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quarta-feira, 14 de maio de 2014

"Histórias da minha rua"...

Histórias da minha rua
(dedicadas ao 3º A da EB1 do Pragal)

Moro no alto de um prédio de vários andares, numa rua de Almada. É um espaço amplo, sem grandes casas a tapar-me a vista... De um lado, avisto o Cristo-Rei e o Almada Fórum e, mesmo em frente, tenho um jardim cheio de árvores que me revelam nitidamente as quatro estações do ano; do outro lado, corre mansamente o rio Tejo e sigo com o olhar os barcos do Barreiro e do Seixal no seu permanente vaivém e, com frequência também, os navios da Marinha, a chegar ao cais do Alfeite.
É um prazer pôr-me à janela, de qualquer dos lados, desde que aprecio o Sol a nascer e a pintar o dia de cor-de-laranja até ser noite cerrada, quando a Lua brilha no céu como um farol…
Pela minha rua anda muita gente de variadas partes do mundo e etnias, uns que aqui moram e convivem em paz; outros de passagem... Alguns circulam de carro e muitos outros a pé, ora apressados ora nas calmas, sobretudo quando vão a subir, para mais se carregam pesados sacos ou mochilas... Cá de cima, oiço vozes, pedaços de conversas… É um bairro sossegado.
Esvoaçam pombos e gaivotas que repousam e grasnam nos telhados; na Primavera voam velozmente muitas andorinhas à caça de insetos, para alimentar as suas pequenas crias que as esperam nos ninhos. E depois, no Outono, lá vão elas todas, a fugir do Inverno...
No tal jardim, sentam-se idosos, enquanto vigiam os netos que brincam livremente; os mais crescidos formam improvisadas equipas de futebol e soltam gritos de alegria, sempre que marcam um golo.
Dantes, ouviam-se sirenes de uma padaria e de fábricas (que laboravam aqui perto), para chamar o pessoal. Hoje só se forem as de uma ambulância, de um carro dos bombeiros ou da polícia, sempre muito apressados... 
Em 41 anos que aqui vivi, vi nascer bebés que hoje já são pais, conheci famílias que para cá vieram morar e certo dia partiram para diferentes destinos… Assisti a alegrias e tristezas.
Queriam uma história da minha rua? Ora deixem cá ver...
Era uma vez… 
Não..., enfim, fica para outra vez!


domingo, 11 de maio de 2014

Liberdade?...

Liberdade... com limites!...


segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Do Mundo Rural para os Atos Urbanos...

A minha 1ª experiência de Expressão Dramática foi feita em Mundo Rural.
Penosa peregrinação, em longas tardes de sábado, semana após semana, mês após mês...
Penosa? Sim! E não apenas pela lonjura medida em litros de combustível. Dura, sobretudo, a peregrinação interior. 
Incompreensíveis receios e inibições, inesperados bloqueios... Sucessivos progressos e retrocessos... 
Persistência, enfim, muita teimosia, para chegar ao fim!
Alguns adjuvantes: afetos tecidos com O Bando e com o grupo. Espaço apetecido em plena serra... Desejo de aprender técnicas para usar em sessões de promoção da leitura (o grande objetivo de toda esta aventura).
O culminar do nosso trabalho, a nossa peça, intitulou-se Raça de ferro.
Perfeita metáfora, fazendo jus à tenacidade e resistência investidas.
Um produto final que suavizou a dolorosa dureza do percurso. 
- Terminou, pronto. E ponto - foi a decisão tomada e assumida.


Eis que surgem os Atos Urbanos.
No Ponto de Encontro de Cacilhas... A dois passos. Num espaço amplo, grandioso ponto de observação de Lisboa vendo-se ao espelho no Tejo, em cúmplice diálogo com esta margem... 
Num confortável horário pós-laboral, a meio da semana. 
Mais económico. 
A requerer uma apetecida caminhada... 
Para mais, com uma formadora que muito estimo (e que foi minha aluna): a Joana Sabala.
Dúvidas, desejos... Reflexão, resistências... Sim, por isto; Não, por aquilo... Vou?, Não vou?...
E exatamente assim mergulhei em Mundo Urbano.
Com outros receios e bloqueios.
A mesma recorrente e dura dúvida: desistir ou resistir? Para quê insistir?
Idêntico objetivo.
Progressos e retrocessos, de novo...
Acabo de chegar a uma conclusão: a Expressão Dramática é exercício de que a mente precisa… tal como o corpo o não dispensa.
Há que prosseguir. 
Ouvindo Ricardo Reis / Fernando Pessoa:
...nada/Teu exagera ou exclui. (...) Põe quanto és/No mínimo que fazes...
Aqui ao leme sou mais do que eu (...)


segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Na terra e no rio...

Enquanto o inverno se espreguiça..., já a irrequieta primavera espreita...


terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Vinte mil...

Não tarda, o "contador" assinalará o 20.000º leitor do blogue. Ou a 20.000ª passagem por aqui... Não deixa de ser um facto... surpreendente!
Na realidade, são ainda mais as visitas feitas ao blogue: esta função de contagem foi ativada muito depois da sua criação.
Um outro contador (bastante posterior...) indica-me que recebi, desde então até agora, visitantes de 31 países diferentes e respetivas percentagens: cerca de 73% de Portugal, 10% do Brasil, etc... E é curioso perceber que alguém do Luxemburgo, de Angola, Canadá, Timor, China ou Japão, por um qualquer motivo desconhecido, aqui veio ter...
Quem? Tal não é revelado! Impossível saber.
Sei dos amigos e familiares que deixam um comentário amigo, um simpático "olá"..., o que raramente é feito por desconhecidos.
Sei dos meninos que gostam de vir ler o que escrevi sobre a sessão com a sua turma, na sua escola, certamente ver as fotografias... O facto é que assim se prolonga e cumpre a função de promoção da leitura. É importante que assim suceda.
O blogue nasceu em novembro de 2007, numa formação sobre Bibliotecas Digitais, com a inesquecível  formadora Maria Teresa Teixeira. Por sinal, e casualmente, esta é a sua 300ª mensagem.
Resistiu. Evoluiu. 
Cresce e quer continuar a tecer palavras como criança aventureira.


terça-feira, 29 de junho de 2010

Em jeito de balanço, vamos a números!...



Findo o ano escolar 2009/2010, pretendo fazer um balanço do meu trabalho voluntário.
Findo..., ainda não! Aceitei um convite para participar em mais uma sessão de promoção da leitura nas Novas Oportunidades, no próximo dia 5 de Julho: Livros para Férias… Falta-me ainda colaborar nesse evento que estou agora a preparar, para também eu entrar de férias...

O meu negócio não é números… De facto, não!
Por isso mesmo, não resisto a começar por descrever o que sinto: foi um ano intenso e rico de leituras, experiências, afectos, formação… Um tempo útil e fértil, de objectivos concretizados, abrindo portas à esperança de contribuir para formar leitores autónomos…
Por todo o lado, eu senti, e afirmaram-me, que foi positivo.
O projecto Ler a Meias… foi avaliado por todos os intervenientes, nas instâncias próprias. O projecto do jornal on-line também. Apresentei os meus próprios Relatórios de balanço e, claro, a minha auto-avaliação reflecte o meu grau de satisfação.
Qualquer avaliação não dispensa números… Estes, se apresentados com rigor, permitem tirar conclusões, sem apelo nem agravo… Pragmáticos e exactos, facilitam leituras. Não me escuso, pois, a mostrar os meus:

Agrupamento Vertical de Escolas Anselmo de Andrade: 28 sessões







·         EB1/JI Conde de Ferreira - Ler a Meias - 26 sessões – (13 sessões/cada turma, quinzenalmente) -3º ano;   
·         EB1 Conde de Ferreira - Actividades de Enriquecimento Curricular (AEC) – 1 sessão (90m) - 4º ano;
·         EB1/JI Feliciano Oleiro - Actividades de Enriquecimento Curricular (AEC) – 1 sessão (90m) - 4º ano.
(Nota: Nas AEC, realizei um trabalho de parceria com a Drª Joana Sabala, minha ex-aluna e amiga).

Agrupamento Vertical de Escolas de Azeitão: 15 sessões
·         Em 4 escolas de 1º Ciclo deste Agrupamento - 8 sessões de promoção da leitura - 2º, 3º e 4º anos e Jardim de Infância (envolvendo 9 turmas).
·         EB1 de Casal de Bolinhos - projecto de edição do jornal on-line «Turmalinhos de Casal de Bolinhos» – 7 sessões.








EB 2.3 D. António da Costa7 sessões









·   1 Evento dirigido à comunidade escolar (adultos);
·         6 sessões de promoção da leitura - 5º e 6º anos/7 turmas e um grupo de alunos com Necessidades Educativas Especiais (NEE).







EB 1 de Almada - 2 sessões de promoção da leitura (Educação Ambiental) - 3º e 4º anos;

ES Monte de Caparica, Centro de Novas Oportunidades (CNO) - Livros Pedidos -1 sessão – adultos (alunos de diversas turmas – 6º e 9º anos);















EB 2.3 Conceição e Silva - 1 sessão - 5ºano (Evento: lançamento do bookcrossing)


Nuclisol, Instituto Piaget, Mirandela - Pré-Primária - 1 sessão de animação da leitura.

Em resumo:
·         11 escolas.
·         55 sessões (e mais uma ainda, por acontecer) – com duração média entre 45m a 1h; 2 de 90m; 1 ateliê de poesia, de 120m.
·         27 grupos/turmas (que participaram 1, 2, 8 ou 13 sessões/cada):
·         Diversos grupos etários (desde  4-5 anos a adultos);
·         Diferentes níveis de ensino (Pré-Primária; 1º, 2º e 3º Ciclos).
(...Fora os momentos em família e entre amigos, sempre que se proporciona...)

Feita esta enumeração, já nenhuma consideração desejo tecer…
Excepto que não referi:
·        a infinidade de horas aplicadas na selecção de obras… (as estantes "deitadas abaixo"... as idas a livrarias... e a Feiras de Livros...)
·         as inúmeras horas investidas na planificação do trabalho…
·         outras gastas na construção de materiais…
·         o tempo das deslocações…
·         a firme construção de um portfolio, com relatórios e materiais de todas as sessões realizadas, quer regulares quer pontuais, e o respectivo balanço final…
·         reuniões de trabalho, troca de e-mails com as professoras bibliotecárias…
.  o apoio que dei à construção/manutenção de blogues de bibliotecas escolares…
·         as horas de formação (pontual e voluntária) em Lisboa, Lourinhã, Óbidos, Braga…
·         os sucessivos sábados, de 7h de aulas/cada, num curso de Mediador de Leitura, que fiz em Évora…

Ah! E ainda nada disse do prazer que tudo me proporcionou!...
Nem acrescentei o mais importante de tudo:
-Os meninos do 3º ano, da Conde de Ferreira, fizeram do Ler a Meias, após a última sessão, a respectiva avaliação. Generosa e carinhosa. Considerando que aprenderam muito, "de forma descontraída"… Pedindo para eu voltar…
-E os meninos de Azeitão foram igualmente simpáticos e carinhosos, tão orgulhosos estavam das edições do seu jornal on-line. (Embora o meu papel se tenha restringido a encorajar, ajudar a organizar, pouco mais…)

A minha colaboração foi apreciada.
Estou grata a todos pela oportunidade… E pelo carinho demonstrado…
Valeu a pena? Foi proveitoso?
Então, até para o ano!
Entretanto, boas férias!

terça-feira, 11 de maio de 2010

Voltei à «minha» escola...

Hoje voltei à escola onde trabalhei nas últimas três décadas...
Voltei como desejava: com hora marcada, recebida por todos como um filho pródigo que regressa e é bem-vindo... convidada para uma sessão de promoção da leitura, com uma turminha de quinto ano, terna e atenta... Apenas com menos tempo do que seria desejável, mas logo hoje era dia de ir "Ler a meias" com os meus meninos de 3º ano da EB1 Conde de Ferreira: outros compromissos, horas marcadas...
Verdade, verdadinha, foi uma correria, para não perder o treino de "velhos tempos"... Não tão velhos quanto isso! Ao fim e ao cabo, os meus meninos de então eram alunos de 5º ano e estão agora a concluir o 6º. 
Passou-se um ano e picos... Parece mais..., mas hoje pareceu-me menos, ao sentir a sua recepção calorosa, acorrendo em bando cada vez que um grupo deles me via passar... Surpreendidos, alegres e afectuosos.
Na biblioteca, publicitou-se o livro, "uma extraordinária revolução, sem necessidade de cabos nem de electricidade nem sequer de conexão à Internet... com um acessório opcional (o marcador) que assinala o ponto exacto em que se ficou na sessão anterior, mesmo que o livro seja encerrado..." Soaram gargalhadas e a boa disposição reinou... 
A seguir, com António Torrado, percebemos como se fazem as apresentações entre um livro e o seu leitor... E então lemos histórias que pareciam para os mais novos, mas que encerravam mensagens para todas as idades, e também o inverso: um capítulo de um livro para mais crescidos que muito divertiu os mais novos... Enfim, concluiu-se que, fora as leituras obrigatórias,  temos de saber escolher o livro que nos dá prazer, o que varia muito de leitor para leitor... E um livro (de leitura recreativa) sabe esperar por nós, se ainda não tiver chegado o momento de o lermos. Um apontamento poético teve também lugar. Bem como uma "lição" acerca da felicidade...
Livros.
A ocasião convidava, de facto, a falar de livros: hoje foi relançado na escola o projecto Bookcrossing. E daí o convite.
Assistiram à sessão várias colegas e amigas - uma presença simpática e calorosa...
Foi um momento agradável e repleto de afectos este regresso à «minha» escola.
Tudo na mesma. Nem os pombos faltavam, no pátio do recreio.
Tudo na mesma, excepto a fita vermelha a impedir a aproximação ao "muro de cima", paredes-meias com a Marinha, em perigo de derrocada!...
Queria voltar. 
Assim, apetece.
Assim, dá gosto.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Promoção da leitura... emoção que perdura...

Mais um período escolar chega ao fim… E eu sinto bem as férias a aproximarem-se.
Promoção da leitura e escrita: treze sessões realizadas, desde Janeiro. Conto chegar à dúzia e meia, com as da semana que vem.
Muitas sessões, muitas emoções...
Voluntariado puro e duro, isto é, trabalho não remunerado, o que surpreende colegas e amigos: “Não ganhas mesmo nada?”
Para estes, a minha resposta é desconcertante: “Ganho muito! (...Um almoço... um lanche... um café..., umas flores ou um livro..., oferecidos pela Leonor, pela Fernanda ou pela Dina…, trabalhos feitos pelos meninos...) Tenho o prazer de o poder fazer, embora gratuitamente… O dinheiro não é tudo! Se fosse pago, não poderiam contratar-me; assim, como gostam, podem convidar-me…” 


Claro que seria juntar o útil ao agradável beneficiar de um rendimento extra. Confesso! Mas pondero, mais do que isso, os benefícios não pecuniários desta minha actividade, efectivamente voluntária, que me dá tanto trabalho quanto prazer, facilita o convívio com os meus pares e com as crianças e jovens, me mantém activa, informada… me traz reconhecimento, estima e auto-estima…


Uma actividade em que estou tão empenhada que me fez prosseguir a minha autoformação, realizando diversas jornadas de trabalho, em torno da promoção e mediação da leitura, e fazendo, neste momento, um curso de “Mediador de Leitura” (pago, obviamente, fora as deslocações).
As sessões que tenho desenvolvido nas bibliotecas têm corrido muito bem... Sinto a atenção e o interesse dos presentes, miúdos ou graúdos. Vejo depois, com agrado, os meninos, com quem trabalho regularmente, acorrerem espontaneamente à biblioteca escolar, no seu intervalo, para relerem as histórias e poemas que me ouviram ler e/ou procurarem obras que os motivei a “espreitar”…

 Às vezes, oiço comentários muito gratificantes… “A história foi muito bem contada…” - aprovou a professora Amélia (que acompanhou uma turma de 2º e 3º anos).
 “Saí daqui com ideias novas…” - afirmou, com simpatia, a professora Graça (4º ano), à despedida.
 “A colega sabe cativar os alunos!…” - declarou a professora Ana (6º ano), pedindo-me que repetisse a sessão para outra... e depois ainda mais outra... turma sua.
“Manuela, tu tens um dom!…”   declarou a minha amiga e colega Dina (professora bibliotecária), com uma pontinha de exagero, próprio da amizade...
Etc...
São igualmente gratificantes os comentários espontâneos dos meninos… 
“A professora lê, mas parece que faz teatro…” - opinou uma menina de 3º ano.
“Só de ter lido tantas poesias para escolher a que apresentei aqui, hoje, fiquei a gostar de poesia!” - confessou alegremente uma outra menina do 3º ano. (Como foi bom ouvir!)

A Catarina e a Yasmin (do 4º ano), que estiveram no 1º ateliê que realizei, escreveram: 
«Foi muito interessante esta experiência de escrita porque soltámos a nossa imaginação com a escritora Luísa Ducla Soares. Nós recomendamos esta experiência a todos os alunos desta região. Só desta região porque a professora Manuela Caeiro não pode ir a todo o mundo nem a todo o Portugal. Muito obrigada. Nós adorámos. Obrigada e volte sempre!!!»
Recompensa suficiente! Não concordam?!… Eu acho!... 
Nem sequer me habilito a um qualquer título, por exemplo o de “Professora reformada do ano”… :-)
Aliás, quais seriam os critérios de avaliação para tal, se nem percebi nunca ao certo quais os critérios para se distinguir o "Professor (no activo) do ano”?!... 
Uma curiosidade a satisfazer, agora que acaba de ser anunciado mais um, o professor (almadense) Alexandre Costa, indubitavelmente com grande mérito... seguramente difícil de medir e comparar...

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Dedicatória de Luís Sepúlveda, mensagem de Ano Novo...


A sombra do que fomos é o último livro de Luís Sepúlveda, editado entre nós.
A abri-lo, uma Dedicatória:
«Às minhas companheiras e companheiros que caíram, se levantaram, curaram as feridas, conservaram o riso, resgataram a alegria e continuaram a caminhar.»
Registe-se: um livro dedicado a companheiros heróicos - gente apta a  viver ao sabor de ventos e marés de ideais e contrariedades, teimando em resistir... Gente digna de admiração. 


Hoje é o primeiro de Janeiro, dia de Ano Novo.
Tempo de fazer votos... 


Sabemos bem que, na vida, nem tudo depende de nós; o factor sorte pesa nas oportunidades que se nos deparam, ao longo da caminhada... (logo à partida determinadas pelo contexto espácio-temporal e sociofamiliar em que nascemos). Contudo, muito do que nos acontece, dia após dia, ano após ano, é fruto da nossa vontade, por opções que fizemos, em determinado momento ou circunstância...
Fado? Não!
Saibamos sonhar, optar, planear, concretizar, fruir... adaptar, contornar, resistir... recomeçar.


Quais os meus votos para 2010? 
Que os desconhecidos companheiros e companheiras do Autor nos seduzam com o seu exemplo de coragem e persistência; que nos contagiem com o seu riso e alegria...


Sábias vozes anónimas ditam:
"Não há bem que sempre dure nem mal que nunca acabe."
"Façamos das tristezas, forças... e das forças, alegrias."


Transformo a dedicatória de Luís Sepúlveda numa mensagem de Ano Novo, síntese dos meus votos para 2010, para a próxima década, para o Porvir...




Foto: "Renascer" (01/01/2010)


sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

De Nordeste a "Oriente", porque é Natal...


A camioneta de carreira avançava, tão apressada quanto podia. Partira com significativo atraso. O limpa-neves demorara longo tempo a tornar as vias transitáveis… Só então saíra finalmente da estação o primeiro carro e entretanto todo o serviço se acumulara. Para mais, sendo época de muitos passageiros ou não fosse antevéspera de Natal.
A estrada nada fazia temer, mas o gelo que ainda se amontoava nas bermas aconselhava prudência ao motorista.
Os passageiros do Norte ignoravam, indiferentes, a paisagem. Tão pouco se deixavam surpreender pelo entusiasmo dos do Sul que, clic, clic…, não resistiam a mais uma fotografia que logo seria partilhada por telemóvel… E em breve legendavam-na, de viva voz: “Caiu tanta neve! Está tudo branco! Tão bonito!...” Tão maravilhados se sentiam que se esqueciam do desejo de chegar ao destino.
Os outros não. Na sua grande maioria, eram idosos, muito idosos. Seguiam viagem com vontade de permanecer em suas casas, junto da braseira, tranquilamente. Vinham de uma aldeia perdida na serra, já cansados de transbordos e longas esperas nas paragens, carregando sacos e saquinhos de mão, mais o saquito de viagem, uma caixa de papelão e outro saco de rede com couves da horta para a Consoada… Não fosse a insistência dos filhos bem como o desejo de estar junto deles no Natal e, seguramente, não estariam ali. Cheios de vontade e pressa de alcançar o destino, iam-se lamentando da viagem: «Eles, sim, eles é que deviam vir cá acima, como é costume…  Mas não quiseram vir, as estradas estão perigosas, as crianças… Eu é que já não tenho idade para isto!...»
Neste ponto, estavam todos de acordo.


O Sol mal conseguira romper as densas nuvens, durante aquele curto dia de Inverno. Agora despedia-se. Intensificavam-se o cansaço e a impaciência, à medida que anoitecia. Disso eram prova as constantes espreitadelas para o relógio e o contínuo cálculo do atraso previsto que, apesar da chuva e das  obrigatórias e necessárias paragens, por sorte se ia tornando cada vez mais reduzido.
Por fim, a estação Oriente - o final da viagem. Carros parados com luzes de perigo, braços à espera de pais idosos e dos sacos e saquinhos, caixas de papelão e sacos de rede com couves da terra para a Consoada - que subitamente se espalharam no cais, mal estacionou o autocarro e foi aberta a bagageira, a abarrotar…
Passos apressados. Vozes alegres. Dúvidas desfeitas. Lágrimas felizes. Abraços. Rodas chiando. Sacos arrastados com esforço. Ensaios para tudo caber nos porta-bagagens. Trás! Objectivo atingido, num abrir e fechar de olhos.
Despindo singelos casacos negros de malha, um a um iam entrando nos carros dos familiares que os haviam esperado e que rapidamente iam partindo. 
«Chegámos!» - pensavam, felizes, quase esquecidos do cansaço.
O cais regressava por fim à calma fria. Outros passageiros chegariam mais tarde. Tudo por um convívio familiar, em mais um Natal...

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Antologia Poética


Canção de uma sombra





Ah, se não fosse a névoa da manhã
E a velhinha
janela onde me vou
Debruçar, para ouvir a
voz das coisas,
Eu não era o que sou.



Se não fosse esta
fonte, que chorava,
E como nós cantava e que secou…
E este
sol, que eu comungo, de joelhos,
Eu não era o que sou.


Ah, se não fosse este
luar, que chama
Os espectros à vida, e se infiltrou,
Como fluido mágico, em meu ser,
Eu não era o que sou.


E se a
estrela da tarde não brilhasse;
E se não fosse o
vento, que embalou
Meu coração e as nuvens, nos seus braços,
Eu não era o que sou.


Ah, se não fosse a
noite misteriosa
Que meus olhos de sombra povoou,
E de vozes sombrias meus ouvidos,
Eu não era o que sou.


Sem esta
terra funda e fundo rio,
Que ergue as asas e sobe, em claro voo;
Sem estes ermos
montes e arvoredos,
Eu não era o que sou.




Teixeira de Pascoaes



In Andresen, Sophia de Mello Breyner, Primeiro Livro de Poesia, Caminho, 1996, 4ª edição, pp. 118-119





......................




Uma história de vida


(à maneira de... Teixeira de Pascoaes)





Sou a síntese da herança genética que transporto,
do que vi, ouvi, li, aprendi, vivi…
do que recordo e do que esqueci.
Sou o fruto da influência da família, dos professores,
dos meus amigos.


Se?…
Se eu não fosse habitada por tantas histórias e gentes
Eu não era o que sou.


Se eu não tivesse África como raiz da vida
Se não tivesse uma tetravó negra
avós e pai metropolitanos, emigrantes…
Se não tivesse pele branca e olhos azuis
Se não tivesse tido sempre o mar como horizonte do olhar…


Se eu não tivesse sido imbuída de uma cultura cristã
Se não tivesse tido mãe atenta e uma pequenina irmã
Se não tivesse tido um quintal, trepado às árvores,
descosido e rasgado vestidos na subida,
Arriscando um castigo, pois usar calças era proibido…


Se não tivesse aprendido a viver sem luxos
gerindo e gerando recursos
Se não tivesse mudado de continente, de país, de cidade… 
em viagem impregnada de mar, baloiçada num vapor,  dias a fio
Se não me tornasse imigrante…


Se não tivesse estudado o que estudei
Não tivesse partido solitária e autónoma
para uma cidade universitária,
lá longe, algures, algum tempo…
Se não tivesse sido professora durante décadas,
Bibliotecária, alguns anos,
Leitora,
Amadora amante de teatro, cinema, de arte, enfim


Se não gostasse de crianças
Se não conservasse em mim a criança que fui
Se não fosse desatenta e curiosa
Desajeitada e plena de energia
Insegura, querendo ser segura
Determinada a aprender


Se não tivesse sido Mãe repetidamente, uma vez… outra vez…
Se não tivesse sido Avó… uma, mais uma, mais outra vez…
e ainda outra vez virá…


Se não tivesse vez o casamento
o divórcio…
Se não permanecesse aberta à lição da vida
Ao desejo de a deixar fluir… e dela fruir, em plenitude…
Se não tivesse vencido cada dificuldade
como quem enfrenta um desafio
Se não tivesse quem me amparasse no voo…


Se não conservasse a saúde
Se perdesse a alegria
a espontaneidade
a inocência do olhar
a capacidade de sonhar


Se não fizesse projectos que dão sentido à vida
E não mantivesse a sede de evoluir e construir


Se deixasse de fruir da bonança
e de resistir à tempestade
Se deixasse de escrever
conviver
ver
fotografar
querer saber
querer viver
rir…


Se assim fosse
Eu não seria eu!


Eu não era o que sou.


Manuela Caeiro