segunda-feira, 28 de abril de 2014

Memórias a vogar no cacilheiro...

Num cacilheiro, abordam-me:
- Desculpe, mas a senhora não é a professora Manuela Caeiro?
- Sim...
O rosto era-me familiar. Não admira que não a reconhecesse de imediato: já se passaram tantos anos! (Talvez vinte, trinta?...)
Abriu-se-lhe um sorriso de alegria e os olhos demonstraram visível comoção.
Alice Vieira e eu temos um cantinho no coração desta senhora: associa Rosa, minha irmã Rosa  à memória das nossas aulas de Português...
Ousei dizer-lhe:
- Mas tive a sensação que, ao ler esse livro, eu não conseguia captar a atenção geral da turma! Lembro-me que uma colega minha opinou ser uma obra mais indicada para leitura autónoma... e eu concordei!...
- Mas era a maneira como nos lia!... - E o movimento das mãos parecia rebuscar a memória. - Eu adoro esse livro! Comprei-o... ainda hoje o tenho.
As suas palavras emocionadas transbordavam de afeto pelo livro, pelas aulas...
(Como não ficar, também eu, comovida?)
Fizemos a viagem lado a lado. Falámos ao longo da travessia. Histórias de vida. Histórias da turma; laços de amizade que mantêm vivos; atitudes solidárias em momentos difíceis, entre si. Até hoje!
O barco atracou.
Cada uma foi à sua vida.
Como não ficar a sentir..., a matutar?...
O que melhor plantei entre as crianças foram palavras..., as minhas e as dos escritores... (Saberão hoje alguma coisa de categorias de textos, de conceitos gramaticais? Nem sequer são os mesmos!!!)
O melhor currículo que a escola pode dar aos jovens não será porventura este, o oculto? A integração social, o valor da amizade e da solidariedade...?
Tanto programa, tanto plano, tanta lufa-lufa... e afinal...



sexta-feira, 25 de abril de 2014

Liberdade, segundo Cecília...


«Deve existir nos homens um sentimento profundo que corresponde a essa palavra LIBERDADE, pois sobre ela se têm escrito poemas e hinos, por ela se tem até morrido com alegria e felicidade.
Diz-se que o homem nasceu livre, que a liberdade de cada um acaba onde começa a liberdade de outrem; que onde não há liberdade não há pátria; que a morte é preferível à falta de liberdade; que renunciar à liberdade é renunciar à própria condição humana; que a liberdade é o maior bem do mundo; que a liberdade é o oposto à fatalidade e à escravidão; nossos bisavós gritavam “Liberdade, Igualdade e Fraternidade!”. Nossos avós cantaram: “Ou ficar a Pátria livre ou morrer pelo Brasil!”; nossos pais pediam: “Liberdade! Liberdade! – abre as asas sobre nós”, e nós recordamos todos os dias que “o sol da liberdade em raios fúlgidos – brilhou no céu da Pátria…” – em certo instante.
Somos, pois, criaturas nutridas de liberdade há muito tempo, com disposições de cantá-la, amá-la, combater e certamente morrer por ela.
Ser livre – como diria o famoso conselheiro… – é não ser escravo; é agir segundo a nossa cabeça e o nosso coração, mesmo tendo que partir esse coração e essa cabeça para encontrar um caminho… Enfim, ser livre é ser responsável, é repudiar a condição de autônomo e de teleguiado – é proclamar o triunfo luminoso do espírito. (Supondo que seja isso.)
Ser livre é ir mais além: é buscar outro espaço, outras dimensões, é ampliar a órbita da vida. É não estar acorrentado. É não viver obrigatoriamente entre quatro paredes.
Por isso, os meninos atiram pedras e soltam papagaios. A pedra inocentemente vai até onde o sonho das crianças deseja ir. (Às vezes, é certo, quebra alguma coisa, no seu percurso…).
Os papagaios vão pelos ares até onde os meninos de outrora (muito de outrora!…) não acreditavam que se pudesse chegar tão simplesmente, com um fio de linha e um pouco de vento!…
Acontece, porém, que um menino, para empinar um papagaio, esqueceu-se da fatalidade dos fios elétricos e perdeu a vida.
E os loucos que sonharam sair de seus pavilhões, usando a fórmula do incêndio para chegarem à liberdade, morreram queimados, com o mapa da Liberdade nas mãos!…
São essas coisas tristes que contornam sombriamente aquele sentimento luminoso da LIBERDADE. Para alcançá-la estamos todos os dias expostos à morte. E os tímidos preferem ficar onde estão, preferem mesmo prender melhor suas correntes e não pensar em assunto tão ingrato.
Mas os sonhadores vão para a frente, soltando seus papagaios, morrendo nos seus incêndios, como as crianças e os loucos. E cantando aqueles hinos que falam de asas, de raios fúlgidos – linguagem de seus antepassados, estranha linguagem humana, nestes andaimes dos construtores de Babel…»
Cecília Meireles, Liberdade, in Escolha o seu sonho, Record, Rio de Janeiro, 1964
Queres escutar este texto, em português do Brasil? É aqui.
Imagem retirada da NET, Agrupamento de Escolas de Carnaxide.

terça-feira, 22 de abril de 2014

"Ou isto ou aquilo"

Surpreendem-nos as figuras públicas que expõem desabridamente as marcas progressivas dos seus anos vividos.
Numa sociedade que privilegia a juventude e a beleza, aparentar sê-lo é forte tentação. É forte a pressão. Mas ou se pode ou não. E ou se quer ou não. 
Verdade é que ou se morre jovem, abruptamente... ou envelhecemos, inexoravelmente. 
Ou aceitamos limitações, rugas e cabelos grisalhos (um processo inevitável e natural)... ou disfarçamos afincadamente a idade, recorrendo talvez a soluções de resultado duvidoso...
Dignos de admiração são séniores que se mantêm dinâmicos, com projetos pessoais e sociais, que não se furtam a atividades culturais e desportivas, a convívios, alguns resistindo a dificuldades, acudindo a tudo e todos, exemplos de coragem, verdadeiros super-heróis do quotidiano. 
Somos muitos, cada vez mais. Um problema ou uma mais-valia?


Vi, casualmente, fotos recentes de Joan Baez. 73 anos. Uma vida cheia.
Compositora, cantautora, ativista, pintora. 
50 anos de carreira musical celebrada em 2008. Em 2010, atuou em Portugal, na Casa da Música e no Coliseu de Lisboa.
Forever young? Talvez não.
Cérebro, corpo, emoção...
Sempre bela. 
Ou não?...




quinta-feira, 3 de abril de 2014

Ciências da Leitura, Leituras da Ciência...

Sim, estive lá
O que faz uma aposentada, de Letras, num evento destes? Evidentemente: forma-se, reforma-se...
Sim, interessa-me!
Como sempre, preenchi-me com o verde e a luz coada e serena da Gulbenkian
Segui atentamente as comunicações de diversos painéis de gente de Ciência: o linguista, físicos, matemáticos, psicólogos... Apreciei produtos de trabalhos práticos; resultados de pesquisas. Diverti-me. Cresceram-me curiosidades e motivos de reflexão

Sim! Para Ler a meias, recorro sobretudo a narrativas e poemas. Nos dois primeiros anos (em que o projeto envolveu duas turmas, com periodicidade quinzenal), era ponto assente que a tipologia de textos teria de ser variada: incluí regularmente textos informativos. Na pressa das sessões mensais, descurei esse propósito. 
Eu própria não sou literata em Ciência, reconheço.
Não! Não me é pedido mais... Sossegaram-me, até.
Leio. Partilho leituras apaixonadamente. 
E dizem os estudiosos, partindo da análise de Inquéritos anónimos a estudantes, que esta atitude por parte do adulto influencia mais o gosto de ler dos jovens do que terem uma casa apinhada de livros ou sem nenhum.
Ainda bem!


terça-feira, 1 de abril de 2014

Semanas da Leitura: férias à vista...

Já tínhamos estado no 4ºA, no Pragal
Faltava, pois, o 4ºB. Pronto, já está!
Com os mesmos objetivos, fizemos nova caminhada pela Educação Ambiental, através da ilustração de Bernardo Carvalho e a narrativa rimada de Isabel Minhós Martins. 
Saltitámos de poema em poema, de poeta em poeta, entre risos e conversas sérias.
Respondam-me a esta pergunta de António Manuel Couto Viana:
(...) Se fosses uma nuvem ao luar,
serias um novelo de algodão,
a cama para um anjo adormecer,
um cordeirinho do ar,
ou soltarias o raio e o trovão
e farias chover, chover, chover? (...) 
Teríamos mesmo de chover, regar as plantas, tornar os frutos sumarentos, não acham?!... ("...o sol peca quando, em vez de criar, seca...")
A turma criou também os seus versos:
Com o Ricardo narigudo
O Mundo é mesmo sortudo
Ele cuida bem do Ambiente
Isso é bom para toda a gente!
(Grande Ricardo!)
Despediram-se animadamente:
- As histórias eram muito bonitas!...
- Onde se pode comprar este livro? 
- E aquele? 
- E o outro?
Houve gostos para tudo...
Missão cumprida!

Ler a meias... mesmo a meias...

1, 2, 3...: foi a 3ª vez  que nos encontrámos.
Como acabaria a história O Sr. Milhões - que deixámos a meio, na 2ª sessão?... 
Os meninos do 2ºB do "Pragal" ficaram de imaginar o fim e hoje tinham trabalhos de grupo para apresentar. 
Nas suas histórias, cheias de imaginação, todas diferentes, fez-se justiça! Gostei! Para mais, leram tão bem!... Palmas!
E então escutaram o resto da história de Luísa Ducla Soares, com uma lição bem mais dura... Concordaram: «Bem feito!». 

Tempo de poesia: 
Seguiram-se momentos de pura diversão com versos de José Fanha, Natércia Rocha, António Torrado...
Muitos sorrisos naquelas carinhas, ao desejar "Boas férias!"...



Apresento-vos José Fanha, o próprio!...