terça-feira, 21 de novembro de 2023

Olá!

Olá!, palavra musical, breve.

E vejam bem como esta palavrinha ganhou relevo ao celebrar-se hoje o Dia Mundial do Olá. (Efetivamente, tal como tudo o resto, as palavras não se medem aos palmos.)

Este cumprimento curto é suficiente para estabelecer a comunicação com outrem, ainda que seja um desconhecido, dando a sensação de proximidade com quem nos saúda, talvez proferido num tom alegre e sorridente. De repente, faz-nos sentir bem-vindos. E seguimos mais otimistas, cada qual no seu caminho, sem mais palavra. Tanto basta.

Fala-se hoje em dia de epidemia da solidão. Apela-se a usarmos este simples cumprimento que por si só constitui uma ajuda preciosa para evitar o isolamento (e depressão) de jovens e, mais ainda, de idosos. Para estimular laços sociais, afetivos. 

Quem não se lembra dos "bons-dias" que trocávamos ao cruzarmo-nos com gente da aldeia dos avós? 

Vivi uma experiência idêntica em Bolton (Reino Unido). O inglês para cá, eu para lá, a palmilhar terra desconhecida, e como me senti bem ao ouvi-lo: "´mo´ning"! (Tal e qual, neste jeito abreviado de pronunciar...)

Declino o "Olá", que considero demasiado familiar. Talvez por estas memórias, opto pelo "bom-dia" ou "boa-tarde" ao cruzar-me com gente em pedovias, sejam portugueses ou estrangeiros, quer em estrada ou num parque. Mesmo em Lisboa. Na verdade, a resposta é sempre viva e prazenteira. Comprovo o seu poder!


sexta-feira, 20 de outubro de 2023

Em Quarto Crescente...

O que é feito de mim?

A vida continua. Apenas o ritmo se tornou mais lento.

Disse adeus a muitas das atividades que me davam prazer, mas não todas: leituras, caminhadas, fotografia... basta querer e gerir o tempo.

Deste blogue-companheiro fiz, em tempos, diário, poemário... através dele, cresceram amizades. 

A Lua vai em quarto crescente. Inspiradora.

Convite ao 
recomeço.


terça-feira, 26 de julho de 2022

Aconteceu...


Um novo salto até aos SSAP, desta vez para um tributo aos avós, no seu dia.

Consta que Ana Elisa do Couto, uma penafidelense e avó de seis netos, durante longo anos, pugnou por esta comemoração. O dia escolhido para tal foi 26 de julho, dia de celebração dos avós de Jesus. 

A palavra avós, esconde um segredo gramatical. Um avô e uma avó não são "os avôs", mas sim "os avós". Mantém-se a forma feminina do nome, ao contrário da regra geral, em que o masculino prevalece. Surpresa!

Podemos imaginar explicações - as avós cuidam mais, etc... Contudo, as línguas têm os seus segredos. E a verdade é que sabemos de netos com grande amor e dedicação aos seus avôs e vice versa. Saramago e o amor pelo seu avô Jerónimo, por exemplo.

Alice Vieira proporcionou-nos reflexão sobre ser avó nos dias de hoje, em que o mundo mudou, a disponibilidade das avós pode não ser a mesma e não temos de nos inquietar por isso. Há uma relação de cumplicidade a cultivar, com sabedoria e alegria, que a todos beneficia.

Veio à baila o envelhecimento. Uma crónica de Maria Filomena Mónica ajudou a abordar o tema, salientando aspetos positivos e ainda mais os negativos... Mas "envelhecer é saber isto", conclui.

Momento de humor veio de três crónicas de Paulo Farinha, publicadas no Notícias Magazine: 1) Recados para uma avó que vai ficar com os netos alguns dias em agosto; 2) Resposta da avó que ficou com os netos alguns dias nas férias; 3) Troca de mensagens dos netos que ficaram com a avó nas férias. Divertidíssimo!

Os presentes intervieram, salientando memórias dos seus avós e a ligação aos seus netos. O mais novo neto do grupo é um bebé de 11 meses. Já não tem a bisavó curandeira que tratava meninos aguados e outras maleitas, com as suas mezinhas.

Alguém destacou a alegria de ver a sua rua animada por crianças que frequentam a escola Alice Vieira, nos Olivais... Esta senhora recordou as aulas de História que o avô dava diante da estátua do Marquês, a si e demais netos, na infância. Com pouco proveito, ao que parece, mas de boa memória.

Por se falar nisso, acabámos por ler o conto Trisavó de pistola à cinta em que a heróica trisavó Benedita, que supostamente tinha vivido no tempo das invasões francesas, afinal vivera no tempo dos Filipes e era tudo menos patriótica... Findo este mito familiar, adeus ao nome de Benedita de todas as primogénitas das sucessivas gerações...

Para terminar, um belo poema vindo da assistência.

E assim encerrámos este momento de partilha de palavras, revisitando autores e textos que proporcionaram prazer, livre troca de ideias, opiniões, gargalhadas e aplausos.


Bibliografia:

Alice Vieira, O livro da avó Alice, lua de papel

Alice Vieira, Trisavó de pistola à cinta e outras histórias, Caminho

José Saramago, As pequenas memórias, Porto Editora

Maria Filomena Mónica, Nós, os portugueses, Quasi

Webgrafia:

https://www.noticiasmagazine.pt/2017/paulo-farinha-recados-avo/cronicas/102635/

https://www.noticiasmagazine.pt/2017/paulo-farinha-resposta-avo/

https://www.noticiasmagazine.pt/2017/paulo-farinha-mensagens-netos/



 


segunda-feira, 2 de maio de 2022

Pela Linha Amarela...



Pela Linha amarela, depressa se vai da Quinta das Conchas ao Saldanha.

Uma visita casual, uma perfeita coincidência, um convite de última hora para planear um Tributo às Mães daquele Centro de Convívio de seniores. Hesitação de segundos. De imediato, desafio aceite! 

Valeu-me a memória, a Internet, o Diário de Notícias (edição impressa), um livro que tenho por perto...

Da crónica à tradição oral, da canção à entrevista, de alguns autores consagrados a outros desconhecidos - com seus blogues e livros por descobrir..., a verdade é que, no meio desta aparente salgalhada, a sessão alternou momentos sérios e hilariantes, divertidos e dramáticos, mais e menos emotivos..., num alinhamento que se revelou feliz e equilibrado.

O tempo correu veloz. A escuta foi total; a participação, bem-vinda e espontânea; a simpatia, transbordante.

Na verdade reencontrei vários amigos de outrora... (Surpresa geral.) E cruzei-me com gente nova.

Partilhei palavras, prazer. Regressei muito feliz. E agradeço a oportunidade. (Outras ficaram em suspenso...)

Pela Linha Amarela, depressa se vem do Saldanha à Quinta das Conchas. De coração aos pulos, melhor ainda.

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Para nossa memória (em sequência):

Inês Teotónio Pereira, Coisas de família, As mães não têm dias, DN, nº 55892, 30 de abril de 2022

Quadras Populares (Tema: Mãe)

José Afonso, Minha mãe e Quanto é doce

Entrevista de Anabela Mota Ribeiro a Sérgio Godinho (Referência à madrasta dos contos tradicionais)

Blogue lado.a.lado, Dicionário da língua dos filhos, 25 de abril de 2022

Blogue lado.a.lado, Língua materna, língua maternal (*), 24 de abril de 2022

Eugénio de Andrade, Poema à mãe (extraído da Net)

Adriana Sydor, recomendações, in O amor e outros sufocos, Urutau, 2021

Blogue lado.a.lado, O que é a primavera? (*), 28 de abril de 2022

(*) Título por mim atribuído.



quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Novo ano, idêntica indefinição...

Foi em março de 2020 que a minha atividade voluntária de mediação de leitura foi suspensa. A pandemia, o fecho das escolas, o cerrar portas dos Centros de Dia, etc, coincidiram com um acontecimento de ordem familiar que me forçou a um novo rumo de vida. Mãe idosa com um súbito problema de saúde ditou novas rotinas diárias. Tudo precisamente na mesma altura.

O blogue reflete essa diferença. A falta de publicações é sinónimo de fim: fim de pesquisa e divulgação de livros junto de vários públicos, fim de convívios presenciais..., fim de um exercício de cidadania que me causava imenso prazer. (Mas não o fim da leitura e dos encontros virtuais de comunidades de leitores, conforme já contei.)

É difícil saber quando parar uma atividade voluntária. Queremos poder fazê-lo enquanto realizamos com qualidade o que nos propomos levar a cabo. Por isso tenho encarado esta paragem como um alerta de que chegou a hora. Por outro lado, assaltam-me de quando em vez vontades contraditórias...

A vida continua: estranha. Com uma 3ª vaga da pandemia a ditar sucessivas restrições ao confinamento, a limitar a nossa liberdade. Porém, permitindo trabalhar serenamente, dentro de portas. Com réstias de sonho.

O futuro vem aí. Haja saúde e recuperação de projetos de vida, para todos nós. Urge recuperar a economia do país...

O resto... depois se vê.





terça-feira, 21 de julho de 2020

Estantes abertas à janela...

Tenho lido bastante, nesta quarentena.
Tenho participado em mais comunidades de leitores do que quando eram exigidas deslocações e tempo para as mesmas. (Não é bem a mesma coisa, mas há vantagens…) Verdade seja dita, nem todas as anteriores atividades transitaram para plataformas digitais, deixando espaço livre para novos voos.
Levaram volta preciosidades de estantes várias…; as montras virtuais são tentadoras… Livrarias independentes e edições de autor merecem atenção. Leituras on-line, também: crónicas, poesia, informação…
A minha leitura de livros sucede-se ao ritmo dos temas dos sucessivos encontros virtuais (entremeada, por vezes, por outras que atraem e distraem). Algumas comunidades implicam o compromisso de ler determinada obra para comentar na sessão vindoura. Outras, a seleção de um excerto para leitura em voz alta, ora sujeito a determinado tema, ora livremente.
É menos fácil do que parece escolher um livro, depois o tal excerto, e lê-lo, por fim,em voz alta, de modo a ser clara e prazerosamente escutado… É mais fácil do que parece a obrigação de ler com um prazo a cumprir, visto ser voluntário; caso contrário, quantos livros continuariam pacientemente à espera?…
Querem saber quais os temas que têm norteado as minhas leituras, desde março? (Para cada sessão, claro!, imaginem a habitual escolha árdua…) Foi assim:
- O inverno dos dias (em torno do Holocausto) e Quatro contos quatro mundos  - com a Associação Almada Mundo;
- (Re)descoberta dos livros cá de casa; Triângulo amoroso entre verão, férias e livros (com a Ler Ler - da Escrever Escrever -, em parceria com a Biblioteca Camões);
- Leituras da Quarentena (com a Bertrand Chiado);
- Com a Biblioteca Municipal Almeida Faria, de Montemor-o-Novo - a 1ª a sulcar novos rumos, e a mais constante em encontros virtuais -, inúmeros e variados foram os temas para as Leituras em casa: Alegria; O 25 de abril; A literatura e o trabalho; (Re)Ler os clássicos; Literatura de viagens; Literatura africana; Literatura asiática. Tema livre (mais do que uma vez).
Acima de tudo, saliento o convívio com estes leitores que, distantes, unidos pelos livros, irromperam casa dentro, desfazendo silêncios e solidão de dias monótonos... reforçando laços de amizade.

quarta-feira, 15 de julho de 2020

LER LER, na Biblioteca Camões. Verão, férias e livros...



 Tem quatro anos esta tertúlia mensal, em que lemos excertos, sujeitos ao tema de cada sessão, e conversamos livremente sobre os mesmos... Contamos com o Thales Soares (promotor cultural da Biblioteca Camões, sempre disponível) e com as dinamizadoras Conceição Garcia e Cristina Borges (professoras da ESCREVER ESCREVER).
Pude assistir às várias fases desta tertúlia de leitores que tem evoluído nos métodos, persistindo no grande objetivo de evocar escritores e dá-los a ler.
Ultimamente, temos sempre à mão de semear uma vasta oferta de livros das BLX, além de, como sempre, podermos recorrer às nossas bibliotecas pessoais. E as derradeiras sessões, inovação das inovações, tiveram lugar (claro!) através da plataforma Zoom.
Eu fora convidada, há muito, para dinamizar uma das sessões finais. Optara por 1 de julho, tempo de férias escolares e de maior disponibilidade...
O tema, escolhido a pensar em verão+férias+leituras, ficou rapidamente assente: Refrescos livrescos, leituras com perfume refrescante...
O Zoom, só domino como utilizadora. Mas a Conceição estava lá...
Enquanto mediadora, podia falhar... Mas estava presente a Conceição. E a Cristina, também!...
A escolha de livros revelou-se facílima: cada qual tinha os de lá de casa...
Um refresco para brindar: fiz um de café e limão, com pau de canela (houve quem lhe chamasse capilé). Apareceram refrescos para todos os gostos, e houve inclusivamente quem rapidamente recorresse à garrafeira de casa...

Tudo correu maravilhosamente: as recordações associadas a férias de cada um, os excertos escolhidos e lidos (a Conceição ficou de listar as obras; eu depois conto...), a conversa, as receitas de refrescos e os brindes finais propostos pelos presentes. Acreditem que brindámos a tudo e mais alguma coisa; nem sequer faltou um brinde à preguiça!

Um encontro muito saboroso. Digo eu que considero ter sido... prova superada.
Agora sim, estou em férias!
Muito obrigada a todos.


sexta-feira, 19 de junho de 2020

Adeus, 2019/2020!


Terminariam hoje as aulas (presenciais) no 1º Ciclo, neste ano que viu escolas serem encerradas no mês de março, serviços fechados, ruas desertas, aviões em terra, famílias confinadas, a estudar e a trabalhar a partir de sua casa, de olhos postos nos noticiários... por causa de um mini-mini-vírus, contagioso e letal, que se propagou a todo o mundo.
Uma palavra se sobrepôs a cada compromisso registado nas agendas: Cancelado.
E o Ler a meias... não foi exceção.
Dia 4 de março teve lugar a nossa última atividade de mediação leitora, numa altura em que haviam sido realizadas 26 sessões.
(Destaco ainda a I Tertúlia na Universidade Popular Almada, de muito boa memória, que não entra nestas contas...)
Faltavam muitas, muitas mais. Nada menos do que 25 sessões já agendadas... (15, no Agrupamento Anselmo de Andrade; 10, no Agrupamento da Caparica). E isto sem contar com mais algumas na ARPILF, e talvez também alguma no Centro Comunitário do Laranjeiro/Feijó.
Enfim, ganhámos férias antecipadas (para mais, sem perder qualquer rendimento, visto tratar-se de voluntariado).
Muita coisa, entretanto, mudou.
Teremos ânimo para recomeçar?
Ah, mas este ano, para nós, fechará a 1 de julho, via Zoom, na Ler Ler da Escrever Escrever, em parceria com a Biblioteca Camões. Serão os Refrescos Livrescos: um trinómio de verão+férias+leituras.
Cada participante com seu excerto e, vá lá, com um refresco à mão (de receita secreta ou desvendada).  Para brindarmos.
Um brinde à vida e ao futuro. À leitura.

Balanço de 2018/2019: aqui.


quarta-feira, 18 de março de 2020

De mãos dadas com histórias e memórias...

Na ARPILF.
Na 6ª feira 13... de março.
Correu tudo bem. (E sem a minha presença...)
A preparação foi conjunta. A realização ficou a cargo de Dina Dourado, minha parceira nestas atividades com idosos, neste ano letivo, em representação da Universidade Popular Almada.
Contou-nos a Dina o seguinte:


«Feitas as saudações habituais, iniciámos a sessão relembrando as efemérides deste mês de Março: dia da mulher, no dia 8; dia do Pai, a 19; dia da Poesia, dia da Árvore (ou da Floresta) e chegada da Primavera, a 21.
Começámos por cinco quadras que, anteriormente, nos tinham sido apresentadas por uma senhora residente. E relembrámos depois quadras de António Aleixo. O momento foi propício a que os idosos participassem com outras quadras e até com algumas adivinhas, por exemplo: «Verde foi meu nascimento e de luto me vesti. Para dar luz ao mundo mil tormentos padeci. Quem sou eu?» ou «Qual é a árvore que dá fruto, mas não dá flor?». Sabem?
Lemos, de António Gedeão, o Poemas das Árvores. Seguidamente, o poema-receita de Xico Braga Versos da Foz dos Rios do livro Receitas Poéticas.
Após estas leituras e algumas trocas de considerações, quis relembrar o dia Internacional da Mulher com uma breve apresentação da sua origem e leituras onde, de alguma forma, a mulher surge em lugar de grande destaque. Assim, comecei por ler um pequeno excerto do livro A Pirata, de Luísa Costa Gomes, precisamente aquele que mostra a tenacidade e a teimosia de uma mulher que pretende casar a todo o custo, apesar da relutância do seu apaixonado. Seguiu-se a apresentação de duas histórias: O Milagre das Rosas in Lendas Portuguesas e  A Velha e o Ladrão in Contos Populares e Lendas, coligidos por José Leite de Vasconcelos.
Depois de algum diálogo com os residentes, a sessão terminou com a apresentação do livro Os Adultos? Nunca! , de Davide Cali e Benjamim Chaud.
Por fim, decidimos que o próximo encontro será agendado assim que a problemática suscitada pela atual pandemia provocada pelo corona vírus tiver melhorado.»

Sessão anterior, em janeiro.




sexta-feira, 6 de março de 2020

Mulheres: sedução, submissão, insubmissão...


XERAZADE

Para se vingar de uma, que o atraiçoara, o rei degolava todas.
Casava-se ao crepúsculo e ao amanhecer enviuvava.
Uma após outra, as virgens perdiam a virgindade e a cabeça.
Xerazade foi a única que sobreviveu à primeira noite, e depois continuou a trocar um conto por cada novo dia de vida.
Estas histórias por ela escutadas, lidas ou inventadas, salvavam-na da decapitação. Contava-as em voz baixa, na penumbra da alcova, sem outra luz que não a da lua. Sentia prazer ao contá-las, e prazer oferecia, mas tinha muito cuidado. Às vezes, enquanto narrava, sentia que o rei estava a estudar-lhe o pescoço.
Se o rei se aborrecesse, ela estava perdida.
Foi do medo de morrer que nasceu a mestria de narrar.


ALERTA: BICICLETAS!

A bicicleta fez mais do que muito e mais do que qualquer pessoa pela emancipação das mulheres no mundo – dizia Susan Anthony.
E dizia a sua companheira de luta; Elisabeth Stanton:
- Nós, mulheres, viajámos a pedal até ao direito de voto.
Alguns médicos, como Philippe Tissié, avisavam que a bicicleta podia provocar o aborto e infertilidade, e outros garantiam que este indecente artefacto induzia à depravação, porque dava prazer às mulheres que esfregavam as suas partes íntimas contra o assento.
A verdade é que, por culpa da bicicleta, as mulheres podiam deslocar-se por sua própria conta, desertavam do lar e desfrutavam do perigoso gostinho da liberdade. E por culpa da bicicleta, o opressivo corpete, que as impedia de pedalar, saiu do roupeiro e foi parar ao museu.

Galeano, Eduardo, Mulheres, Antígona, 2017

Na badana: «…sucedem-se nesta galeria mulheres corajosas, míticas e de carne e osso, gestos de feliz insubmissão no feminino e vidas tantas vezes invisíveis e silenciadas.»