e a sombra dos verdes castanheiros,
o manso caminhar destes ribeiros,
donde toda a tristeza se desterra;
o rouco som do mar, a estranha terra,
o esconder do sol pelos outeiros,
o recolher dos gados derradeiros,
das nuvens pelo ar a branda guerra;
enfim, tudo o que a rara natureza
com tanta variedade nos ofrece,
se está (se não te vejo) magoando.
Sem ti, tudo m' enoja e m' avorrece;
sem ti, perpetuamente estou passando
nas mores alegrias, mores tristezas.
Luís de Camões, Sonetos
«Olá, guardador de rebanhos,
Aí à beira da estrada,
Que te diz o vento que passa?»
«Que é vento, e que passa,
E que já passou antes,
E que passará depois.
E a ti o que te diz?»
«Muita coisa mais do que isso,
Fala-me de muitas outras coisas.
De memórias e de saudades
E de coisas que nunca foram.»
«Nunca ouviste passar o vento.
O vento só fala do vento.
O que lhe ouviste foi mentira,
E a mentira está em ti.»
Fernando Pessoa/ Alberto Caeiro
MAR
I
De todos os cantos do mundo
Amo com um amor mais forte e mais profundo
Aquela praia extasiada e nua,
Onde me uni ao mar, ao vento e à lua.
II
Cheiro a terra as árvores e o vento
Que a Primavera enche de perfumes
Mas neles só quero e só procuro
A selvagem exalação das ondas
Subindo para os astros como um grito puro.
Sophia de Mello Breyner Andresen, Poesia, Caminho
Perante nós o oceano.
Imensos, inexplorados, os caminhos.
Barco sem leme, sem velas, sem quilha. Sem
remos.
Devagar. Mas seguramente. Lá iremos
Myriam Jubilot de Carvalho, E no fim era a poesia, Vega
Separador de texto retirado da NET.