Ferragudo. Agosto. Tarde de sol tórrido. Raros se atrevem a mergulhar no rio Arade. Maré cheia, águas relativamente límpidas, mas as sujas margens desaconselham o banho apetecido. Que calor!
Um beco sem saída desemboca num pontão junto à foz do rio. Em frente, o mar. Na outra margem, Portimão.
A placa é clara: trânsito proíbido, excepto a residentes. Escassos veículos ousam a transgressão. Apenas peões se permitem aí sentir a brisa do Oceano, talvez pescar... ou simplesmente sentarem-se numa das esplanadas, beber uma água fresca ou tomar uma refeição, ainda que a desoras... De facto, as convidativas mesas estão sempre postas. Em enormes grelhadores, as brasas ardem em permanência, prontas para saborosos petiscos. Quanto calor!
Nesta latitude, Agosto é sinónimo de Verão. Agosto é praia. Mar, sal e sol. Costa de braços abertos para todo um país em férias. Para os nossos emigrantes que voltam, ano a ano. E não só: também para um bom punhado de espanhóis, ingleses e demais turistas "multinacionais"...
Quem inventou Agosto povoou cada pequena baía, fazendo crescer infinitamente uma antiga aldeia de pescadores... Encheu as arribas de casas que em Agosto abrem janelas e estendem toalhas salgadas ao sol...
Quem inventou Agosto engarrafou com filas de carros cada caminho que desemboca numa praia, para alegria de quem tem de trabalhar na grande cidade, mais a norte... Não a sul.
Gente, gente, gente... Calor!...
Quem inventou Agosto treinou a paciência de quem conduz e procura estacionar um automóvel... ou a de quem aguarda pacientemente ser atendido numa qualquer fila, em pastelaria, restaurante, minimercado, farmácia ou correio... suportando o calor. A custo.
Tudo sem importância quando finalmente se estende a toalha no areal e se mergulha na praia. Frescura!...
Agosto inventado, tem vencimento extra. Saldos. Passeios. Convívio. Tempo livre. Repouso. Preguiça subsidiada. Que o calor amplia.
«Quem inventou o mês de Agosto?!» foi uma pergunta que não espelhava alegria. Pelo contrário, soava a interjeição de grande desânimo. Quem assim falava era a empregada de mesa de um daqueles restaurantes, enquanto repunha uma mesa pela enésima, digo, pela milionésima vez, naquele tórrido dia de Agosto, sentindo o cansaço de um dia, aliás, de todo um mês que nunca mais chegava ao fim.
Com a fadiga de quem trabalha para proporcionar férias a quem as pode gozar.
Talvez ela suspire hoje de alívio, agora que as auto-estradas já registaram a avalanche do regresso a casa.
Talvez a Economia tenha sido relançada, assim esperamos! Mas provavelmente tal não trará grande reflexo para as suas magras finanças...
Para a «história» ficarão o sabor a mar, as recordações e as fotografias dos veraneantes. O calendário aguardando o próximo Estio. O desejo de regressar.