quarta-feira, 7 de março de 2012

Antologia poética: A África, à Mulher

SAM DÓLÓ

Sam Dóló foi a mulata mais bonita
do Riboque de Santana...

perna de lagaia (1)
peito de fruteira
sorriso de goiaba
rebolar de maré...

Ai Sam Dóló... Sam Dóló!

dizem que quando o vento acompanhava a brisa
na sombra do cafezal
suas coxas ofereciam ternura a todo o falcão
que passasse no ar
e às vezes deixava
que suas asas de ouro e marfim
se abrissem aos sonhos transparentes
e brônzeos
levados pela tarde
até ao riso do poente

Ai Sam Dóló... Sam Dóló!

Mas um dia Sam Dóló resolveu-se a partir
e a terra negra do Riboque de Santana
abriu-se à imensidão
da noite vazia e muda

e ainda hoje no pousio da tarde
nas estórias que dela se contam e recontam
os homens suspiram e dizem numa saudade

Ai Sam Dóló... Sam Dóló!

Olinda Beja, Aromas de Cajamanga,   Escrituras Editora, S. Paulo, 2009
Ilustrador: Sérgio Lucena

Olinda Beja, poeta e narradora, professora, deliciou uma imensa plateia com este poema que disse de forma inesquecível, no Convento dos Capuchos... (Eu estava lá!)

(1) lagaia - raposa

2 comentários:

Anónimo disse...

No 8 de Março, relembra-se a luta das operárias de Nova York (que morreram na fábrica incendiada pelo patrão).
Mas relembra-se também os direitos iguais. Inclusivé o direito ao prazer sexual, contra a mutilação genital feminina.
Muito inteligente recordar a poesia de Olinda Beja, parabéns a todas as mulheres lutadoras.
Joaquim

Manuela Caeiro disse...

Sem dúvida, Joaquim! Este dia assinala uma luta de séculos, das mulheres, pela sua emancipação. E ainda há muito a fazer por uma justa igualdade!