quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Peregrinando entre pastores...


O concelho do Fundão reviveu, recentemente, uma velha tradição: a "Festa dos Chocalhos", em Alpedrinha. 
Trata-se de uma vila situada na encosta da Serra da Gardunha. Em meio rural, terra de pastorícia, anualmente dali se viam rebanhos subir a serra, no verão, em busca de alimento, e fazer o caminho inverso até à planície, no inverno, quando o frio apertava e as pastagens escasseavam. O som do chocalho servia para ajudar a localizar alguma ovelha tresmalhada, apesar da vigilância atenta do pastor e do seu cão... 
Hoje, entre o Fundão e Alpedrinha (distantes de cerca de 10-12 Km), palmilhando estrada alcatroada, caminhos pedestres e antigas vias romanas,  recria-se a transumância, pretendendo manter viva esta memória das práticas pastorícias, assim se preservando o património cultural da região.
De muito mais é feita esta festa popular: a multidão aflui àquelas ruas empedradas e estreitas, onde abundam artesanato e comes-e-bebes, com a permanente animação da música ruidosa e alegre de bombos e gaitas-de-foles... Não faltam Zés-Pereiras, concertos, workshops... 
Este ano, construiram-se instrumentos musicais pastoris, fabricou-se queijo, experimentaram-se teares... Desfilaram cães de proteção de rebanhos. Jerónimo Augusto lançou o seu livro O cão da Serra da Estrela. Projetou-se um documentário de Tiago Pereira sobre a transumância, ao mesmo tempo que Ti-Mário, protagonista do filme e pastor da aldeia do Telhado, tocava ao vivo, em palco. Maria Altina Martins expôs tapeçaria, no Palácio do Picadeiro. O pastor é uma das suas obras que integra a exposição Por canadas de Foz Côa, patente até 14 de outubro próximo.
Pela 1ª vez, fui. Deambulei pela vila, vi, ouvi, assisti, provei... caminhei!
Nada me impressionou tanto como aquela peregrinação atrás de pastores, carneiros, ovelhas e cães da serra da Estrela, através de ancestrais caminhos de transumância... Escuto ainda os chocalhos tilintando em coro uma ritmada melodia que convidava ao silêncio, compassava os passos, suavizava o esforço, permitindo que a atenção se centrasse na paisagem, na flora, na cor e no perfume dos campos... 
Andarilha-peregrina, grata à Natureza.

(Este vídeo demonstra a minha descrição. Se bem o visionarem, lá me poderão descobrir, bem de relance, mostrando o meu bordão improvisado...)



2 comentários:

Anónimo disse...

De forma muito simples e ao mesmo tempo criativa, o tempo volta para o lá da lã e do queijo.
Parabéns pela reportagem literária e fotogenia na imagem.
Zé Carioca

Manuela Caeiro disse...

Obrigada pelo elogio! Foi difícil escolher as fotos, mas parece que estão aprovadas... :-)