terça-feira, 29 de março de 2011

Mensagem do Dia Internacional do Livro Infantil 2011

Mensagem do dia 2 de Abril de 2011, Dia Internacional do Livro Infantil* 
 O LIVRO RECORDA*
Cartaz - Bernardo Carvalho
“Quando Arno e o seu pai chegaram à escola, as aulas já tinham começado.”
No meu país, a Estónia, quase toda a gente conhece esta frase de cor. É a primeira linha de um livro intitulado Primavera. Publicado em 1912, é da autoria do escritor estónio Oskar Luts (1887-1953). 
 Primavera narra a vida de crianças que frequentavam uma escola rural na Estónia, em finais do século XIX. O Autor escrevia sobre a sua própria infância e Arno, na verdade, era o próprio Oskar Luts na sua meninice.
Os investigadores estudam documentos antigos e, com base neles, escrevem livros de História. Os livros de História relatam eventos que aconteceram, mas é claro que esses livros nunca contam como eram de facto as vidas das pessoas comuns em certa época.
Os livros de histórias, por seu lado, recordam coisas que não é possível encontrar nos velhos documentos. Podem contar-nos, por exemplo, o que é que um rapaz como Arno pensava quando foi para a escola há cem anos, ou quais os sonhos das crianças dessa época, que medos tinham e o que as fazia felizes. O livro também recorda os pais dessas crianças, como queriam ser e que futuro desejavam para os seus filhos.
Claro que hoje podemos escrever livros sobre os velhos tempos, e esses livros são, muitas vezes, apaixonantes. Mas um escritor actual não pode realmente conhecer os sabores e os cheiros, os medos e as alegrias de um passado distante. O escritor de hoje já sabe o que aconteceu depois e o que o futuro reservava à gente de então.
O livro recorda o tempo em que foi escrito.

A partir dos livros de Charles Dickens, ficamos a saber como era realmente a vida de um rapazinho nas ruas de Londres, em meados do século XIX, no tempo de Oliver Twist. Através dos olhos de David Copperfield (coincidentes com o olhar de Dickens nessa época), vemos todo o tipo de personagens que ao tempo viviam na Inglaterra — que relações tinham, e como os seus pensamentos e sentimentos influenciaram tais relações. Porque David Copperfield era de facto, em muitos aspectos, o próprio Charles Dickens; Dickens não precisava de inventar nada, ele pura e simplesmente conhecia aquilo que contava.
São os livros que nos permitem saber o que realmente sentiam Tom Sawyer, Huckleberry Finn e o seu amigo Jim nas viagens pelo Mississippi em finais do século XIX, quando Mark Twain escreveu as suas aventuras. Ele conhecia profundamente o que as pessoas do seu tempo pensavam sobre as demais, porque ele próprio vivia entre elas. Era uma delas.
Nas obras literárias, os relatos mais verosímeis sobre gente do passado são os que foram escritos à época em que essa mesma gente vivia.

O livro recorda.
Aino Pervik

*Tradução: José António Gomes
*A Mensagem do Dia Internacional do Livro Infantil é uma iniciativa do IBBY (International Board on Books for Young People), difundida em Portugal pela APPLIJ (Associação Portuguesa para a Promoção do Livro Infantil e Juvenil), Secção Portuguesa do IBBY.

Retirado de http://www.dglb.pt 
(Direcção-Geral do Livro e das Bibliotecas)

sexta-feira, 18 de março de 2011

Com uma Comunidade de Leitores debaixo de olho...

Fui à António da Costa em Dezembro e voltei ontem, para trabalhar com uma turma de 7º ano.
(Em Fevereiro, fora também a uma turma de 6º ano, como veremos.)
Realizei, portanto, três sessões de promoção da leitura, mas desta vez com o objetivo acrescido de formar a Comunidade de Leitores que trago debaixo de olho
O projeto da Comunidade, nesta escola, mereceu, em Outubro, a aprovação do Conselho Pedagógico, suscitou o entusiasmo e envolvimento da Professora Bibliotecária, etc, etc…, mas não houve inscrições.
Desiludidas? Não muito, pois dúvidas subsistiam desde o início. Eu não sou da escola. Trata-se de uma atividade voluntária e não sujeita a avaliação - que, no entanto, implica horários, trabalho… Seduzir leitores adolescentes é um grande desafio…
Cruzámos os braços? Não! Andamos desde então a lançar sementes para 2011/2012. Persistentemente. Calmamente.
De que modo? Como a única inscrição fora a de um aluno do 7º 4ª, começámos por fazer uma sessão com esta turma.
Iriam conhecer-me… Poderia propagar-se o vírus do contágio…
Um poema de Carlos Negro, professor e poeta galego, abriu a sessão e prendeu a assistência. Umas páginas do Diário inventado de um menino já crescido, de José Fanha, mantiveram o entusiasmo… Saltámos depois de excerto em excerto, entre temáticas e géneros variados, viajando felizes pelos livros selecionados para os adolescentes… O planeta branco, Gosto de ti, R, Vampiros ou nem por isso, Alex ponto com, Poemas para um dia feliz
Foi uma sessão alegre e viva… O tempo era pouco (45m) e passou muito, muito depressa…
A professora Isabel foi efusiva ao demonstrar o seu agrado, o mesmo agrado que os jovens não escondiam… Houve quem indicasse um livro para ser relido na “próxima sessão”…
Gostaram de ouvir ler – é certo. Incerto é quererem ler autonomamente… E a intenção de uma eventual inscrição, ninguém manifestou...
Ontem voltámos a estar juntos. Traziam o entusiasmo da 1ª vez.
Recriei o desafiante momento da seleção de um livro, entre muitos: olhar o título, ver a capa, ler a contracapa, abrir e ler um excerto… E curioso é vê-los aperceberem-se de que o seu interesse vai mudando, ora pela deceção ora pela boa surpresa que a capa, contracapa ou uma passagem do livro deixam em aberto…
Real… mente, A casa das bengalas, Diário inventado de um menino já crescido, O amor faz-te mal, Valentim, A rapariga voadora, O sonhador... foram despertando, sucessivamente, diferentes reações. 
(Andreia Brites inspirou-me com o seu Ver para Crer… Aliás, é graças a Andreia Brites que eu ando hoje em dia nestas andanças de Mediação de Leitura. Leonor Fernandes, por sua vez, foi quem primeiro me abriu as portas da sua biblioteca escolar, possibilitando que o meu sonho germinasse...)
Os jovens da António irão agora requisitar os livros, como eu costumava ver acontecer, na minha biblioteca?... Era essa a intenção. Veremos!…  
Inscrever-se-ão na Comunidade de leitores, para o ano? Este convite é explícito, permanece válido…; o resultado, absolutamente incerto.









O 6º 6ª, entusiasmado com a sessão de Fevereiro que denominei Dez e vai um... (na qual dez livros de autores portugueses estiveram em destaque, durante 90m de escuta atenta e participação ativa), poderá engrossar, talvez, o grupinho de interessados… A professora Elisabete confia. Uns jovens manifestaram interesse, com brilho no olhar...
Voltarei a esta escola, em breve. Com novos títulos, novas estratégias. 
Talvez a semente dê fruto. Um qualquer. Pelo menos, o prazer do reencontro.

Poesia...


Dada a dificuldade em aceder às páginas indicadas, aqui vai o Programa a que tive acesso:


21 de Março, Segunda-feira, Convento dos Capuchos 
10:30 às 12:30 e 14:30 às 16:30
Jardim 


Sentidos das Artes
Oficinas de Expressão


Leitura; Escrita; Dança; Música; Expressão Plástica
Destinatários: 2 turmas de alunos do 1º Ciclo
Animadores: Albina Moura; Helena Leitão; Helena Peixinho; Margarida Catarino (Leitura e Escrita); Ana Lucinda Melo e Jaime Soares (Dança e Corpo); João Cuña; João Rodrigues; Ricardo Fonseca; Gonçalo Pinto; José Manuel Pereira (Música); Eurídice Santos; Mariana Rosa (Expressão Plástica)
Registo de Fotografia: José L. Guimarães




16:00 às 17:00 
Sala do piano, Claustros, Galerias da Capela


         Abertura das Exposições
         Lançamento da publicação “Floresta Sinfónica”, Álvaro de Mendonça


17:00 às 18:00
 Claustros, Galerias da Capela


Convívio com Porto de Honra
Interpelações Poéticas 
          Manuel Fernandes (Voz e Guitarra)
          Jaime Soares (Interpretação)




Kin Bar (Junto à Casa da Cerca)
21:30 às 24:00 
         Deambulações Poéticas
         Noite de Poesia e Músicas do Mundo
         - Música: João Cuña (Guitarra Portuguesa); José Manuel Ferreira (Voz); Gonçalo Pinto (Castanholas);
         Ricardo Fonseca; João Rodrigues (Campaniça)
         - Declamações de Poesia por: José Manuel Ferreira; Didier Ferreira; Margarida Catarino; José Vaz; Américo Morgado; António Boieiro


25 de Março, Sexta-feira 
Escola Secundária Emídio Navarro 
16:00 às 18:00 


        Curtas Viagens
        Ciclo de Curtas Metragens, com apresentação de Possidónio Cachapa


Teatro Extremo 
21:00 às 24:00 
Foyer
         Conversas com... Viagens 
Ser viajante... 
        Autores / Poetas convidados
        Eduardo Salavisa; Fátima Monteiro; Ana Sofia Pinho; Jaime Soares
        Por video-conferência: Ondjaki (Angola); Múcio Goes (Brasil). Moderador: Miguel Passarinho
Demandas do Mar, da Terra, do Universo 
        Autores / Poetas convidados
        Delmar Maia Gonçalves; Vera Fornelos; Jorge Viegas; Carlos Amaral; Ângelo Rodrigues; Américo Morgado. Moderadora: Eveline Monteiro


26 de Março, Sábado 
Convento dos Capuchos 
Sala do piano, Claustros, Galerias da Capela
10:30 às 13:00 


        Oficina de Escrita Criativa de Viagens, com Orlando Ferreira


15:00 às16:00 


        Espectáculo Pessoas em Pessoa, Mostra de Criatividade
Participantes do Concurso, encenação de Jaime Soares


16:00 às 17:00 
Pausa para Café / Convívio


Rotas de Fernão Mendes Pinto
        Alunos da Escola Secundária Emídio Navarro
        Morabi Dance Group, Nôs Tradison, Fundação Antigo Liceu Gil Eanes, Cabo Verde
        Coreografia Lúcio Cabral e Licínio Fernandes


17:00 às 18:00
Sala do piano 
         Prémio Pessoas em Pessoa - Viagem, Mar, Mundo
         Entrega dos Prémios a Concurso: Poesia; Pintura; Vídeo; Desenho; Fotobiografia; Azulejaria; Música e Coreografia. Participantes do Concurso / Comunidade Educativa


          Lançamento da Revista DiverCidades 
          Língua Cultura Cidadania
          Centro de Formação AlmadaForma / Projecto ALReP


21:00 às 21:30
Sala do piano 
         Ladrões de Deus 
         Instalação por João Ribeiro; Pedro Sena Neves; João Gil; Gonçalo M. Tavares


21:30 às 24:00 
        Conversas com… Viagens
        Rumos da Criação 
Autores / Poetas convidados - Orlando Ferreira; Xico Braga; Conceição Marques; Fátima Rosa; Luís Miranda; José Mário Silva; João Ribeiro; Ângela Luzia. Moderador: Nuno Bernardo


        Viagens Poéticas
Eduardo Agualusa (Angola, por video-conferência); Teresa Pombo Pereira; Jorge Arrimar; Ruth Navas; Armindo Reis; Miguel Almeida. Moderadora: Ângela Luzia


Lançamento do Livro
          “Poemas das Coisas Ditas Triviais”, Xico Braga, por Conceição Marques


27 de Março, Domingo
Convento dos Capuchos 
15:30 às 17:30 
         Encerramento POEMA 2011
         Diásporas Musicais
Silvestre Fonseca (Voz e Guitarra)
Nelson Conceição (Acordeão)


Exposições 
Convento dos Capuchos 
Visitáveis de 21 de Março a 27 de Março


Jardim
          POETREE – Poesia para Florestas
Instalação de Álvaro de Mendonça


Livraria do Convento
         Palmos de Rostos, José L. Guimarães


Galerias da Capela
         Viagens à Memória, Pintura, Mariana Rosa 
        Viagens no Convento, Fotografia, Siegfried Kuntzig 
        Paisagens & Personagens, Artes Plásticas, Alunos de Artes da ESMC, Professores José Henrique; Luzia Lourenço; João Ribeiro
        Pessoa ao Cubo, Desenho, Catarina Pinheiro
        Almada vista da Ponte, Fotografia, Nuno de Albuquerque Gaspar
       Pessoas em Pessoa, Mostra de Criatividade, Comunidade Educativa de Almada


Museu da Cidade - visitável das 10:00 às 18:00
       Diários Gráficos em Almada
       Não somos Desenhadores Perfeitos

quarta-feira, 2 de março de 2011

Agarrar a vida...

Esta minha amiga vive a dúzia e meia de Km, por via rápida. Entre nós alongou-se o tempo de com-viver: a princípio em serviço, depois em formação, sempre em cooperação e partilha. Ingredientes para uma boa amizade. E assim se tornou simples segui-la pelos recentes caminhos que a vida lhe reservou, aliás nada fáceis.
Primeiro, foi o exame médico que lançou suspeitas; depois, mais um e mais outro, até à evidência indesmentível da confirmação; passo a passo, muita angústia estoicamente controlada. Veio o dia da intervenção cirúrgica, o período da convalescença... Por fim (cremos que é o fim), o tempo dos tratamentos e dos enjoos, das dores de cabeça, dos altos e baixos. Um já foi, mais um outro já lá vai também... Faltam mais uns tantos, regulares, espaçados. Um deserto longo e penoso para atravessar, sem fuga possível.
A minha amiga não sente revolta, não questiona "Porquê eu?". Pelo contrário, evidencia coragem e esperança que, como sabemos, rimam com inquietação e incerteza... Longe de sentir autocomiseração, preocupa-se com quem a rodeia e a ama, com os meninos que estranham a sua ausência na escola onde ela queria estar agora. Equaciona retomar o serviço, mesmo quando a prudência o desaconselha. É que há dias em que as horas custam mais a passar.
Resignada e lutadora, confiante mas naturalmente insegura, a minha amiga vai singrando por entre as duras e comezinhas provas do quotidiano: como atar um lenço à cabeça, antes de sair de casa; um súbito cruzar de olhar; recontar a história a alguém conhecido... 
Uma situação que se revela longa, mas efémera... Tu sabes!
De longe (e de perto), contigo aprendo esta lição de vida.
Há prioridades e valores fundamentais. 
Há solidariedade.
Há esperança para fiar, coragem para tecer... há vida para viver. 
Com cores alegres.