terça-feira, 30 de junho de 2009

Um livro de peso...


Tem 4032 páginas, uma lombada de 32,2 cm e pesa mais de 8 Kg este livro com todas as obras de Agatha Christie cuja personagem é Miss Marple: 12 romances e 20 contos.
É um record mundial, protagonizado recentemente pela HarperCollins, da Grã-Bretanha.
A primeira (e talvez única) edição foi de 500 exemplares, sendo o custo de cada livro de £ 1000,00 (mil libras), isto é, aproximadamente € 1200,00 (mil e duzentos euros).
É certamente uma leitura indicada para gente endinheirada, forte e musculada, com vontade férrea de ler...

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Para uma antologia poética

O homem, bicho da Terra tão pequeno chateia-se na Terra lugar de muita miséria e pouca diversão, faz um foguete, uma cápsula, um módulo toca para a Lua desce cauteloso na Lua pisa na Lua planta bandeirola na Lua experimenta a Lua coloniza a Lua civiliza a Lua humaniza a Lua. Lua humanizada: tão igual à Terra. O homem chateia-se na Lua. Vamos para Marte — ordena a suas máquinas. Elas obedecem, o homem desce em Marte pisa em Marte experimenta coloniza civiliza humaniza Marte com engenho e arte. Marte humanizado, que lugar quadrado. Vamos a outra parte? Claro — diz o engenho sofisticado e dócil. Vamos a Vênus. O homem põe o pé em Vênus, vê o visto — é isto? idem idem idem. O homem funde a cuca se não for a Júpiter proclamar justiça junto com injustiça repetir a fossa repetir o inquieto repetitório. Outros planetas restam para outras colônias. O espaço todo vira Terra-a-terra. O homem chega ao Sol ou dá uma volta só para tever? Não-vê que ele inventa roupa insiderável de viver no Sol. Põe o pé e: mas que chato é o Sol, falso touro espanhol domado. Restam outros sistemas fora do solar a col- onizar. Ao acabarem todos só resta ao homem (estará equipado?) a dificílima dangerosíssima viagem de si a si mesmo: pôr o pé no chão do seu coração experimentar colonizar civilizar humanizar o homem descobrindo em suas próprias inexploradas entranhas a perene, insuspeitada alegria de con-viver. Carlos Drummond de Andrade, In As Impurezas do Branco, José Olympio, Graña Drummond, 1973

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Estes pobres...

Acontece todos os dias. Fazem fila. Movem-se norteados pelo objectivo da sobrevivência. Querem passar despercebidos. Aguardam. Resignam-se a aceitar apoio, uma cama, uma refeição gratuita. São os novos pobres. Têm habilitações literárias, muitas vezes de nível superior. Um currículo experientado. Trabalharam anos a fio. Viram as suas empresas falir, os seus postos de trabalho extinguir-se, fugir o seu ganha-pão. Subitamente. Viviam condignamente, desafogadamente. Hoje, numa idade que soma anos, sentem-se capazes de tudo, incapazes para tudo. Agora, sobra tempo para deitar contas à vida. Todo o futuro é para reequacionar. Talvez a sós. Que a família não suspeite da má sorte. Com sorte, restam-lhes um magro subsídio de desemprego, poupanças a rarear... Uma baixa médica, uma esperança de reforma antecipada. Vender algo que não compraram barato, mesmo ao desbarato. É preciso viver a curto prazo. Qualquer coisa serve. Qualquer coisa. A depressão ronda. É preciso resistir. Sem sucumbir. A causa é citada a cada passo: Crise. É a Crise. Sim, a crise da Economia. Uma crise que tudo justifica, sem justificação. Uma crise a nível global, mas não geral. Basta ver as gritantes desigualdades sociais: os que têm e os que não têm direito a subsídio de desemprego; as pensões irrisórias e as outras, chorudas; os salários mínimos e aqueles outros, milionários... A mais paupérrima miséria de quem ignora o que fazer para pedir socorro, a par da frenética ganância de quem tudo tem e quer cada vez mais. Não olhando a meios para atingir fins. Sem sobressaltos de consciência pela necessidade de justiça social. Indiferente a solidariedade social. São muitos os braços inertes que tanto ainda poderiam construir! Demasiada a inteligência desaproveitada! Excessiva, a energia desperdiçada! Esmagadora, esta selvática Economia. “Sempre assim foi, sempre assim será.”- dirão muitos. “Vemos, ouvimos e lemos/Não podemos ignorar” – cantava uma respeitável voz resistente. Certo é que não é possível aceitarmos este caos como algo pacífico e sem remédio. Faltam oportunidades para quem ainda muito pode contribuir com as suas competências e apetências para um mundo melhor. Inventemos saídas para a Crise. Aposte-se na Educação. Na Saúde (“...um bem-estar social e mental...”, segundo a Organização Mundial de Saúde. Como estar mais de acordo?) Aposte-se na Justiça. Recrie-se esta sociedade injusta que prescinde de alguém humana e socialmente útil, como de uma peça enferrujada e sem préstimo... colocada à margem, apenas, vá lá (o que não chega para nos tranquilizar!) com direito à sopa dos pobres...