domingo, 13 de setembro de 2009

Leituras de Verão...


Impõe-se um comentário aos livros lidos. E não basta dizer "Gostei" ou, menos ainda, "É bonito" ou coisa do género. Já no Liceu, há muitos, muitos anos, aprendi que não, isso nunca!...
Acontece que não estou a fazer nenhum trabalho escolar e muito menos uma crítica para um qualquer meio de comunicação social... Não se trata de trabalho! Sorte a minha!...

O que irei referir em torno do tema que livremente escolhi é decisão pessoal. Despretensiosa, como sempre. Simples apontamentos.

Questiono-me sobre a intenção com que falo das minhas leituras de Verão: quatro livros que saltaram um tanto ao acaso de entre pesadas pilhas em fila de espera, vendo consumado o paciente e mudo desejo de que chegasse a sua vez. Casualmente, escolhi dois autores portugueses, dois estrangeiros, todos contemporâneos, vivos.

Antes do mais, este meu acto de escrita constitui um momento de síntese sobre as cerca de mil páginas lidas. Não nego igualmente a intenção de, eventualmente, por este meio, colaborar na respectiva divulgação...
Não será essa, afinal, a vocação de um blogue?




A gaiola de ouro, de Shirin Ebadi, explica-nos a História recente do Irão. As Travessuras da menina má, de Mario Vargas Llosa, fala-nos da História recente do Peru.
Se dantes talvez adormecêssemos ao ler os manuais de História, agora temos a oportunidade de saber mais, sem esforço e com prazer...

Ambos os romances tecem uma história que nos prende a atenção e nos ajuda a compreender a política do mundo em que vivemos, enquanto as personagens destes dois romances se movem por entre a ficção, bem assentes na realidade da nossa época, na sua terra.

Mario Vargas Llosa apimenta a narrativa em torno das relações de uma "menina má" e de um "menino bom", deixando o leitor sempre em suspenso, tentando descortinar o surpreendente desfecho daquela inexplicável história de amor... tão particular quanto qualquer outra.

Shirin Ebadi, advogada e activista dos direitos humanos, Nobel da Paz em 2003, adopta uma atitude de denúncia: centra a sua história numa família, cada um dos irmãos seguindo um ideal de vida e um percurso diferente, cada qual preso em seu beco sem saída... como o seu país natal.

Nos romances nacionais, a História não é tema de eleição. Naturalmente.

Manuel Córrego (pseudónimo literário de Manuel Pereira da Costa) é advogado ligado às Letras, por diversas vezes galardoado. O seu livro Vento de Pedra foi distinguido com o prémio literário Ordem de Advogados, 2008.
A ênfase deste seu romance é dada à condição humana, com destaque para a condição feminina, em gerações sucessivas de um passado recente, no norte do país. Muitas histórias se entrelaçam no seu fio condutor. As peripécias sucedem-se e os valores questionados não nos deixam sentir indiferentes. Uma narrativa densa e bem escrita conduzida por narradores que alternam sem aviso, o que nos espicaça a atenção e a curiosidade, até ao inevitável final.

Em No teu deserto, Miguel Sousa Tavares evoca memórias, mais ou menos romanceadas. Relata uma viagem pelo deserto, em que "ele" segue com duas máquinas fotográficas e outra de filmar, em riste, decidido a respeitar o compromisso de fazer reportagens para periódicos e televisão, tendo por companhia, meio acidental, uma jovem com quem con-viveu intensamente um «quase romance».
Surpreendentemente, o desenlace é desvendado logo de início, mas a expectativa não decresce pois as circunstâncias e motivos conservam o seu segredo e a curiosidade acelera, pelo contrário, o ritmo de leitura, na esperança de descobrirmos rapidamente o que falta saber (tanto mais que o livro é curto... e se lê bem...)

Quatro livros, quatro convites à leitura:
  • Córrego, Manuel, Vento de Pedra, Sopa de Letras, 2008
  • Ebadi, Shirin, A gaiola de ouro, A Esfera dos Livros, 2009
  • Llosa, Mario Vargas, Travessuras da menina má, Dom Quixote, 2006
  • Tavares, Miguel Sousa, No teu deserto, Oficina do Livro, 2009
Pessoalmente, não saberei aconselhar qual deles não perder... nem por qual começar...
A cada um, a sua livre opção. Fruto do acaso ou da vontade.

1 comentário:

Joaquim Chaves disse...

Pessoalmente e depois de ler os comentários isentos e muito bem estruturados, escolheria o livro do Miguel, para uma leitura ligeira e descontraída. O do Manuel, para uma análise mais concentrada, mesmo um exercício inteligível. O da Shirin para aquelas alturas em que estou bem disposto e folgado para os problemas sociais do mundo. Finalmente o do Mário para uma leitura apimentada e afrodisíaca.
Leituras para todos os gostos e estados de alma. Porque a leitura de um livro depende do tempo e do modo. Do nosso modo de sentir, do tempo e do espaço disponível. A leitura de um livro é como a ocasião e o momento para beber um bom vinho. Temos que ter em conta o sentido ou o momento, a temperatura, o acompanhamento e mais que tudo a companhia ou a ausência dela. Não tenho cultura literária nem enóloga, mas sei apreciar o que é bom! Boas leituras!
“Depende do ocaso e da vontade.”