segunda-feira, 30 de abril de 2012

Por falar em Liberdade...

Em liberdade, lembremos tempos indesejados de Ditadura... 
Repressão, opressão... direitos humanos em permanente violação.


"Os salteadores".
Um conto de Jorge de Sena. 
Uma curta metragem (12m 34) - animação.
Realização de Abi Feijó.




quinta-feira, 26 de abril de 2012

Ler a meias... em liberdade...

A Liberdade foi hoje tema de conversa e de leituras, na biblioteca da Escola Feliciano Oleiro.
O 4º ano da professora Isaura escolheu entre um livro de António Torrado, O veado florido, e outro de Margarida Fonseca Santos, 7X25, Histórias da Liberdade. Optaram pelo primeiro. Gostaram daquele veado que só floria fora da prisão, provando quanto é importante a liberdade! Aliás, que esta é tão importante como a própria vida!
Veio a propósito..., conversámos sobre parques e reservas naturais, onde os animais vivem em liberdade e se pode visitá-los viajando de comboio ou de carro, respeitando normas de segurança. Falámos também dos Jardins Zoológicos que cada vez mais se preocupam em dar boas condições de vida aos animais que aí vivem. Os animais têm direitos!
Sobrou tempo... e então lemos um dos contos de 7X25: Eu, o lápis azul. Esta história é contada pelo próprio lápis da censura que, no dia 25 de abril de 1974, passou a servir para pintar o mar e o céu, flores e uma das riscas do arco-íris, nas mãos da Joana...
- De que história gostaram mais? - perguntei-lhes, à despedida. 
- Da última! - disseram, enquanto saíam, felizes e livres.



Antes disso, no 4º ano da professora Lídia, também se leram estas histórias. Como estes alunos já tinham lido um  excerto de O veado florido, recontaram-mo; faltava-lhes conhecer o final da história; e lemos... 
Com a ajuda de José Jorge Letria e do seu Era uma vez um cravo, percebeu-se por que é que o cravo se transformou no símbolo do 25 de abril... Queriam saber o nome da florista. Seria mesmo Floripes?!
E, por fim, ainda nos socorremos de O livro das datas, de Luísa Ducla Soares, para (a pedido dos meninos) se falar do dia da Mãe e acabar com uma poesia. Até um miniacróstico escrevemos!
Vão trazer as suas poesias, na próxima sessão. Combinado!
A Professora Vanda (Profª Bibliotecária da sede do Agrupamento, Escola Anselmo de Andrade) assistiu à 2ª sessão. Apreciámos a visita... e a surpresa...


Querem conhecer Margarida Fonseca Santos? É fácil: aqui mesmo.


terça-feira, 24 de abril de 2012

Andar por aí, feliz, a Ler a meias...

As "semanas da leitura" da António da Costa chegam agora ao fim, fechando-se o ciclo na EB1 nº 3 de Almada, onde hoje me aguardavam duas turmas.
Andar por aí, de Isabel Minhós Martins e Madalena Matoso, foi a 1ª obra a saltar do meu saco, que ia recheado de livros... Aquele menino parecia mesmo real e houve quem se identificasse com ele. "Eu é que vou passear o meu avô!" - disse alguém. "A minha mãe também me diz isso..." E riam-se divertidos. 
Como eram engraçados os mapas (aliás, as plantas) da ilustradora! No fim, seguindo a ilustração, voltámos para trás e os meninos sabiam a história de cor.
Uns poemas de José Fanha terminaram a sessão. Gostaram tanto que me pediram os livros emprestados para os copiar.
Depois do intervalo (e do lanchinho...) foi a vez do reencontro com o 4º ano.
Começámos por falar de sorte
E então li-lhes A sorte grande e as sortes pequeninas, de Maria Isabel de Mendonça Soares. 
Ler mais um livro...! Qual?
Resumi-lhes brevemente três histórias: Século vinte e sete, cidade de Alcochete, de Luísa Ducla Soares, A felicidade não é o que temos, é o que somos, de Luísa Dacosta, e O castelo verde, também de Maria Isabel de Mendonça Soares. A votação foi renhida, mas "por um voto se ganha e por um voto se perde"... Venceu O castelo verde.
- Bem me pareceu que esta história ia ser emocionante - disse, entusiasmado, um dos eleitores...
Despediram-se alegres, com pena de ter tocado para o almoço e já não haver tempo para mais.
- Gostei muito de ouvir as histórias e de a conhecer - disse um menino, novo na turma, à saída. 
Alguns correram para a Feira do Livro...
...Que sorte tenho por poder partilhar livros e leituras com meninos assim!...
- Muito grata, colegas Cristina Campos e Isabel Prata!... Obrigada, Sara Cacela...



segunda-feira, 23 de abril de 2012

No Dia Mundial do Livro, com Xutos e Pontapés

Voltei à António da Costa, para trabalhar com uma turma de 3º Ciclo, de CEF.
- Dia do Livro?! Surpreenderam-se. A data ia passando despercebida. 
- Direitos de Autor? Acham justo; concordaram.
As melhores canções para crescer, dos Xutos e Pontapés, e o álbum Vida Malvada inspiraram o trabalho: uma canção, para começar; letras de músicas (impressas) para lermos "a meias", pelo meio; uma última canção, a fechar... 
Entretanto, abordámos a necessidade de crer em nós próprios e vivermos o "jogo da vida" com determinação, alegria e "um pouco de fé":
«(...) Olha para ti
O que é que tu vês
O que tens para dar
Tens que o dar a valer
Tens de olhar e ver
O que há para fazer
Não tens de esperar que te venham dizer (...)»
O soneto de Antero de Quental, O Palácio da Ventura, pelo contrário, mostrou desânimo. 
«(...) dentro encontro só, cheio de dor,
Silêncio e escuridão e nada mais!» 
Adianta? Como vencer este estado de espírito? Que coisas nos podem fazer amar a vida? 
- Amigos, desporto, música, sol... - referiram.
O texto da jovem Joana Alves, "Lista de prazeres", que lhes li em seguida, acrescentava uma porção de coisas importantes de que todos gostam também... (Aquela coisa de "acordar cedo para aproveitar bem o dia" é que não é para todos...)
«(...) Mede bem a importância
Dum pequeno pormenor:
Um parafuso no foquetão
Um beijo ao deitar, um papel no chão
Uma prenda com cartão, um voto aqui
Ali um não (...)»
A finalizar, escutámos, lemos e cantámos os "Contentores". 
«(...) A carga pronta e metida nos contentores
Adeus aos meus amores que me vou
P'ra outro mundo
É uma escolha que se faz (...)» 

E antes que o tempo se esgotasse completamente, pedi-lhes a sua opinião sobre a sessão. Foram sinceros. 
- Sim, gostaram: tinham saído da sala de aula e tinham ouvido música!...
Acrescento: leram e escutaram versos...; ficaram certamente ideias para refletir...; participaram numa atividade da biblioteca... Acho que valeu a pena!



"A leitura faz-nos crescer"

23 de Abril
Dia Mundial do Livro
e dos Direitos de Autor


Viajamos através do livro e chegamos maiores ao destino.
O livro é propriedade privada: temos de respeitar os direitos de Autor.
(Uma bela metáfora visual!)

sábado, 21 de abril de 2012

Nos Cata-Ventos de Paz, a Ler a meias...

Voltei à EB1 dos Cata-Ventos da Paz, com livros sobre a natureza - inspirada pelo projeto internacional Ecofriends que ali se desenvolve. 

No 3º A, da professora Ana Cristina Ramos, começámos por ver e ler excertos do Guia da água (do Museu da Água) e de A água que bebemos, de Maria Alberta Menéres. Assim se conversou sobre o Ciclo da água, como os homens aprenderam a trazer a água até junto de si e como hoje em dia a tratamos, para bem da nossa saúde.
Apresentei então 3 conjuntos de livros:
- Golfinhos;
- Mar;
- Cegonhas.
O que queriam "ler a meias"? 
Os meninos votaram: mar!
Divertiram-se muito com o livro de José Fanha, O dia em que o mar desapareceu... Riram a bom rir com a família dos Bisnaus. Que falta de civismo!... (Ninguém os quer imitar!) 






Após o intervalo, foi a vez do 4º A, da professora Sónia Hermenegildo.

Já tínhamos estado juntos, no ano passado... Que bom, o reencontro! 
Passámos imediatamente à apresentação e escolha dos livros, para "lermos a meias".
Mais uma vez..., o mar.
Exclamei: "Trago tantos livros e todas as turmas escolhem o mesmo?!"
- Não mostre os que já leu - aconselhou sabiamente uma menina.
Teve toda a razão!!!
O resto sabe-se: lemos O dia em que o mar desapareceu, de José Fanha, que gerou boa disposição, a condenação da falta de civismo dos pássaros Bisnaus, muito maraus... e com uma certeza: temos de proteger a natureza!
A sessão acabou com poesias de Cantigas e cantigos, e de Cantigas e cantigos para formigas e formigos, também de José Fanha. Adoraram!...
 Depois de almoço, chegou a vez do 1º A, do Professor Hugo Palma. 
A propósito do Ano do Morcego (2011-2012), lemos Manuel, o morcego no papel de vampiro, de Susanne Laschütza.
Os meninos escutaram atentamente,  viram ilustrações, participaram muito. E no fim, ficaram cheios de dúvidas:
- O que estava o cão a fazer, ao pé de uma cruz feita de ossos, com alhos pendurados?
- O morcego não gostou de insetos. Seria vampiro?!
- Ele tinha sangue na boca. Porquê?
- Afinal, era vampiro ou não?
Tantos meninos! Tanta curiosidade!...
A Mediadora de Leitura já duvidava da boa escolha do livro..., mas as incertezas tornaram a sessão muito viva e interessante. Até se imaginou a continuação da história! Claro que depois o cão e o morcego conheceram-se e até ficaram amigos!
- És muito bonita! - disse-me espontaneamente uma menina do 1º ano, à minha chegada. 
- És muito bonita... e gira! - disse-me um menino da mesma turma, discretamente, à saída... (Que vaidosa fiquei!)


Vim da escola extremamente satisfeita... e muito grata, por tantas atenções... 
Que sorte ter conhecido a Inês Larcher, terapeuta da fala, que me deu instruções preciosas para defender a minha voz! 
Obrigada a todos e a cada um: meninos, Colegas... Margarida Pinho... Um especial abraço à Regina Lima, Coordenadora da escola, que me encheu de mimos...
Até à próxima!



sexta-feira, 20 de abril de 2012

"Venham mais cinco"...

José Afonso, por outras vozes... e ritmos... (2007).



terça-feira, 17 de abril de 2012

Ler a meias... e o herói Aristides Sousa Mendes...

A turma de 5º ano chegou à biblioteca da Conceição e Silva com o entusiasmo próprio da idade e com a alegria de quem iria assistir a uma atividade diferente, há muito esperada...
Dispondo nós apenas de 45m, rapidamente saltámos das apresentações para o tema da sessão: cooperação e solidariedade.
"- Grande coisa" - lemos nós, na capa do álbum de William Bee.
Como pronunciar este título? Com admiração? Com indiferença..., com desprezo?
O Billy (personagem principal) entoava sempre a frase com desdém; para ele, nada tinha valor. 
É bom ser assim? Não será mais feliz quem valoriza as coisas importantes da vida, mesmo sendo pequeninas? Aqueles que ajudam os outros?
Recuámos no tempo até à II Guerra Mundial.
Chegámos à Alemanha, em 1940; imaginámos as tropas de Hitler invadindo a Polónia, a Bélgica, a Holanda, a França... Seguimos refugiados até Bordéus, em busca de um visto, para irem para bem longe da guerra... E conhecemos um cônsul português que quis salvar vidas e tinha ordens para não o fazer.
E se fôssemos nós?...
Quem era Aristides Sousa Mendes? Que fez ele? Quantas vidas salvou? Que consequências sofreu? Que aconteceu à sua família?...
Tantas perguntas!
O homem que ficou sem sono ou a História de um herói contada em português, de José Jorge Letria (um dos Contos de um mundo com esperança), foi a história escutada em seguida, em profundo silêncio, com comoção visível. Com respeito e orgulho pela coragem daquele herói português.
Ficou o desejo de saber mais.
A professora Dulce Freitas vai prosseguir o trabalho com os seus meninos.
Estes fizeram, por fim, a avaliação da atividade. 
Em resumo:
«Aristides era um homem bom.
Procedeu bem.
Foi uma história dramática.
A professora Manuela Caeiro lê muito bem.
Agradecemos a sua vinda à biblioteca...
...E esperamos que volte.»
Para a Mediadora de Leitura, foi uma sessão muito especial, extremamente comovente...

Fotografia de Aristides Sousa Mendes, aqui.
Sítios relacionados:
Fundação Aristides Sousa Mendes.
Museu Virtual Aristides de Sousa Mendes.
Os grandes portugueses (RTP).

Notícia no blogue Biblioteca & Companhia, no dia 19 de Abril.


segunda-feira, 16 de abril de 2012

"Ler a meias"... no Castelo Verde...


Na biblioteca ampla da EB1/JI da Cova da Piedade, estive eu hoje com três simpáticas turmas de 4º ano, uma de cada vez.
Feitas as apresentações, dei-lhes a escolher um de entre três livros: Lá vai uma... Lá vão duas..., de Luísa Dacosta; Histórias para ler e contar  ou O castelo verde, de Maria Isabel de Mendonça Soares.
Demos uma espreitadela às histórias e respetivas ilustrações, de Manuela Bacelar e de Marc (parecido com o professor Rui!). 
Quando se passou à votação, pareciam combinados: O castelo verde venceu, hora após hora. Numa das turmas, ganhou por unanimidade!


Todos quiseram saber o que se passaria naquele castelo de 7 torres, com 77 janelas, 777 degraus, coberto de 7777 folhas de hera e... sem porta! Qual seria a sorte da Princesa?... E como é que o Cavaleiro da Lua a conseguiria desencantar?!... 
Muita coisa a Autora contou, mas sobraram mistérios...
Casaram? Onde ficaram a viver? Tiveram filhos? Foram felizes para sempre???
O 4º A (da professora Cristina Peneda) rematou, sem dúvidas: "Tinham-se um ao outro, não precisavam de mais nada para ser felizes"! Tudo acabou bem de certeza - como sempre, nas histórias.
O 4º B conhecia-me do ano passado. A sua professora, Cristina Barradas, foi minha aluna!!! Esta turma, maravilhada, não parou de magicar: eles construíram um castelo indestrutível sobre uma nuvem enorme, com um lago; quando chovia, desciam para tomar banho de chuveiro; de vez em quando desciam à terra, escorregando pelas trepadeiras de hera; tiveram filhos; o cavalo também acasalou e nasceram póneis; cada criança ficou com o seu potro... Etc, etc... (Prometeram escrever a sua história.)
Pelo contrário, para o 4º C (do professor Rui), foi muita fantasia!... Viverem assim os dois, entre o céu e a terra?!... Não podia resultar!... Nããão!


Ninguém se queria ir embora... Nem tão-pouco a professora Manuela Caeiro!
Foi por isso que aceitou ler mais uma historiazinha: A sorte grande e as sortes pequeninas
E então ainda se conversou sobre as pequenas sortes que nos fazem felizes e às quais temos de dar valor!
As palavras são como as cerejas... Os sorrisos também...
Os meninos foram efusivos nas suas demonstrações de satisfação e simpatia. (Privilégio de visitante!)
Agradeço a simpatia com que todos me acolheram: as palavras, as flores (tão especiais), o almoço saudável, em sólida loiça...
Ofereci o meu trabalho... O prazer foi meu...







domingo, 15 de abril de 2012

A B R I L . . .

A Democracia está doente, afirmava há semanas Manuel António Pina.
A crónica, deixo-a aqui.


A acompanhá-la, uma canção de José Afonso:
"Por essa estrada, Amigo, vem 
(...)
Traz outro amigo também"...

sábado, 14 de abril de 2012

Tempo de poesia do Alandalus


Ibn Arabi, de Múrcia, do Alandalus do séc XIII:

(Excerto do poema;
tradução de Adalberto Alves, in “No Vértice da Noite”):

maravilha é a da formosura que usa véu
e mostra o desenho da tinta nos seus dedos.
ela faz sinais com o olhar
e tem em seu coração a pastagem.
oh a beleza de um jardim entre o fogo dos incêndios!
...
meu coração alberga qualquer forma:
é prado onde passeiam as formosas
claustro de monges
templo dos idolatras
Kaaba do peregrino
tábua da Tora e Alcorão.
eu sigo só a religião do Amor.
para onde quer que as montadas se encaminhem
a lei do Amor será sempre meu credo
e minha fé!
e, assim, vou ao jeito dos amantes.
...

quinta-feira, 12 de abril de 2012

«Ler a meias» por entre o trânsito...

As férias da Páscoa já lá vão e o último Período convida ao trabalho... Regressámos à Biblioteca da Escola Feliciano Oleiro. 
O cantinho das histórias mudou. Agora estamos junto ao lindo painel de azulejo do professor e pintor Louro Artur. 
A sessão tinha tema anunciado: segurança rodoviária de peões e ciclistas... 

Começámos por observar cuidados a ter ao andar nas ruas e ao atravessar uma passadeira; vimos alguns importantes sinais de trânsito; aprendemos sinais e comportamentos corretos dos ciclistas...
A grande invasão, de Isabel Minhós Martins, foi lido parcialmente à 1ª turma. Nas duas turmas, o trabalho que se seguiu foi idêntico: escolheram uma das histórias postas à disposição: Flávio e os sinais, de António Torrado, ou O dia em que o meu bairro ficou de pantanas, de Rosário Alçada Araújo. 

O 4º A da professora Lídia votou nesta última enquanto o 4ºA da professora Isaura optou pelo outro. Foi escolha fácil: já conheciam o conto e recordavam-se bem dele! Mas ainda houve tempo para reverem as ilustrações de Afonso Cruz.

Em ambas as turmas, depois dos comentários e histórias dos meninos, encerrou-se a sessão com um poema de Cecília Meireles: Ou isto ou aquilo e O último andar, respetivamente.








Despedimo-nos, certamente mais conscientes dos perigos a evitar, na confusão do trânsito da cidade. Saímos muito satisfeitos...


Já agora... Comparem o trânsito de hoje com o de há 120 anos atrás..., neste vídeo com música (de Erik Satie) e quadros dos pintores Pissarro, Jean Béraud e Caillebotte.


terça-feira, 3 de abril de 2012

"Um homem é feito de livros"...

José António Gomes, Sobre o Dia Internacional do Livro Infantil (*)

Um homem faz-se de livros. Falo do homem que os leu e, por isso, os guarda em si (alguns, pelo menos); e também do que os não leu, nem lerá nunca. Porque este simplesmente ignora que a sua vida é feita de livros. Ou antes, condicionada pelos livros: a Ilíada e a Odisseia, Platão e Aristóteles, a Bíblia e o Corão, O Capital, a obra de Freud… – que sei eu, que tantos livros tenho ainda para ler? 

Mas talvez nenhuns outros tenham feito mais um homem do que aqueles que leu na infância, pois se é garantido que um livro não transforma o mundo, certo é também que pode mudar a vida de um leitor. 

A gradual consciência disto me levou a guardar na estante, como num relicário, os livros que os meus dias de menino me pousaram no colo. E aqueles outros que o magro porta-moedas de criança de vez em quando me permitia adquirir, com a aquiescência dos pais. 

Grandes livros? Longe disso (tirando um ou outro). Mas que poderia eu saber, nessa época, dos grandes livros que enformavam o mundo? Para o menino que eu era, grandes eram, sem dúvida, os que lia. 

Sapato de Fogo e Sandália de Vento, de Ursula Wolfel, ensinava-me a alegria de ter um pai que nos leva a conhecer mundo, estrada fora. E que, por meio de parábolas (ou seja, de palavras), vai dando forma e sentido às comoções e conquistas, aos medos e enganos com que a vida nos torna o caminho suave ou pedregoso. Talvez um outro livro, Companheiros de Spártaco, de um obscuro Eric Houghton, me tenha inoculado a alergia à injustiça, à exploração do homem pelo homem. Terá sido A Gruta, de Nan Chauncy, a tornar-me para sempre sensível aos gestos de rebeldia? E os livros de aventuras que li até aos dez anos e que, sem sair de Portugal, me deram as primeiras imagens da Hungria, da Alemanha, da Andaluzia, dos Andes, da América do Norte, do Alasca ou da Nova Zelândia? (Lá ia eu à procura do mapa do mundo.) 

Muitos outros livros, certamente, me fizeram. Mas como não recordar a vez primeira que li a descrição de abertura de A Menina do Mar, de Sophia de Mello Breyner Andresen, estampada nas páginas do meu livro de Português do primeiro ano do liceu? Menino que amava a areia e o mar, os rochedos e os navios, como poderia eu ficar indiferente a essa espécie de poema em prosa que vinha envolver a praia numa aura de estesia, coisa nunca vista por mim nem “ouvida” (sim, porque ler, ler por hábito apura também o ouvido interior, aquele que nos diz se uma frase escrita possui, ou não, a eufonia, a elegância, a respiração necessárias). Pela primeira vez, o real, o “meu” real tomava a forma de palavras, isto é, convertia-se em linguagem. E que linguagem. Linhas de prosa que apetecia ler em voz alta saboreando cada palavra como se na língua se sentisse o sal da maresia, o granulado da areia, o rumor da água e das plantas e bichos marinhos. Com A Menina do Mar aprendi, talvez, sem disso ter ainda consciência, que as palavras não se limitam a dar nome às coisas, as palavras são, elas próprias, coisas – como a poesia, lida mais tarde com devoção, viria confirmar. 

Depois, terei entendido que a vida de cada um é uma construção, feita pelo próprio, pelos outros, pelo vasto mundo, e obedecendo a um projeto que em nós se vai esboçando. Mostraram-mo as biografias lidas na infância: de Joana d’Arc, de Mark Twain, de Pasteur, de Daniel Boone, de Abraham Lincoln… Mas também a de Camões, contada, em cromos de banda desenhada, pelos belos desenhos de Carlos Alberto Santos e pelo texto de José de Oliveira Cosme. 

Por isso, como não amar os livros, esses companheiros de sempre, na saúde e na doença, até que a morte nos separe? E como não sublinhar, uma vez mais, o papel essencial do livro infantil na sempre inacabada construção de um homem

In http://ainocenciarecompensada.blogspot.pt/2012/04/um-homem-e-feito-de-livros-sobre-o-dia.html 

(Sublinhados nossos.) 

(*) Dia Internacional do Livro Infantil - 2 de Abril, data do nascimento de Hans Christian Andersen (Odense, Dinamarca, 1805).


domingo, 1 de abril de 2012

Transformers... e Julieta transformada...

Há dias assim, estimulantes, cheios de agradáveis imprevistos... Como ontem.
Certo, certo, era o almoço romeno. E também um ensaio teatral a que poderíamos assistir.

Bom programa. Fomos!


Primeiro, à mesa: um caldo com carne e legumes cortados em pedacinhos. Depois da sopa, salsichas e rolinhos de couve lombarda, envolvendo arroz e carne picada. Ligeiramente picante, saboroso! Um preço transparente, justamente resultante da divisão custo total/nº de convivas. Apetecível!
Chuva anunciada, mas suspensa...
Venham comigo e tomem assento, à volta da figueira. 
Imponente, selvagem, mágica... 
Escutem!
Primeiro, os Transformers. Um grupo de jovens portugueses que exerce voluntariado social, partilhando os seus "superpoderes", cada qual "fazendo e ensinando a fazer o que sabe fazer melhor", apoiando, deste modo, instituições sociais, centros educativos, hospitais... tendo já formado mentores que desmultiplicam agora os talentos aprendidos... 
Jovens voluntários e solidários que gerem, organizam, realizam... Talentosos, comunicativos, ativos... extraordinários!
Fiquem mais um pouco. 

É a vez de conhecer Mario Gonzalez e a sua espantosa história de vida. Este encenador guatemalteco, septuagenário, falou da sua infância pobre e do teatro de fantoches que então fazia... Contou como, mais tarde, desenvolveu a arte da máscara para trabalhar na via pública, contra a vontade do pai, sem ser reconhecido... e como assim se transformou em clown, trabalhou anos no Cirque du Soleil, ensinou a sua arte no Conservatório Nacional (França), ganhou a vida dignamente... Encontra-se agora numa nova etapa da vida. Encena Julieta, dirigindo a atriz Elsa Valentim. Uma Julieta que faça jus ao papel igualitário da mulher na sociedade.
Venham comigo até ao teatro, assistir ao ensaio. 15 dias antes da estreia! (Coragem!)
Observem a atriz, irreconhecível na sua aparência de palhaço. Vejam-na transitar entre a Carmen-clown - que anuncia que vai representar e cantar, e que interage com o público bem como com um qualquer imprevisto - e a personagem shakespeariana, a que está habituada, num contexto diverso, clássico... 
Uma hora, cronologicamente medida, entre surpresas, risos, emoções e que depressa se esgotará... e o espetáculo termina, talvez inacabado ("como se da morte se tratasse")...
Que vontade de comentar, perguntar, escutar!... Ouvimos Elsa Valentim, Mario Gonzalez, Myra Eetgerink (assistente de cena), o público que pediu a palavra... 
A mim, para além do mais, enterneceu-me a simplicidade de Elsa Valentim e a insegurança na construção da sua personagem... (Não acontece apenas às aprendizes-principiantes. Mas isso eu não disse... Chiu, segredo meu!)
Gosto de dias assim, ricos, cheios de atividades e imprevistos estimulantes... 



Sugestão:
Quem quiser poderá assistir gratuitamente a um ensaio. Diariamente, entre as 21h30m e as 22h30m. No Teatro O Bando, em Vale de Barris (Palmela). Pessoalmente, quero ver a evolução da Carmen, nesta sua viagem... Voltarei!

A voz de uma jornalista...

"Um orador / 5 minutos"...
A oradora é jornalista: Sónia Morais Santos.
A sua comunicação: Vencer a Genética.
O tema? Exemplos reais de gente que luta contra a adversidade... 
Gente que contraria a comum tendência lamurienta de enaltecermos a fatalidade! E nos desvenda inúmeras formas de que se reveste a felicidade!