quinta-feira, 7 de abril de 2011

Alea jacta est...

Ainda ontem eu continuava a remexer estantes, a ler e reler livros juvenis, a buscar ideias para uma estratégia diferente de promoção da leitura… O tempo em contagem decrescente e eu ainda sem ter uma decisão definitiva sobre o que iria fazer hoje, na 3ª sessão com o 7º 4ª, na António da Costa.
Tendo eu a Comunidade de Leitores debaixo de olho…, sabia que tinha de ser criativa e dar mais um passo no processo de sedução dos jovens para a leitura… Sendo uma sessão de 45m, mais me eram exigidas objetividade e economia de tempo… Mais isto e mais aquilo…
Quem por fim assiste, talvez ache que tudo aconteceu muito espontaneamente… Mas aqui para nós (quase em segredo…) a preparação de uma nova sessão representa muita dedicação e trabalho. As temáticas a abordar e as obras a ler constituem um processo lento, um longo desafio... Tempo de inquietante indecisão; tempo de insegura decisão.
Quando chega o momento da concretização, alea jacta est...(isto é, a sorte está lançada...) Aí sim, é seguir em frente com naturalidade… Toca a descontrair, confiar… Basta desenrolar o plano e as páginas, dar asas à imaginação, escutar apartes e comentários, não fugir às questões, interagir… encorajar, aplaudir... Gerir o tempo… Tudo aparentemente fácil! Resta a sensação de que afinal não custava nada!
O auditório reage e não engana: eles, sim, são espontâneos.

Esta 3ª sessão agora já lá vai… e eu voltei "de alma cheia"!
Levei novos títulos, sim. Uns livros cujas personagens são adolescentes, movendo-se no seu mundo sócio-familiar, com as dúvidas e emoções próprias da idade, comuns às destes jovens, e juntei também outros títulos sobre livros e leitura, bem como um cartaz publicitário da Livraria Histórias com Bicho.
A sessão começou pelo tema do amor e do primeiro beijo, lendo/vendo Borboletas, de Xavier Docampo (que traduzi).
Do Diário de um adolescente com a mania da saúde, de Aidan Macfarlane e Ann Mcpherson, lemos um capítulo eleito pelos jovens (de entre três à escolha), o qual permitiu responder a algumas inquietas questões sobre sexualidade, nomeadamente a maternidade na adolescência.
Relações familiares, dificuldade de comunicação, insucesso escolar, tecnologias ou falta delas e descoberta de prazeres do campo foram assuntos que vieram depois à baila, a partir da divulgação de Meia hora para mudar a minha vida, de Alice Vieira; Escrito na parede, de Ana Saldanha; Verba volant, scripta manent, um conto de João Aguiar, incluído em O Prazer da Leitura, que permaneceu suspenso em grande suspense*
O cartaz da livraria abriu novas aceções para a palavra LER. 
Da importância e aventura da leitura falam Os livros que devoraram o meu pai, de Afonso Cruz, e O Anibaleitor, de Rui Zink - brevemente aflorados.
Acabámos com uma atividade lúdica: de onde teriam sido retiradas três “páginas perdidas”?... Não foi tarefa fácil, mas elas reentraram direitinhas no seu lugar, exigindo alguma técnica e persistência… O poema de Makinaria, de Carlos Negro (traduzido) foi o mais fácil.
Esgotou-se o tempo. Era preciso ir logo para a aula seguinte. Haviam chegado cheios de entusiasmo, com ar expectante e sorridente, a disputar os lugares da frente. Haviam seguido a sessão com olhar atento, sem perder pitada e intervindo… Agora partiam sem pressa e satisfeitos, tal como eu.
- Voltem voluntariamente para o ano!– -insisti, à despedida.
Voltarão ou não... Alea jacta est...
Curiosamente, surgiram novas interessadas: as professoras presentes talvez queiram integrar uma Comunidade de Leitores em torno de livros para a infância e juventude...
Quem sabe?!… ;-)

* Livro esgotado. O conto integral pode ser lido on-line, aqui: http://www.andante.com.pt/pdfs/verba%20volant,%20scripta%20manent.pdf  

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