sábado, 2 de maio de 2009

Foi baptizado, o Tomás...

Logo para começar, tropeço no título. Baptizado ou batizado? Com "pê" ou sem ele?... Opto pela convenção anterior ao novo acordo ortográfico, com consoante muda, mas muito viva e cheia de História. Vendo bem, o acordo não entrou ainda em vigor. Infelizmente, não irá resolver a uniformidade da língua portuguesa no mundo, o que seria a sua mais-valia. Adiante.


Salto prontamente para a personagem principal: o mais novo membro da família, o Tomás. Com apenas quatro meses, reuniu em torno de si, numa bonita igrejinha de Setúbal, meia dúzia de crianças e três dezenas de familiares e amigos, todos animados para assistir ao seu baptizado.

Que ganhou ele com o seu baptismo? «Ficou livre do "pecado original", passou a ser membro da comunidade cristã e tornou-se filho de Deus, a quem, doravante, pode chamar Pai.» - esclareceu o jovem padre.

Este, realmente jovem, seguiu criteriosamente, um a um, os rituais da cerimónia do baptismo e preparou cuidadosamente o seu sermão. Foi explicando, com rigor, a razão de ser de todo o habitual cerimonial. Apimentou o discurso ao falar sobre a facilidade de se ter um filho, com afirmações ligeiras de quem carece de experiência de vida. Compreensível, lamentavelmente.

Como lhe competia, o senhor padre fez questão de tudo orientar bem como de vigiar o cumprimento de regras, na sua casa de Deus. Intransigentemente. Pregou, literalmente, vários "sermões", com a autoridade de um "magister dixit". Faltou-lhe a bonomia de quem desculpa um atraso, de quem compreende a alegria simples de um encontro há muito esperado, de quem entende o precipitado entusiasmo daquele que se instala num lugar menos próprio para captar o melhor ângulo para uma fotografia, num momento especial...

Esperar-se-ia que ele, na sua igreja, pudesse ser como um pai tolerante e compreensivo ou como um anfitrião que acolhesse simpaticamente as suas visitas. Desejar-se-ia que ele fizesse sentir ali bem todos e cada um; que fizesse crescer em alguns daqueles que raramente o visitam o desejo de lá voltar; que talvez assim aumentasse o "rebanho" cada vez mais disperso por novas igrejas, hoje sediadas em caves, garagens, antigas lojas, velhos cinemas, em espaços mais ou menos nobres, espalhados por este e por aquele mundo fora...

Porquê toda esta debandada, quando tanta gente é explorada por corruptos autodenominados "ministros de Deus"? Talvez por uma fé pouco racional, por uma esperança... Por falsas promessas, talvez... Certamente porque a sua nova igreja os acolhe, os escuta, os faz participar e sentir-se parte de uma comunidade.

Esta velha igreja (em que fui baptizada e educada), por muito que custe admitir, tem de reformular objectivos, repensar estratégias, renovar métodos; formar padres com competências sociais e humanas para novos tempos. Se quiser cativar e acolher.

O Tomás, por enquanto, mantém-se imperturbável perante a aparente carência de bondade divina de um representante de Deus na Terra.

Pachorrento e sorridente, ele aceitou cada ritual do seu baptismo com a boa disposição de um bebé saudável, alimentado e bem cuidado, criado com amor no seio de uma família feliz.

Coerente, o Tomás manteve-se sereno ao longo do agradável dia de festa que a todos proporcionou.
Quando um dia mais tarde vir as suas fotografias, só esta alegria irá ressaltar.
O resto é espuma. Não importa.

5 comentários:

@ntonio Silva@ disse...

VIVA O TOMÀS !
Linda prosa sobre o benjamim da tribo.

Claro que os tempos não são fáceis, dirão muitos, mas, viver é um risco constante, agora e sempre.

Que tenha uma vida com saúde bem salpicada de felicidade !

Bis para a narradora/vóvo (?)!

Healing Naturaly disse...

Bravo, gostei muito querida amiga. Vem inspirada das suas ferias, que bom. Felicidades ao Tomas

Unknown disse...

É sempre bom ler o que escreves. Consegues mesmo "deixar" muito de ti. É tão bom...Foi também pela escrita que me conquistaste!

Um grande beijinho da amiga Leonor

Algures disse...

Olá! Muitos Parabéns... Estes novos "membros" dão-nos imenso... a começar pelo sorriso que tão facilmente nos colocam na face :-)
Felicidades ao Tomás e à sua família. Um beijinho para a Manuela...

Unknown disse...

Pois! Como já te disse, tive o prazer de assistir ao baptizado da pequena Leonor, em que todos os que ali se encontravam se deixaram encantar com a sua boa disposição. A diferença em relação ao que aqui nos contas é que também o padre que dirigiu esta cerimónia se deixou encantar pelas "gracinhas" desta menina, pela sua delicadeza...e, talvez sem saber, também ele encantou pela sua simpatia e pela mensagem de alegria e amor que nos deixou.Não falou em facilitismo nem foi extremamente rigoso.Falou-nos como servo de Deus mas como homem que é.A sua mensagem foi dirigida a nós - pessoas reais - aquelas que amam, que erram, que muitas vezes têm difuldade em perdoar, que vivem...
Não sou baptizada, não cresci nesta igreja mas creio que Deus é amor e naquele lugar senti isso mesmo - o seu amor. E isso é delicioso!

Um forte abraço para ti, minha amiga.