- Nos dois sentidos se pode entrar e sair - dizia o senhor Valéry, todo contente.
Ele gostava da sua casa de férias.
Melhor só mesmo uma casa com quatro portas, em quadrado, sem nenhuma parede.
O centro a restar como o único sítio onde se pode estar sentado.
O senhor Valéry fez um desenho.
Chamou-lhe: a casa das quatro portas juntas.
Entra-se por qualquer lado e é sempre igual. É esta a casa de férias que eu quero - dizia o senhor Valéry.-Evitarei perder-me em compartimentos - dizia. Só existirão portas. É que só consigo repousar se não tiver que decidir nada, e para que isso aconteça é indispensável não existirem opções. Parece-me lógico.
-É um sonho que eu tenho, esta casa - murmurava o senhor Valéry. - Seriam as férias perfeitas.»
Tavares, Gonçalo M., O Senhor Valéry, Caminho, 2008, 4ª ed, pp. 27-28
Desenhos de Rachel Caiano
Os seus vizinhos são também curiosas personagens de outros tantos livros de Gonçalo M. Tavares.
Imagina!