Quando ele se acercou de mim, estávamos
em local concorrido de turistas. Jovem, alto, ar amável. Quereria alguma
informação?
Falou-me em italiano. Respondi,
com hesitação. Ensaiou nova tentativa: english?...
Reparei no seu saco cor de mar. Volumoso.
Quereria vender-me algo?
Entretanto, ele continuava em busca
da melhor forma de dizer ao que vinha, língua após língua… Percebi, já não sei dizer
em qual delas, que pretendia contar-me uma história.
“Escritor? Venderia livros?”
- Não!
E seria pouco relevante perceber
a língua - retorquiu ele, quando duvidei da minha capacidade de compreensão.
“É bem possível!” E crescia a minha curiosidade.
Perspicaz e poliglota, sem mais
demoras, o improvisado contador de histórias desfiou um mar de palavras, gesticulou brevemente, recontou, recitou de cor, por
vezes alongando o olhar para esgravatar o fundo da memória… Naveguei à bolina na sua voz.
Apreendi apenas a melodia daquele mar de fonemas.
Retive simplesmente a poesia deste encontro.
Agradeceu-me o sorriso:
seria paga bastante, mas aceitou, sobre o seu barrete vermelho entre mãos, humilde e grato, modesta paga…
Eu cruzara-me, afinal, com um jovem mercador de coisa nenhuma, que seguiu semeando e colhendo sonhos…
Foto de um outro viajante, em diverso tempo e lugar...
Nota: O mercador de coisa nenhuma, de António Torrado, é um conto para crianças de todas as idades...
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