SAM DÓLÓ
Sam Dóló foi a mulata mais bonita
do Riboque de Santana...
peito de fruteira
sorriso de goiaba
rebolar de maré...
Ai Sam Dóló... Sam Dóló!
dizem que quando o vento acompanhava a brisa
na sombra do cafezal
suas coxas ofereciam ternura a todo o falcão
que passasse no ar
e às vezes deixava
que suas asas de ouro e marfim
se abrissem aos sonhos transparentes
e brônzeos
levados pela tarde
até ao riso do poente
Ai Sam Dóló... Sam Dóló!
Mas um dia Sam Dóló resolveu-se a partir
e a terra negra do Riboque de Santana
abriu-se à imensidão
da noite vazia e muda
e ainda hoje no pousio da tarde
nas estórias que dela se contam e recontam
os homens suspiram e dizem numa saudade
Ai Sam Dóló... Sam Dóló!
Olinda Beja, Aromas de Cajamanga, Escrituras Editora, S. Paulo, 2009
Ilustrador: Sérgio Lucena
Olinda Beja, poeta e narradora, professora, deliciou uma imensa plateia com este poema que disse de forma inesquecível, no Convento dos Capuchos... (Eu estava lá!)
(1) lagaia - raposa
2 comentários:
No 8 de Março, relembra-se a luta das operárias de Nova York (que morreram na fábrica incendiada pelo patrão).
Mas relembra-se também os direitos iguais. Inclusivé o direito ao prazer sexual, contra a mutilação genital feminina.
Muito inteligente recordar a poesia de Olinda Beja, parabéns a todas as mulheres lutadoras.
Joaquim
Sem dúvida, Joaquim! Este dia assinala uma luta de séculos, das mulheres, pela sua emancipação. E ainda há muito a fazer por uma justa igualdade!
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