É para estas ocasiões que se programam uns dias de férias. E que mais se viaja. Quer pela ânsia de uma fuga à rotina, gozando alguns dias de descanso, retemperadores de energia. Quer buscando companhia de familiares e amigos distantes. Talvez por ambas as razões, num “2 em 1” voluntário, consciente… Por desejo, por tradição.

Do outro lado, nas chegadas, aglomera-se uma multidão que espera, impaciente, familiares ou amigos, prontos para o abraço e o convívio. Tardam.
O desfile de gente que desembarca é permanente. Os olhos lançam-se ao desafio de identificar, pela forma de vestir, pelo colorido das roupas e do tom de pele, pela língua que falam, o país de onde virão, o voo de que terão desembarcado… Tarefa muito dificultada, neste nosso mundo global e cosmopolita. Onde ninguém é “ateniense nem grego” e cada um é, por direito próprio, cidadão do mundo!
Os olhos de quem espera lançam-se à aventura de identificar o pai, o filho, a avó, o neto, a namorada, o amigo…, mal este transponha aquela larga porta, precedido do carrinho das bagagens, talvez, desta vez, com um traje mais formal ou, pelo contrário, com o habitual boné do Sporting e umas “havaianas” nos pés…
A vida desfila num aeroporto, carregada de emoção… Exibe-nos profissionais ou estudantes, sonhando férias… turistas com ânsia de sol e de deleite-de-ver-mundo... Conta-nos histórias de aventura, de ausência, de saudade, de amizade e amor…
A criança trepa o corrimão, corre para o pai, salta-lhe para o colo em que se aninha, preso ao seu pescoço, assim descendo a rampa, enquanto a mãe, a esposa, corre ao encontro de ambos, na outra extremidade…
A neta, mais crescida desde a última despedida, foi prontamente reconhecida… Mais fácil foi para ela reconhecê-los (eles estão iguaizinhos!)… Saltou prontamente para o solo, galgando o corrimão, e abraçou-os longamente… Consolava, no seu português com sotaque, a sua avó que, não conseguindo estancar as grossas lágrimas, limpava-as com um largo sorriso escancarado no rosto…
Um casal de turistas procura atentamente o seu nome, escrito numa placa… Um porto seguro…
Ouve-se um grito de alegria, num nome pronunciado à distância… Acena-se. Estendem-se braços para os quais alguém corre prontamente…
O filho vem de férias, finalmente. Os seus melhores amigos fizeram questão de estar presentes e empunham uma mensagem: “Bem-vindo a casa, Francisco!”… Depois de largar as malas e de saborear longamente, com os pais, a saudosa refeição (já preparada), os jovens irão divertir-se juntos... Que saudades de Lisboa!...
Os escuteiros vinham fardados, animados. A meio da rampa, fizeram ouvir a sua voz em uníssono, fazendo-se anunciar num hino solidário que ecoou fortemente naquele enorme salão…
O velho casal chega de férias… E lá está a família, feliz, à sua espera. Os presentes vêm na mala!... A alegria do reencontro com os avós é genuína, desinteressada... Mas que a prendinha é esperada, quem duvida?...
Descem olhos ansiosos, em activa busca de alguém que ainda não avistaram: talvez ele se tenha atrasado… talvez só o conheça ainda virtualmente… O momento é de intensa expectativa...
Lá ao fundo, aquele jovem casal reencontra-se e funde-se num prolongado beijo apaixonado… O carro das bagagens gira abandonado, seguindo por instantes um movimento de inércia, em perfeita liberdade...
Há também aqueles que ninguém espera. Turistas, quase todos. Mesmo quando disfarçam a intenção de permanecer, para além do tempo permitido pelo seu visto e data de viagem de regresso, dispostos a lançar-se numa aventura clandestina.
Mas é também o caso daquele outro que viaja em serviço, por rotina. Traz a sua malinha com rodas, apanha um táxi e segue, confiante e livre…
Em contrapartida, há os turistas cujos amigos os esperam. Turistas recorrentes que voltam ao mesmo sítio a que muitos laços afectivos os ligam.
É o caso dos Ericsson, Nystrom e Jarl que, há mais de vinte anos, regressam a Portugal, anualmente, para quatro ou cinco intensos dias de sol, mar, sabores, repouso em contínuo movimento e vivência da amizade.
As emoções vibram a cada passageiro que chega, a cada minuto que passa… e corporizam-se num arrepio que percorre a espinha do espectador atento… Comovi-me, com frequência! Absorta a observar, sem o impulso de fotografar, apertando a máquina entre as mãos.
Sem emoção, não há vida.
E a vida é clara e emocionalmente vivida, nas “chegadas” de um aeroporto!