quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Penso em vós...


Estou de passagem por uma daquelas terras onde não vemos vizinhos nem amigos, apenas cercados por vozes e vultos desconhecidos e onde cada viajante solitário, companheiro de si próprio, coabita consigo mesmo... sem fuga possível.
Trata-se de um lugar onde depressa se descobrem os caminhos que vão dar à praia, ao supermercado, ao café, à caixa multibanco...; pouco mais há e tanto basta. 
Um sítio já familiar onde, à chegada, me sinto em casa, mas estranhamente estrangeira. 
Integro-me progressivamente e com deleite no espaço sazonal, no tempo livre e longo... 
Reaprendo a prescindir de diárias rotinas do ano inteiro, reajustando horários, abrigando-me em renovados prazeres. 
Tanto para fazer, tanto para fruir!... Ou não fossem férias. Escolhidas voluntariamente, planeadas, finalmente concretizadas. Surpreendente é exigirem de mim adaptação!!!...
Neste momento, quantos não se encontram numa mobilidade forçada pela subsistência da família saudosa que deixaram longe?...
Penso em vós, professores.
Penso em vós, homens e mulheres livres que, sem desejo, migraram, imigraram, emigraram, deitando contas à vida...
Penso em vós, prisioneiros...
Calculo o peso do tempo aparentemente infinito, medido por relógio indiferente e sem compaixão...
E tento avaliar, perceber, sentir...

  

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Eis setembro...

É cedo. A manhã promete verão.
O sol reverdece a relva e cada gota da rega matinal banha-a com a luminosidade do arco-íris. 
Esvoaçam bandos de pombos.
A Alameda move-se.
Atravessam-na uns calções e um top bem recortados, um sari, uma túnica, umas calças generosas presas junto aos calcanhares, saia e blusa discretas sobre sandálias de saltos confortáveis, chinelos rasos ou havaianas...
De telemóvel na mão, há quem aproveite para fazer recomendações, avisos, desabafos, imprecações... Percebe-se pelo tom. As línguas são diversas, algumas delas irreconhecíveis, talvez árabe, línguas eslavas, sei lá!
Cruzamo-nos ali com o mundo.
Passam trabalhadores diligentes, sem tempo a perder; uma mãe apressada empurra um carrinho de bebé; o mais velhinho segue-a, a pé. 
Pequenos comerciantes dispõem à porta caixotes de fruta; lá dentro atendem clientes. 
Um centro de tempos livres reabriu portas. Outras portas à volta mantêm-se cerradas, ostentando ar de falência e abandono... 
Entrevemos de relance, no centro de trabalho temporário, alguém sentado lendo, quem sabe?, talvez uma página de anúncios de emprego... 
Vende-se, aluga-se, arrenda-se, em grandes parangonas expostas em janelas fechadas, comprovam a recuperação económica adiada... 
De um daqueles prédios, irrompe uma jovem mulher, no seu vestido ondulante, descendo escadas em perfeito equilíbrio sobre saltos pontiagudos. Alguém a espera em carro vistoso e mal estacionado, com cortesia de amante. 
Chora convulsivamente um bebé, no Jardim Infantil do lado de lá da rua, certamente num espaço por enquanto desconhecido, onde se sente desprotegido. A mãe inquieta, em segredo, sofre também... Tempo de adaptação, seguramente breve.
É setembro. 
Retoma-se, aos poucos, um novo ciclo de vida.
Convoca-se a tenacidade e a coragem bem como o prazer de fruir do dia-a-dia. 
O futuro exige garantias.