Unidos um movimento para acabar com os livros em papel nas bibliotecas das universidades. São tontices: o problema não tem a ver com a electrónica nem com o livro impresso, tem a ver com um comerciante ganancioso que quer vender computadores.

(…)

Não sente frustração quando pensa que há jóias literárias que lhe passam ao lado?
Não. Quando era adolescente, angustiava-me pensar que nunca iria poder ter nem ler todos os livros que queria. Mas essa angústia passa-nos e transforma-se numa espécie de alívio [ri-se]. É óbvio que não vou ler tudo o que é publicado, é óbvio que nem vou ter conhecimento de tudo aquilo que é publicado. Aliás, prefiro concentrar-me em certos livros.
O tipo de leitura que pratico agora, nesta idade – embora continue a ler algumas coisas novas – é a releitura. Por exemplo, há já mais de dois anos que leio um canto de Dante todas as manhãs, antes de tomar o pequeno-almoço [ri-se] – com um comentário diferente, tomando notas. Já completei esse percurso umas dez vezes. É um tipo de leitura que faço por prazer – e que me parece infinito. Nunca vou conseguir saber o suficiente acerca da "Divina Comédia", mas felizmente, já não tenho aquela angústia. É como pensar em sítios que nunca visitarei, pessoas que nunca conhecerei. Que alívio! [ri-se]
(…)

Há umas gerações uma pessoa não erudita, mas culta, tinha a obrigação de ter lido certos livros. Hoje, essa ideia parece ter sido esquecida.
A questão é que deixámos cair a noção de “ser culto”. Agora, não passa pela cabeça de ninguém dizer que uma pessoa é culta ou não é culta. Como já disse, há uma perda de prestígio do acto intelectual. Hoje, uma pessoa pode perfeitamente admitir que é estúpida, que passa o seu tempo a jogar jogos de vídeo ou que só se interessa pela moda. Não vai chocar ninguém. Antes, tínhamos vergonha de dizer coisas dessas, mas hoje é realmente espantoso ver o número de pessoas adultas que jogam jogos totalmente imbecis.

Há leitores que só querem ler coisas novas.
Mas essa é a tal política do supermercado. Não vamos ao supermercado comprar um produto do ano passado, mas coisas que ainda não passaram do prazo. É o mesmo com os livros: agora, têm um prazo de caducidade. Passadas três semanas, o que não foi vendido desaparece. É uma política muito perigosa.


Mas ler os clássicos na escola continua a fazer sentido? “Os Lusíadas” de Camões, por exemplo.
Claro que continua. Os grandes clássicos não foram escolhidos por ninguém; não há um comité que decide que Homero é importante. O que houve foi cem gerações de leitores que disseram que esse livro é importante. É isso que define o clássico, é a obra que não se esgota junto dos seus leitores. E isso continua a ser importante, embora muitos leitores – e muita gente – não o reconheçam.  
As crianças têm uma imaginação activa, uma inteligência activa. Querem aprender a pensar. (…) Se me confiarem uma turma de crianças, comprometo-me a fazer com que elas leiam Camões com muitíssimo entusiasmo. É preciso dizer-lhes que são inteligentes e que vão conseguir ler essa obra. As crianças adoram palavras complicadas, termos difíceis, histórias onde não se percebe tudo. Mas a indústria não quer isso, quer tornar as coisas mais simples – e então fazem resumos, simplificam, publicam coisas idiotas para crianças e acabam por não publicar nada. Apenas jogos de vídeo.
A nova geração continua a ter gosto pela leitura. Para o ser humano, o instinto de sobrevivência não se resume à necessidade de comer e beber; também inclui a necessidade de pensar. E isso é verdade seja onde for – aconteceu nos campos de concentração, acontece nas favelas mais pobres, acontece nas situações mais extremas. Continuamos a pensar, a criar, a interrogarmo-nos. E temos de lutar por isso. Não somos cegos; podemos dizer que não.
(…)

A leitura e a escrita vão desaparecer? Há quem pense que vamos regressar a uma espécie de tradição oral high-tech, graças a computadores capazes de comunicar através da fala.
A tradição oral não tem nada de mau. O problema é quando a tradição não é oral, mas feita apenas de conversas que nunca chegam a ter lugar. Já eliminámos até os locais onde conversar. Ainda há alguns cafés, mas todos têm televisão, música. E mesmo esses estão a desaparecer.
Nós também iremos provavelmente desaparecer. Mas se sobrevivermos como seres humanos – o que não é seguro – fá-lo-emos com a linguagem escrita, com a linguagem falada e com a linguagem lida. Vamos sobreviver com os nossos livros. Se desaparecermos, os livros também desaparecerão. E no fundo, isso talvez seja uma coisa óptima para o planeta – para as árvores, para as formigas, para os ursos polares...

                                                                 Foto da NET: Biblioteca de Alberto Manguel
Público, 05/07/2010 
Entrevista de Ana Gerschenfeld 
Esta entrevista pode ser lida na íntegra aqui.