sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Será lixo? Será gente?!...

Chego a Lisboa. Desço na última paragem da Av. de Berna e atravesso a pé a Av. da República.
Bem no centro daquele imenso largo inóspito e ruidoso, ladeado pelo intenso tráfego de ambos os sentidos da dita avenida, estende-se por terra uma mancha negra.
Cativa o olhar, aquele monte de trapos lançado sobre paralelipípedos de pedra esbranquiçada.
O que será?... Lixo?... 
Gente!... Homem ou Mulher?, não se distingue. 
Volume sujo e andrajoso; inodoro no espaço aberto; exposto e discretamente encoberto, no meio da praça deserta.
Um sem-abrigo não surpreende. (Mau sinal!) Mas ali? Não optar por um local recôndito, um vão de escada, o recanto de uma sacada?... Ali mesmo?!
Estendo o olhar, alargando o plano. 
Por cima dele, um outdoor enorme que me não prendera a distraída atenção...
Um cartaz de sorrisos prometedores e afetuosos...
Uma mensagem breve.
Um sem-abrigo abrigado na esperança...
"Queremos Lisboa! +Habitada +Viva +Solidária"
Esta não é uma ação de campanha. (Poderia ser, admito.)
Apenas vi. Li.
Sem indiferença.


quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Coincidências...

O caderninho vermelho foi sorteado. Calhou-me a mim.
Eram três iguais, apenas com cores diferentes; pude escolher um deles e não me decidia, por isso propus o sorteio.
- Esquerda ou direita
Sucessivamente, elimina este, elimina aquele... 
- O Vermelho!
O sorteio regozijou quem o deu. Era mesmo aquele que secretamente me destinara! (Mas como havia ainda escolha...)
Coincidências!


Lembrei-me, a propósito, daquele meu aluno que passou todo o 1º Período com falta de material escolar.
Entre as minhas prendas de Natal, uma continha algo que lhe faltava.
Com toda a habilidade de que fui então capaz, no regresso às aulas, pelos Reis, contei o que levava... e contei com a solidariedade generosa e espontânea da gente nova...
Ninguém nomeou alguém a quem dar aquele presente... nem Ninguém afirmou precisar... (Para quê? Todos sabiam!)
Afinal, concordaram em o sortear, cada qual na esperança de que a sorte lhe sorrisse.

Foi tudo feito à vista de todos, um concurso honesto e justo... 
Todos com a emoção costumeira nestas ocasiões ditadas pela sorte.
Eu também, por motivos diferentes...
A sorte foi justa dessa vezpor sorte! 
Nesse dia, foi assim que o acaso, num simples sorteio, ensinou àqueles meninos, melhor do que eu, o valor da solidariedade.
Coincidências!...