O mundo em que vivemos, como que obedecendo ao “crescei e multiplicai-vos” (embora por vias sem expressão nos índices de natalidade…) não pára de se desenvolver, com reflexos vivos no nosso quotidiano…
Sendo, como sempre, seres eminentemente sociais, temos a família, os amigos, os colegas de trabalho...; os vizinhos do bairro…, os conhecidos…; aqueles que nos atendem no café, na loja, no banco, na repartição…; os que conhecemos numa formação… numa viagem… num encontro de pesca desportiva ou de fotógrafos… Um mundo de relações: barreira erguida contra a solidão.
Há muito que a necessidade de proximidade física - para que a amizade se faça sentir – deixou de ser um imperativo…
Já os nossos avós corriam para atender um telefonema e escutar uma familiar voz sem corpo… E, através da rádio, podiam sentir-se próximos de um locutor auditivamente presente e fisicamente distante que, ontem como hoje, os acompanhava, pronto para os distrair ou informar…
O cinema e a televisão acrescentaram-lhe a imagem, povoando cada vida de vivas companhias virtuais.
Passo a passo... tique-taque, tique-taque... chegámos à era digital. Esta em que os dedos constroem pontes que nos unem... clique-clique, clique-clique..., a partir de teclados de computadores…
Selos… são agora certamente mais raros e caros, na colecção de qualquer dedicado filatelista. É ver os marcos de correio, um após outro, a serem selados e retirados de locais onde se encontravam implantados há décadas…
Viva o e-mail!
Hoje, rapidamente efectuamos uma operação matemática, sem precisar de recorrer à máquina de calcular… fazemos uma pesquisa, sem a loooooonga e penosa consulta de índices de livros apinhados em estantes… Lemos jornais digitais, obras digitalizadas… Visitamos museus e países… Escolhemos e pagamos viagens… Encomendamos vulgares produtos de mercearia... Evitamos a fila e a burocracia das Finanças, para sabermos informações ou pagar impostos… Obtemos certidões: assim a impressora o permita!... Entregamos requerimentos no “Divórcio na hora”… ou peças processuais para tribunais, no Citius. Tudo em nome de nos facilitar a vida e apressar o seu ritmo…
Viva o Google!
De olhos presos num ecrã, alcançamos todos os sítios, sem sair do lugar…
Confinamo-nos, durante horas, a uma sala, quantas vezes isolados e sem nos sentirmos sós…
Porque a WEB, hoje, possibilita-nos criar redes sociais e interagir… O mundo de cada um pode tornar-se infinitamente mais vasto…
Proliferam blogues… sítios como o Flickr… a rádio social last.fm… o hi-5… inúmeros portais para diversos públicos-alvo; simples questão de interesses e escolha…
Vivemos na era do voyeurismo invertido, dizem. Somos nós que nos damos a ver: com fotografia ou avatar, nome verdadeiro ou pseudónimo (mais ou menos criativo), construímos uma identidade, com a qual fazemos amigos. Anonimato e familiaridade.
Dizem também que comentar e ser comentado provoca stress, causa dependência.
Não necessariamente, digo eu. Usar as tecnologias que, por sorte, estão agora à nossa disposição (e que não cessarão de evoluir) só pode trazer efeitos positivos: assim as usemos com sageza. Circular num ambiente digital, onde acabamos por integrar um grupo social, tão restrito quanto alargado, tão próximo quanto distante, não exige passar a ter um dia-a-dia virtual. Do mesmo modo que beber um café ou um copo de vinho não nos torna dependentes… e usar um cartão de crédito nos não endivida…
Fruir da nossa liberdade implica fazer opções. Reflectir, decidir. Saber viver cada experiência com conta, peso e medida...
Um equilíbrio que desejo manter, ao esperar pelo comentário da Teresa, da Elsa, da Ana, da Fernanda, da Judite, do José ou do António..., no meu blogue…; do Antonimus, do Marco Osório, da Luísa, da Margarida, da Lara ou da Aquaviva… ou do Aurelio, da Boram e da Kitty… (amigos da Grande Lisboa, do Porto e de vários continentes…) - no Flickr… Amigos estes (mais aqueles que não citei) desconhecidos-conhecidos que - tão imprescindíveis como os amigos de carne, osso.. e coração... - fazem parte de mim e me acompanham, ensinam, estimulam, fazem crescer… sentir realizada, feliz!...
Companhia. Sem solidão.
7 comentários:
Finalmente... a crónica anunciada.
Esperava algo de diferente, mas fizeste bem em falar dum tema que não pode ser mais actual.
Na verdade é um elogio, mmoderado mas afirmativo, da modernidade e dos tempos que vivemos, que são os nossos.
Convém todavia, estarmos atentos e viver também os amigos e a vida na sua forma mais "tradicional", e não só nesta solidão "acompanhada".
PS. Vê se juntas os teus amigos "desconhecidos" (os de Almada pelo menos) para se comprove que são de carne e osso também...
qualquer pretexto será bem vindo.
Gostei de ler.È sempre co prazer que leio os teus escritos.Estás lá tu...Eu é que ainda não consegui "entranhar" esse mundo virtual que tanto te fascina.E, quanto a mim, nada iguala ou substitui a presença física dos amigos.Tê-los ali... mesmo ao pé...até podem estar calados!Mas sentimos-lhe o "pulsar" da sua real presença.Haverá alguma coisa que se compare?No lo creo! Beijos
Alto lá!... Alguém duvida que eu prefira o contacto físico...? Os olhos nos olhos, a gargalhada, a conversa serena, a caminhada, o cafezinho, o pôr-do-sol...? Mas a verdade é que sinto grande estima por estes bons amigos que conheci assim... E proclamei-o!...
Talvez eu possa encorajar alguém que, neste momento, se sinta só, tendo meios para usufruir desta Web...
Comigo, não se preocupem! Não escrevi com amargura; pelo contrário. E eu não sou solitária!
Solitária??! TU?! Só alguém que te conheça muito mal poderá pensar que és uma solitária, no sentido literal do termo.Ao teu lado,os amigos nascem,crescem, florescem, reproduzem-se.Só não morrem, são eternos.E porque tu os cultivas tão bem,, é impossível estares, alguma vez, sozinha.
Salvé, Manuela!
Que crónica tão bem construída e, sobretudo, inspirada!
Os meus amigos encontram-se em diversos pontos do país. Distantes, mas sempre presentes, no coração, e ligados pelas redes infinitas dos e-mails, dos blogues, dos telemóveis. Viva a tecnologia! Mas só quando ela se encontra ao serviço da humanidade. E não vice-versa!
Hoje nasceu a filha da minha melhor amiga. Soube da novidade via telemóvel... e publiquei no meu blogue um texto dedicado a este acontecimento especial. Um dia que fica registado na minha memória e no espaço virtual.
Que mundo fantástico este dos blogues. Fascina-me!
Mas, claro, nada como viver a vida "lá fora"... sentir um abraço, ouvir uma gargalhada, olhar nos olhos do nosso interlocutor...
Beijinhos virtuais, mas de uma pessoa real :)
Reli o que escreveste sobre uma senhora de oitenta anos. A minha mãe tem noventa e dois e hoje fui vê-la mais uma vez.Ajudei a minha irmã a lavar-lhe a cabeça, a por-lhe creme no corpo, a cortar-lhe as unhas... As feridas do corpo estão a cicatrizar.Não me reconheceu, mas a minha irmã conseguiu pô-la a cantar o hino da sua aldeia bem-amada. E, para mim, ouvi-la,foi sentir um pouco do paraíso na terra. Quis partilhar esta sensação contigo.Por seres minha Amiga.
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