quarta-feira, 28 de março de 2012

Ler a Meias... nos Anais de Almada...


O lançamento da Revista Anais de Almada, nºs 13-14, realizou-se no passado dia 15, no Arquivo Histórico de Almada, na denominada Casa Pargana. Um espaço exíguo, repleto de gente e calor humano, para uma cerimónia digna, em noite fria de temporal!
Trata-se de uma revista de renome, coordenada pelo Dr. Alexandre Flores, Diretor do Arquivo Histórico, na qual se encontra reunida a mais relevante informação sobre a História Local: o património, o Movimento Associativo, gente ilustre que aqui nasceu, viveu, realizou obra e, por isso mesmo, faz parte da História...
Estive presente, pela primeira vez.
Tive a honra de ser convidada para colaborar neste último número da revista, descrevendo a minha experiência de voluntariado em mediação de leitura, em bibliotecas escolares de Almada, com o meu projeto Ler a Meias...
- A que se deve...? - quis eu saber...
História das Sociedades..., História das Mentalidades... - explicou-me o Dr. Flores que comigo se cruzara casualmente na Biblioteca Escolar. (Lamento não saber reproduzir a resposta, textualmente...) 
- Um exemplo que poderá frutificar... - concluiu o Dr. Flores, que é também Professor.


Quem me conhece sabe bem que eu não conseguiria furtar-me a este desafio!
Para tal, restringi-me ao trabalho realizado com duas turmas da EB1 Conde de Ferreira, do Agrupamento de Escolas Anselmo de Andrade. Dois anos consecutivos de mediação de leitura voluntária, em sessões quinzenais.
Tenho a honra e satisfação de ver agora o meu singelo ensaio publicado. 
Ainda que pouco extenso, sofreu alguns cortes, perdendo anexos dispensáveis, mas também a bibliografia que aproveito para aqui referir.
Saliento dois livros fundamentais:
MARINA, José Antonio et VÁLGOMA, María - A magia de ler (Estudos Literários), Âmbar, 2007
PENNAC, Daniel - Como um romance, ASA, 1993
Da WEBGRAFIA (último acesso em 1 de Setembro de 2011),  refiro:
MACHADO, José Barbosa - A motivação para a leitura, 1994

Já que este assunto voltou à baila, faço questão de declarar:
- sem a organização e colaboração da Professora Bibliotecária, Fernanda Ataíde...
- sem o apoio das professoras titulares Anabela Ruivo e Sandra Gregório...
- sem os meninos entusiastas do 3ºA - 4ºA e 3ºB - 4ºB... 
- sem a autorização da Coordenadora da Escola...
- sem a permissão da Diretora do Agrupamento... 
...sem, sem...
Sem tudo isto, nada teria sido possível!
A TODOS, a minha gratidão.


Todas essas sessões por mim realizadas se encontram descritas no blogue da biblioteca da EB1 Conde de Ferreira, agora encerrado como um livro acabado de ler.
Quem estiver interessado, poderá (re)visitá-lo:
Biblioteca A Magia dos Livros - http://bibliotecamagialivros.blogspot.com

Quanto ao meu projeto, esse soma e segue... aqui, ali, além... Almada, Azeitão, Sesimbra, Arrentela... Com muita gente dentro!
Obrigada!


terça-feira, 27 de março de 2012

No Dia Mundial de Teatro 2012

Aconteceu em Palmela, no Teatro O Bando.
Espaço tão modesto... e tão rico!...
Rico de projetos, de trabalho, de talento, de querer, persistência e resistência!...
Palmas!... 


Quatro oficinas de Expressão Dramática, dos pequeninos aos séniores, apresentaram, aos familiares e amigos presentes, o seu trabalho, desenvolvido ao longo de cinco meses.
Quanto valor pedagógico! 
Quanta arte!...
Convívio. Partilha. 
E assim festejámos este Dia Mundial do Teatro.
Palmas!... 


O que quase ninguém de O Bando viu foi a peça dos "sub-4", no palco ao lado. A estreia do João!... (Que papelão!) 
Palmas!... 


Resisti a esta desafiadora experiência. Com apoio... Com persistência.
Aprendi... 
"O ator é um fingidor. 
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente."

(-Ó Fernando Pessoa, mutatis mutandis, agora entendo-te melhor!...)



Mensagem oficial do Dia Mundial de Teatro 2012


Mensagem de Joaquim Benite, Diretor do Teatro Municipal de Almada

quinta-feira, 22 de março de 2012

Em bando, para Palmela...











Cinco meses de formação, numa oficina de Expressão Dramática, levada a cabo por O Bando (nomeadamente, a Linha fora de si), vão agora chegar ao fim. É já no próximo sábado.







Fácil? Hum..., para mim não foi. 
Terá aplicação prática nas minhas sessões de mediação de leitura, tal como era o meu objetivo inicial? Estou confiante que sim  

"Valeu a pena?" - Evidentemente! Tanto mais que...
"Tudo vale a pena/ se a alma não é pequena."


Cinco meses. Sábado a sábado.
Os dias anoiteceram, a lua rodopiou, nuvens ameaçadoras ajoelharam-se aos raios de sol, os dias espreguiçaram-se, o sol acalorou-se, as oliveiras requereram poda, florinhas amarelas saudaram a serra...
Convívio. Sabores. 
Histórias. 
Palavras. Gestos. Olhares. Mãos. Postura. 
Criatividade.
Literatura. Teatro. Aventura.









Conto como foi...
Bem humoradamente,  versejando e plagiando Fernando Pessoa... 
Versos que dedico aos meus nove confrades e formador(es), Nicolas Brites e os outrosagradecendo o paciente estímulo...



No automóvel descendente
Mas que grande reinação!
Uns por verem ir os outros
E os outros nem sim nem não -
No automóvel descendente
De Almada p'ra Azeitão...


No automóvel descendente
(Mas que grande tagarela!)
Esperançosas, assumidas
E assim lá iam elas! -
No automóvel descendente
De Azeitão até Palmela...


No automóvel ascendente
Toda a conversa fiada
Cansaços e emoções
P'ra uma festa anunciada -
No caminho de regresso
De Palmela até Almada...



Teatro O Bando, no Facebook, aqui.

Sítio de O Bando, aqui.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Antologia: «No princípio era a poesia»

Almada reflorida, 2012

Hoje, vou compor a moldura dos teus olhos. Com a tensão verde dos pinhais. A elasticidade das heras. A dança das horas. O amarelo torrado das madressilvas.

Vou compor a moldura dos teus olhos. Com o brilho verde dos laranjais. O rigor dos eucaliptos. As barcarolas das sereias. Os traços contorcionistas das figueiras.

A moldura dos teus olhos. Vai ter o murmúrio das espigas. O baloiçar das ondas, o brilho húmido das rochas, os cabeços das dunas, a brisa que transporta a maresia.

Vou compor a moldura dos teus olhos. Dos verdes tenros das várzeas. Dos fetos, das avencas, das margens da ribeira. E vou guarnecê-la das curvas dos caminhos, dos estofos das nuvens. Do vento que assobia nas telhas despregadas

Carvalho, Myriam Jubilot, E no fim era a poesia, Nova Vega e Autor, 2007

PS. Myriam (pseudónimo literário) é minha colega e amiga. Poeta. 
(Presto-lhe homenagem, evocando a data.)
Divido este seu livro em 3 partes: 1) Poesia, Amor. 2) Caos, Dor.  3) Vida vivida. Poesia.
Transcrevi o 1º poema (prosa poética).

terça-feira, 20 de março de 2012

Ler a Meias... pelo campo, nos Cata-Ventos de Paz...

Esta é a Semana da Leitura nos Cataventos de Paz, uma escola com espaço amplo e linda vista sobre o Tejo, mas sem biblioteca... (Contudo, há uma estante recheada de livros... e são feitas muitas requisições!)
Logo às 9h30, a professora Anabela Melo recebeu-me na sua sala de aula, cheiinha de meninos do 3ºA e com mais dois "visitantes"...
Apresentámo-nos todos.
Aproxima-se a Páscoa... Primavera, ovos... Decidi ler Como é que uma galinha..., de Isabel Minhós Martins e Yara Kono, livro este que prendeu a atenção geral e fez soltar animadas gargalhadas!
Tal como eu previra, uma galinha viva - nem todos conhecem! Que são estas aves que põem os ovos que comemos - nem todos sabiam!... Que deles nascem pintos, depois de fecundados e chocados... - suscitou curiosidade e perguntas várias... e muitas respostas... Pensámos também como alguém aparentemente insignificante pode ter, afinal, muito valor!... 
De tudo se falou, com simplicidade, assim se concretizando a mediação da leitura.
Permanecemos no mundo rural, com uma história de Luísa Dacosta, do seu livro Lá vai uma... Lá vão duas...: A felicidade não é o que temos, é o que somos.
A narrativa foi por mim tecida entre o reconto e a leitura... E os meninos intervieram ora criticando atitudes das personagens ora antecipando a continuação/desfecho da história, deste modo motivados para uma escuta e participação ativas.
"Obrigado e adeus" - disseram no final, espontânea e simpaticamente.
As professoras "aprovaram"...
E recordo (com confessa satisfação) as generosas palavras da Tânia, professora estagiária: Gostava de, um dia, saber contar histórias assim...:-)
Obrigada a todos.

Grata vos estou pelo carinho, pela compreensão, pelas palavras, pelas flores... Feliz pela sessão, pela oportunidade, pelos encontros e alegres reencontros...
Até breve!
...É que três outras turmas ficaram agendadas para abril...
Era uma vez uma garganta... que pedia descanso urgente... :-(
Não saí sem antes assinar o ponto na feira do Livro..., mais uma vez!
(6ª feira será feito o balanço das vendas... Boa sorte, Sr. Justino!)

Boas Leituras de Primavera para todos!
Férias felizes!

Citação: Do tempo - ideias dispersas


 Correio da Educação, 12 de março 2012

* Teresa Martinho Marques

« Temos o vício do Passado. Temos a ideia de que tivemos um tempo que já não é este. No meu tempo é que era! No meu tempo, isso sim! No meu tempo, quem me dera!

Temos o vício de um certo Futuro. Do futuro-caos, do futuro-triste, do futuro-desalentado. Do nem vale a pena porque já sei o que vai acontecer. Do para quê? Do por que razão? Antes fosse o vício de um futuro-sonho, futuro-motor, futuro-asa, futuro-visão…

Raros são os que têm um vício bom de Presente. Um vício de prestar atenção ao caminho, ao que é, ao que se tornou, no natural evoluir dos anos. Um saudável vício de o tornar perfeito com o que de mais imperfeito temos neste tempo. Este tempo que é o único a que podemos chamar nosso, o único onde podemos mexer, que podemos pintar, moldar, esculpir, empurrar, aproveitar, desperdiçar, aproveitando as aprendizagens do passado, mas sem ficar preso nele.

E praticamos frequentemente a arte do desencontro com imensa mestria: cada um vivendo no tempo que lhe convém, à hora diferente do tempo de quem está mesmo ali ao seu lado. Depois o remorso e a culpa.

(...)

Este é sempre o melhor tempo de todos os tempos.
Ontem? Porta fechada.
Amanhã é já outro dia. »


WEBGRAFIA


segunda-feira, 19 de março de 2012

Ler a meias... no Dia do Pai...

Hoje regressei a Casal de Bolinhos. (Que saudades!...)
Era Dia do Pai, tema por vezes sensível, mas incontornável. Vamos a isso!


O 1º ano da professora Amélia recebeu-me na sua sala. Os meninos perguntaram-me o meu nome, o que eu ia fazer, o que eu ia ler ("chiu, segredo!")... e fizeram questão de se apresentar.
Seguimos então para a biblioteca.
Para começar, cada um fez um gesto, evocando o seu pai (com ou sem som). 
Houve beijinhos, abraços, caretas, jogo da bola, cavalitas, bricolage, arrumações, palmadas..., jornal, TV... Afinal, um só pai pode fazer tudo isso, concluímos!
O Pê de pai, de Isabel Minhós Martins e Bernardo Carvalho, agradou muito... Era um pai igual aos deles! E ainda fazia outras coisas!
A sessão terminou com Poemas da mentira e da verdade, de Luísa Ducla Soares. Um poema bem-humorado, outro sério... 
Curiosamente, uns preferiram o primeiro e outros, o segundo. (A maioria preferiu o álbum do Planeta Tangerina.)
Manifestaram a sua opinião e despediram-se, animados. Era tempo de voltar a trabalhar na sua sala. 


Claro, eram horas de entrar o 2º ano da professora Sónia. 
Os meninos cresceram tanto!
Vinham todos felizes. Ainda se lembram dos livros que lemos no ano passado!
Sem mais demoras, começámos  pela leitura do Pê de pai. Em seguida, acrescentaram "pais", àquela história: o pai livro (que conta histórias), o pai jornal..., o pai cogumelo e o pai casa (que abrigam), o pai ouriço (que pica)... 
Houve desabafos de pais ausentes... e tentativa de justificação e consolo...
Tanto, tanto!, de Trish Cooke, proporcionou momentos divertidos e, aqui e ali, uma leitura a meias, como uma lengalenga. Uma alegre família negra vai chegando, um após outro..., cada qual interagindo com o bebé..., e por fim descobre-se que iam fazer uma festa surpresa ao pai...
Finalmente, perguntei: Qual a tua personagem preferida? E as simpatias dividiram-se: o bebé, a mãe, o primo Cacá, o pai, a Vovó...
Luísa Ducla Soares fechou a sessão com chave de ouro. 
TRRIM! TRRIM!...

A correr, todos muito excitados, chegou um grupo de alunos do 1º ano com um livro na mão. Tinham feito ilustrações... Mais! Tinham escrito  mensagens que me deram, orgulhosos... 
E eu? Que vaidosa fiquei!!!
« A Manuela conta bem histórias.
Gostei de ouvir as histórias. 

Gosto muito de ti.
Adorei a professora Manuela.
A professora Manuela é muito bonita.
A Manuela é querida.
Adorei as histórias. »
.
(Alguém tem um babete...?!)


Claro que tive de ver, de ler... Cada um me dava a conhecer a sua página... Não apenas o André, o reconhecido artista plástico da turma.
Parabéns a todos!
Obrigada!
Voltarei!



Citação: Dia do Pai Afetivo...

 « São José tinha muita pinta, e às vezes parece que certa igreja se esquece do que representa simbolicamente a Sagrada Família: uma mãe adolescente, com a coragem de enfrentar a gravidez e a educação de um filho, contra toda a má língua da vizinhança, baseada apenas na sua imensa fé em Deus (pai “biológico”) que confia a guarda de Maria e de seu filho Jesus a um pai adoptivo. E José, carpinteiro, que assume o papel de verdadeiro pai até ao fim. 
2008 anos depois, não  pode ser por acaso (mas, talvez passe por mais um desígnio celeste) que se celebra o dia do Pai no dia que o calendário religioso atribui a S. José. Ou seja, para todos os efeitos, no dia do Pai Afectivo. » 


Isabel Stillwell, Jornal DESTAK, 19 de Março de 2008



sábado, 17 de março de 2012

Ler a meias... floresta e poesia...

Educação para o consumo, educação ambiental... falou-se um pouco de tudo, na Escola Feliciano Oleiro, na anterior sessão. 
Claro que lemos poesia, tanto mais que o nosso lema é: «Um poema por dia dá saúde e alegria...» 



No 4º ano da professora Lídia, começámos por abordar a temática do consumo, promovendo a leitura do livro Comprar, comprar, comprar!, de Luísa Ducla Soares (que existe na biblioteca escolar)
Sabem que poemas lemos nós, para começar a falar de poesia? "Formosa vai para a fonte..." e "No comboio descendente". Nem mais: Luís de Camões e Fernando Pessoa! E lemos muitas outras, bem diferentes!
Quanto ao ambiente, refletimos sobre os direitos do Homem, plantas e animais. E outra vez poesia.
A novidade foi os meninos consultarem vários livros para, em grupo, selecionarem e lerem poemas à sua escolha. Todos se empenharam na tarefa. Até a professora Lídia!


Na turma de 4º ano da professora Isaura, abordaram-se os mesmos temas, mas foi diferente o percurso (tanto mais que o livro de Luísa Ducla Soares já era conhecido).
Lemos a empolgante História do Rainbow Warrior, de Rocío Martínez, que encheu os meninos de curiosidade. É que este barco existiu mesmo e todos quiseram saber o que ele fez pela defesa dos mares, das espécies marinhas e da Humanidade! Viva o Greenpeace!
Lemos poesias, mas o "grande momento" foi quando, no final, se leu O dia da árvore, de José Jorge Letria. Uma menina leu-o, verso a verso, e todos repetíamos cada um deles, fazendo gestos. Que surpresa divertida!


O 2º Período não acabou sem a avaliação do Ler a Meias... Foi feita oralmente e à pressa, é certo, mas foi fácil porque todos estavam de acordo. Uma menina declarou: "O Ler a meias é interessante, porque os livros são giros e as atividades são divertidas..."; "Queremos continuar!" - afirmaram, em coro. As professoras fizeram ouvir a sua voz, para manifestar agrado e reconhecimento.
Bem hajam!
Páscoa feliz!



segunda-feira, 12 de março de 2012

Nós e as palavras...

Muito falamos, hoje em dia, de defesa da língua, pensando sobretudo em grafia, enquanto permanece viva a polémica em torno do Acordo Ortográfico.
A língua, porém, é muito mais do que isso! É sintaxe, é léxico, é fonética... É música - que nos acompanha desde o colo, que aprendemos a reproduzir, que partilhamos com quem nos rodeia, e com a qual aprendemos a comunicar.
A grafia, essa, é convenção social. Bem penosa de aprender... "Ou escreves assim ou cometes um erro" - disseram-nos (disse eu), anos a fio. De repente, subvertem-nos as regras. Penosas de aprender.
Como resistir à estranheza de uma nova imagem gráfica das velhas amigas palavras, aparentemente para nos confundir?... Inevitável, a celeuma.
Confio nos linguistas que, fundamentadamente, assumiram a mudança. Há duas décadas!... Cientes das razões, das necessidades e não menos das implicações e dificuldades. Apesar de tudo isso!
Malaca Casteleiro integrou essa equipa. Foi meu professor. Reconheço-lhe competência e seriedade. Insufla-me confiança.
Assim venço eu a minha resistência. Indiferente a quem se serve do cargo que ocupa para exercer pressão, contrariar legislação...
Duas décadas volvidas, passou, creio eu, o tempo de estudar, debater, decidir..., avaliar questões legais e processuais.
O Acordo Ortográfico chegou às escolas, em setembro. 
É tempo de o aplicar.
Em paz.


José Gomes Ferreira, escritor de outras eras, apontou preocupações diversas: o léxico, esse sim. 
Partilho um divertido excerto de Gavetas das nuvens.

« - O Sr. já reparou bem num dicionário?... Num dicionário qualquer?...  No de Morais, por exemplo... ou no do povo... (Tanto faz!...) Já reparou?... Pois a mim faz-me lembrar, sabe o quê?... Um jazigo de família, ou melhor, um jazigo da nação. Uma espécie de mausoléu de papel, onde gerações de gatos-pingados empilharam séculos  e séculos de palavras.  Algumas já definitivamente mortas, cobertas de bichos e de coroas saudosas.  Outras quase a morrer... E muitas, apenas adormecidas, à espera de um toque de dedos para regressarem à vida diária... onde utilizamos ao todo quantas palavras vivas - diga-me lá quantas? Quinhentas?... Mil?... Nem tantas talvez! Garanto-lhe que, em certos dias, quando subo ao Chiado... ou entro num café da Baixa... e ouço essa gente parda a repisar, de manhã até à noite, os mesmos termos, as eternas expressões... os substantivos inevitáveis... os adjetivos fatais... e o verbo ser, o verbo haver, e o verbo ter, e o verbo fazer... sabe o que me apetece? Saltar para cima de uma mesa ou de um marco postal e gritar furioso aos homens: não deixem morrer as palavras, assassinos! Não deixem morrer as palavras! E algumas são tão bonitas!... "Ardimento", por exemplo... Como é que os portugueses puderam esquecer-se desta palavra tão jovem, tão quente, tão expressiva e teimam em usar "coragem" e "entusiasmo"? E "solerte"? Conhece? Agora já ninguém diz solerte! Porquê? Sim: porquê? "Fulano é solerte?" E "ardiloso"? E "roaz"? E "impérvio"?... E "estólido"? Ouça: e se eu lhe chamasse estólido, gostava? Seu estólido!... »


Glossário:
ardiloso - astucioso, manhoso
estólido - desprovido de inteligência, parvo, tolo, insensato
impérvio - intransitável, impenetrável, inacessível, insensível
roaz - roedor, destruidor
solerte - finório, astuto, velhaco


Sugestão de leitura: Acordo Ortográfico
Imagens - da NET.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Pela igualdade!

Recuemos uns anos, não muitos... Lembro-me que era bem diferente a educação.
No campo ou na cidade, às filhas era exigido que colaborassem nas tarefas domésticas, o mesmo não sucedendo aos irmãos da mesma idade...
No intervalo de limpezas, arrumações, cozeduras e coseduras, as mães acorriam ao mercado, à horta, ao canteiro, ao local de onde retirassem sustento... se possível, dinheiro...
As irmãs mais velhas, com seu instinto maternal, cuidavam entretanto dos pequenitos que nasciam... (E se eram numerosos!)
Quantas meninas, por isso, deixaram de estudar! Concorriam razões de peso: importava que se tornassem boas donas de casa, boas mães...; para estudar, elegiam-se os rapazes.
O pai? Era o chefe de família. Assumia naturalmente esse papel... e naturalmente era tratado como tal.
Foi preciso sonhar e lutar para que as mulheres tenham direitos considerados, hoje, banais.
Será preciso persistir para sermos, um dia, verdadeiramente iguais (respeitando as nossas diferenças fundamentais).
Hoje, observo os meus netos primogénitos cuidarem espontânea e pacientemente das suas irmãzitas: colaborando, ensinando, comunicando...
Observo os seus pais (sim, eles!) que participam, cuidam, contam histórias, conversam, brincam, mimam... 
Constrói-se igualdade.
O futuro abre-se em esperança!

quarta-feira, 7 de março de 2012

Antologia poética: A África, à Mulher

SAM DÓLÓ

Sam Dóló foi a mulata mais bonita
do Riboque de Santana...

perna de lagaia (1)
peito de fruteira
sorriso de goiaba
rebolar de maré...

Ai Sam Dóló... Sam Dóló!

dizem que quando o vento acompanhava a brisa
na sombra do cafezal
suas coxas ofereciam ternura a todo o falcão
que passasse no ar
e às vezes deixava
que suas asas de ouro e marfim
se abrissem aos sonhos transparentes
e brônzeos
levados pela tarde
até ao riso do poente

Ai Sam Dóló... Sam Dóló!

Mas um dia Sam Dóló resolveu-se a partir
e a terra negra do Riboque de Santana
abriu-se à imensidão
da noite vazia e muda

e ainda hoje no pousio da tarde
nas estórias que dela se contam e recontam
os homens suspiram e dizem numa saudade

Ai Sam Dóló... Sam Dóló!

Olinda Beja, Aromas de Cajamanga,   Escrituras Editora, S. Paulo, 2009
Ilustrador: Sérgio Lucena

Olinda Beja, poeta e narradora, professora, deliciou uma imensa plateia com este poema que disse de forma inesquecível, no Convento dos Capuchos... (Eu estava lá!)

(1) lagaia - raposa

terça-feira, 6 de março de 2012

Uma imagem vale mais do que mil palavras...


Nota suplementar: trata-se de simples imagens recolhidas, ao acaso, por uma transeunte munida de elementar máquina fotográfica...
Nem sistemáticas nem exaustivas, mas lamentavelmente representativas...
Um olhar inquieto.