segunda-feira, 18 de março de 2013

Mar de palavras, melodia de fonemas…


Quando ele se acercou de mim, estávamos em local concorrido de turistas. Jovem, alto, ar amável. Quereria alguma informação?
Falou-me em italiano. Respondi, com hesitação. Ensaiou nova tentativa: english?...
Reparei no seu saco cor de mar. Volumoso. Quereria vender-me algo?
Entretanto, ele continuava em busca da melhor forma de dizer ao que vinha, língua após língua… Percebi, já não sei dizer em qual delas, que pretendia contar-me uma história.
“Escritor? Venderia livros?”
- Não!
E seria pouco relevante perceber a língua - retorquiu ele, quando duvidei da minha capacidade de compreensão.
“É bem possível!” E crescia a minha curiosidade.
Perspicaz e poliglota, sem mais demoras, o improvisado contador de histórias desfiou um mar de palavras, gesticulou brevemente, recontou, recitou de cor, por vezes alongando o olhar para esgravatar o fundo da memória… Naveguei à bolina na sua voz. 
Apreendi apenas a melodia daquele mar de fonemas.  
Retive simplesmente a poesia deste encontro.
Agradeceu-me o sorriso: seria paga bastante, mas aceitou, sobre o seu barrete vermelho entre mãos, humilde e grato, modesta paga…
Eu cruzara-me, afinal, com um jovem mercador de coisa nenhuma, que seguiu semeando e colhendo sonhos…


Foto de um outro viajante, em diverso tempo e lugar...

NotaO mercador de coisa nenhuma, de António Torradoé um conto para crianças de todas as idades... 


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