sábado, 26 de julho de 2008

Faltam cinco minutos...


Atravesso o jardim… e reparo no chão atapetado de folhas amarelecidas!...

Tanto tempo à espera das férias, dos dias longos sem pressa, dos passeios à beira-mar, ao sol e ao luar, do repouso sem horário, do tempo de acarinhar desejos adiados – o livro que se não leu, a viagem que se não fez, o encontro por acontecer… – e subitamente, antes que seja iniciado o exercício do direito ao Verão, já o Outono se anuncia…

Injusto para quem teve um ano tão longo e atribulado… tão preenchido de trabalhos e responsabilidades, de correrias entre intransigentes toques de campainha, de escassez de tempo para realizar tarefas imprescindíveis, às quais a infindável lista de prioridades ditava, sucessivamente, ordem secundária… com o relógio impondo limites ao excesso de trabalho…

Agora, férias!...
Urge contrariar o Outono que se anuncia, gozando o calor que permanece, a liberdade dos corpos seminus, envoltos em vestes vaporosas que filtram os beijos do sol, o fascínio perpétuo de cada nascer e adormecer do astro que ilumina os dias, ignorando, por imposição pessoal, tudo o que ficou por rever ou fazer… abraçando, com ternura, o imprevisto do porvir, o sabor da aventura do quotidiano… com alma e coração...

Inexoravelmente, faltam poucas semanas para o retorno ao serviço, para o recomeço de um novo ano, a acontecer num Outono que já lançou o seu pré-aviso… tal como avisamos uma criança, que se diverte no parque infantil: “Vá, aproveita! Daqui a cinco minutos, vamos embora!”…
E então o menino lança-se prolongadamente na sua última volta no baloiço e no escorrega… do mesmo modo que eu corro a aproveitar os meus “cinco minutos”…
Até já!...
Boas férias!...

quinta-feira, 17 de julho de 2008

As palavras dos outros


«Desiderata

Vai serenamente por entre a agitação e a pressa e lembra-te da paz que pode haver no silêncio.
Sem seres subserviente, mantém-te tanto quanto possível em boas relações com todos. Diz a tua verdade calma e claramente, e escuta com atenção os outros; mesmo que menos dotados e ignorantes, também eles têm a sua história. Evita as pessoas barulhentas e agressivas: são mortificações para o espírito. Se te comparas com os outros, podes tornar-te presunçoso e melancólico porque haverá sempre pessoas superiores e inferiores a ti. Apraz-te com as tuas realizações tanto como com os teus planos.
Põe todo o interesse na tua carreira, ainda que ela seja humilde: é um bem real nos destinos mutáveis do tempo. Usa de prudência nos teus negócios porque o mundo está cheio de astúcia, mas que isto não te cegue ao ponto de não veres virtude onde ela existe; muitas pessoas lutam por altos ideais e, em todo o lado, a vida está cheia de heroísmo.
Sê fiel a ti mesmo. Sobretudo não simules afeição nem sejas cínico em relação ao amor, porque em face da aridez e do desencanto ele é perene como a relva.
Toma amavelmente o conselho dos mais idosos, renunciando com graciosidade às ideias da juventude. Educa a fortaleza de espírito, para que ela te salvaguarde numa inesperada desdita. Mas não te atormentes com fantasias. Muitos receios surgem da fadiga e da solidão.
Para além de uma disciplina salutar, sê gentil contigo mesmo. Tu és um filho do Universo e, tal como as árvores e as estrelas tens o direito de o habitar. E quer isto seja ou não claro para ti, sem dúvida que o Universo é-te disto revelador. Portanto, vive em paz com Deus, seja qual for a ideia que Dele tiveres. E, quaisquer que sejam as tuas lutas e aspirações, na ruidosa confusão da vida, conserva-te em paz com a tua alma.
Com toda a sua falsidade, escravidão e sonhos desfeitos, o mundo é ainda maravilhoso. Sê cauteloso. Luta para seres feliz!

M. C.»

Estas iniciais nada têm a ver com Manuela Caeiro. A sério! Nada sei dizer sobre o seu autor.
...Polémico? Talvez! Mas muito sábio, também!... Um bom lema de vida para cada um de nós!
É preciso viver... sabendo contornar as esquinas da vida...